A revista Veja da semana passada aparentemente abraçou a causa que visa a combater o sofrimento dos animais de corte. Não é bem assim... mas, de qualquer forma, a matéria chama atenção para uma realidade até então denunciada quase que exclusivamente por ONGs e outras entidades (algumas bem sensacionalistas e polêmicas, como a Peta, outras mais sérias, como o holandês Party for the Animals, dirigido pela adventista Marianne Thieme, e o brasileiro Instituto Nina Rosa). Diz o texto de Veja: “Uma lei aprovada nos Estados Unidos há dois meses dá sinais de que está em curso uma mudança nas relações dos seres humanos com os animais. Ela determina que os frangos criados no estado de Ohio tenham um mínimo de espaço para abrir as asas e ciscar o chão. A lei pode parecer excêntrica – afinal, esses são comportamentos instintivos da espécie. Ocorre que em toda granja avícola moderna os frangos são confinados em lugares apertados, sem espaço para se movimentar. As galinhas poedeiras permanecem espremidas em gaiolas e, frequentemente, têm o bico cortado para não se bicarem. A União Europeia se sensibilizou com o assunto e quer abolir o uso de gaiolas na criação de frangos e galinhas a partir de 2012. Pretende também eliminar uma prática largamente adotada na criação de suínos – o isolamento das fêmeas gestantes em cubículos onde elas não podem se mexer.
“Medidas como essas são exemplos recentes de como o mundo têm voltado os olhos para o bem-estar dos animais. Leis que os protegem existem desde a Inglaterra vitoriana quando se proibiu a tosquia de ovelhas arrancando-se o pelo com as mãos. O movimento em defesa dos animais que agora toma corpo, no entanto, têm alcance planetário. Ele é resultado da criação em escala industrial de aves, bovinos e suínos, iniciada a partir de meados do século XX com o advento de novas tecnologias e avanços científicos nos processos de alimentação animal e nas vacinas. O preço do aumento na produtividade das fazendas foi a submissão dos animais a uma série de procedimentos que lhes causam sofrimento. O que as entidades defensoras dos animais alegam – e seus argumentos têm convencido governos e cidadãos – é que boa parte desses maus tratos pode ser evitada. [...]
“Uma das carnes mais apreciadas pelos gourmets americanos é a de vitelo. Seu consumo caiu drasticamente em meados desta década depois que se tornou público que, para produzir essa carne branca e macia, os bezerros são separados da mãe pouco depois do nascimento e confinados em cubículos minúsculos onde não conseguem se mexer. Há três anos, o órgão americano que regula a criação de vitelos anunciou o fim desse confinamento cruel para 2017. Na mira dos defensores dos direitos dos animais estão também os produtores de patê de foie gras, iguaria caríssima feita com fígado de ganso. Para produzi-la, as aves são alimentadas à força pela goela para que seu fígado inche e se torne mais gorduroso. A Califórnia já proibiu esse procedimento. [...]
“No Brasil, a única regulamentação obrigatória que contempla os direitos dos animais – criada em 2000 – diz respeito ao abate de bois, porcos, carneiros e aves. Eles devem ser sedados com métodos como as pistolas pneumáticas ou choques elétricos antes de ser mortos. No momento, o Ministério da Agricultura prepara um pacote de recomendações que visam ao bem-estar dos animais de corte. Esses procedimentos, que amenizam seu sortimento, são necessários justamente para atender às exigências dos países europeus que importam a carne brasileira. [...]”
Nota: Se o aspecto da saúde já não bastasse para se abrir mão da dieta cárnea, o sofrimento a que os animais de abate são submetidos deve ajudar ainda mais nessa tomada de decisão. Nosso estômago e paladar não são tão importantes a ponto de fazermos criaturas indefesas sofrer tanto. Está mais que provado que (inicialmente) a dieta ovo-lacto-vegetariana (usando-se, de preferência, ovos caipiras) é mais barata e saudável, sem contar o fato de que agride menos a natureza, já que com menos terra e água se produzem mais grãos do que gado. Por respeito à nossa saúde e à vida dos animais, deveríamos pensar seriamente nessa questão – e não amenizar o sofrimento dos bichos apenas para garantir que continuemos ganhando dinheiro com a exportação da carne deles.[MB]
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