Essa é a pergunta que não quer calar... Por que uma ministra influente, respeitada pela imensa maioria dos brasileiros, considerada referência de caráter, saiu? Bom, os jornais dizem que ela não foi apoiada pelo próprio governo; alguns dizem que perdeu apoio do presidente; outros ainda dizem que sua defesa intransigente da natureza não era desejada, haja vista os interesses escusos de desmatadores da amazônia que subornam prefeitos e governadores.
As declarações de Marina chocavam-se com declarações do Ministério da Agricultura e de Minas e Energia, por exemplo. Marina estava complicando a criação da hidrelétrica do Rio Madeira e outros projetos que prescisavam do aval dela e das licenças ambientais de seu Ministério.
Ela sofreu derrotas, pois os trangênicos estão liberados (ela era contra); a hidrelétrica do Madeira está funcionando e o desmatamento continua. Mas todos reconhecem que ela deu o alerta e lutou com determinação contra isso.
Embora poupasse o presidente, Marina declarou que não estava conseguindo agregar forças para promover as mudanças necessárias em favor do meio ambiente. Ela pediu demissão, Lula aceitou; ela não agüentou tanta pressão, Lula também.
Agora eu que sou cidadão deste país sei que muitas coisas acontecem nos bastidores e me pergunto: Será que o fato da ministra ser criacionista não fez uma "pressão subliminar" para sua demissão? Eu simplesmente achei muito estranho ela se sentir tão despreparada para agregar as forças em favor do seu Ministério. Achei estranho que tudo isso aconteceu depois das declarações criacionistas dela no Centro Universitário Adventista (Unasp), Engenheiro Coelho. Declarações que apareceram nos grandes jornais do país, acompanhadas de críticas azedas à opinião pessoal da ministra.
Se você considera que muitos cientistas perderam cargos em revistas científicas e em laboratórios importantes simplesmente por crerem na Criação, minha suposição maluca não é tão maluca assim. Isso nunca vai aparecer no jornal, mas pode crer, uma ministra não se demite do nada. As dificuldades aumentaram, e muito, depois das declarações criacionistas. Considerando a "inquisição sem fogueira" da qual fala o professor Enézio, pode bem ser verdade que a postura criacionista da ministra levou várias forças "desagregarem" contra ela.
Mas, mesmo a mídia evolucionista lamentou a saída da ministra. Isso porque ela sempre foi exemplar em seu trabalho, foi exemplar em sua conduta de fé (pois crê em Deus e em Sua criação), foi exemplar em favor da democracia, pois defendeu o direito de as escolas enviarem duas versões dum assunto polêmico.
Só posso desejar sucesso à ministra, ao Brasil e à liberdade acadêmica de que tanto precisamos.
(Silvio Motta Costa é professor em Campinas, SP)