Sentado no gabinete do neurocirurgião Ben Carson, diretor de neurocirurgia pediátrica no Hospital Johns Hopkins em Baltimore, Maryland, em conversa com ele, acabamos entrando no assunto da evolução e da origem. Ao interagirmos um com outro entre os eruditos volumes da estante e o moderno equipamento tecnológico sobre a escrivaninha, pareceu apropriado pensar sobre quem somos e de onde viemos. [O Dr. Carson é considerado um dos maiores neurocirurgiões do mundo, cuja história de vida tem servido de inspiração para muitas pessoas ao redor do mundo. Se quiser conhecer mais sobre esse grande cientista, leia o livro Ben Carson e assista ao filme “Mãos Talentosas”.]
Dr. Carson: Considere, por exemplo, este computador: Se você entrasse nesta sala e visse o computador, não pensaria que ele simplesmente apareceu. Ele não surgiu ao acaso.
Por que tantas pessoas preferem crer na formação ao acaso do Universo – e da vida em si? Em outras palavras, por que o assunto da evolução é tão importante?
Dr. Carson: Acaba sendo uma questão de propriedade. Quem é o proprietário do Universo? Quem é o proprietário da Terra? Quem é o proprietário da nossa vida? Quem acredita na evolução, e em uma explicação naturalista do Universo, basicamente vê a si mesmo como proprietário do fim – como o criador e fonte máxima de autoridade. Desse modo, essas pessoas não respondem a nada e a ninguém, pois não existe nada mais elevado do que elas mesmas.
Como isso acontece? Quais são as consequências de aceitar a opinião evolucionista da origem do ser humano? Como isso afeta a sociedade e a maneira como vemos a nós mesmos?
Dr. Carson: Crendo que somos o produto de “atos do acaso”, eliminamos a moralidade e o fundamento do comportamento ético. Pois, se não existe tal coisa como autoridade moral, podemos fazer o que quisermos. Todas as coisas se tornam relativas e não há razão para nenhum de nossos valores mais elevados.
Se somos produto do acaso, um sortimento de átomos ao acaso, vivendo em um universo determinístico que é simplesmente a consequência de interações físicas, isso tudo não parece futilidade?
Dr. Carson: Sim. Ao educar-me tive que aprender a teoria evolucionista, e como cristão que teme a Deus fiquei imaginando como fazer Deus e a evolução se entrosarem. A verdade é que não podemos fazê-los se entrosar; temos que escolher um ou o outro.
Muitos cristãos têm se dedicado demasiadamente à “ciência”, admitindo não só os dados observados, mas também as interpretações antiteístas. Você é questionado com frequência a respeito de ser um cientista lógico e um cristão?
Dr. Carson: Sim. Minha resposta é que quanto mais se entende a ciência, menos se acredita que tudo isso foi um acidente! Considere o cérebro, por exemplo, com seus bilhões de neurônios, centenas de bilhões de conexões e como se lembra de todas as coisas que já viu e ouviu.
Todas as coisas? Esta não parece uma descrição correta, pelo menos não do meu cérebro. Estou sempre me esquecendo das coisas...
Dr. Carson: Ponha uma sonda no hipocampo de um homem de 80 anos de idade e ele lhe contará as palavras textuais de um livro que leu 60 anos atrás. Esse é um órgão extremamente complexo e sofisticado; não o resultado de processos ao acaso.
Nem mesmo em menor grau?
Dr. Carson: Ainda que se permita a formação de uma única célula. E um organismo de uma única célula também é surpreendentemente complexo – as membranas, o núcleo, os nucléolos, a mitocôndria... Além disso, favorecemos demais os evolucionistas se começarmos com uma única célula. Procure começar com substâncias inertes!
Apenas suponhamos que tivéssemos aquela primeira célula?
Dr. Carson: Mesmo que você aceitasse a teoria evolucionista – desenvolvendo um organismo mais sofisticado nessa maneira teoricamente “lógica”, então deveria haver um continuum de organismos. E por que a evolução se desviou em tantas direções – aves, peixes, elefantes, primatas, seres humanos – se há alguma força evoluindo ao máximo? Por que não são todas as coisas um ser humano – um ser humano superior? Darwin declarou especificamente que sua teoria se baseava na descoberta de formas intermediárias, e tinha certeza de que nós as encontraríamos. Mais de cem anos depois ainda não as encontramos. Mesmo os mais primitivos fósseis não mostram tais intermediários.
Considere o simples caso do primata para o ser humano. Deveria ser fácil encontrar uma abundância de restos fósseis sendo que, de acordo com a teoria evolucionista, essa é a mais recente transição. Se podemos encontrar tantos fósseis de dinossauros, os quais são muito mais antigos no esquema evolucionista, deveríamos ter amplas evidências de intermediários entre os primatas e os humanos. Mas não temos. Temos muito poucos supostos intermediários – como “Lucy”, baseada na extravagante reconstrução com muito enchimento. Atualmente temos pessoas com significativas anormalidades congênitas cujos restos do esqueleto pareceriam um elo desaparecido. Por isso, “Lucy” não comprova o caso, e poderia haver inúmeras “Lucys” se a transição dos primatas para os humanos fosse verdadeira.
Há, também, todo o assunto dos organismos irredutivelmente complexos – a ideia de que todas as coisas precisam estar presentes de uma vez para que ele funcione. Como poderiam todos os itens complexos evoluir simultaneamente, como no olho, por exemplo?
Os muitos cientistas que discordam das suas opiniões lhe preocupariam? Afinal, 99 por cento poderá dizer que você está errado!
Dr. Carson: Antes de Darwin, a maioria dos cientistas era cristã. Mesmo Darwin foi criado como cristão, mas ficou amargurado. Propôs-se então a provar outra explicação para a vida. Devo dar a esse homem algum crédito: ele foi um grande observador. Nas ilhas Galápagos, ele encontrou tentilhões de bico forte, capaz de quebrar sementes duras. Descobriu também iguanas e tartarugas com diferentes adaptações. Portanto, concluiu que esses organismos estavam evoluindo, e ele estava correto em termos de microevolução – adaptação ao ambiente. Imagine se você só pudesse se alimentar se conseguisse encestar uma bola de basquete...
Jogadores de basquete evoluindo?
Dr. Carson: Somente pessoas altas seriam alimentadas e sobreviveriam. Eles transmitiriam seu gene de altura aos seus descendentes. Isso é evolução ou adaptação? Obviamente a última alternativa. Mas evolução significa que um organismo finalmente se transforma em outro bem diferente, e não existe evidência de tal transformação. Deus admitiu a adaptação, que fala de um Criador maravilhoso que concedeu a Suas criaturas uma estrutura genética flexível o suficiente para se adaptar. Mas isso não é evolução.
Considere também a complexidade do Universo. O telescópio Hubble nos revelou muito mais. Mas nossa galáxia é apenas um pequeno ponto no imenso esquema do Universo, e existe muito mais além do que conhecemos. Mesmo em nosso próprio Sistema Solar – estamos a 93 milhões de milhas do Sol. Se estivéssemos a 92 milhões de milhas, estaríamos incinerados; se a 94 milhões de milhas, estaríamos congelados. É demais! Tudo é extraordinariamente organizado com tanta complexidade. Como pode isso acontecer?
Depois considere as opiniões sobre a origem do Universo. Os cientistas falam sobre a segunda lei da termodinâmica, que declara que todas as coisas tendem a um estado de desorganização.
Então como poderia nosso Universo incrivelmente organizado surgir como resultado de uma grande explosão? Isso bate frontalmente com a segunda lei, que declara que como resultado ele seria menos organizado, não mais! Os cientistas precisam ser coerentes.
Agora uns poucos pensamentos conclusivos.
Dr. Carson: Finalmente, se você aceitar a teoria da evolução, despedirá a ética, não precisará defender um conjunto de códigos morais e determinará sua própria consciência baseada nos próprios desejos. Não terá razão nenhuma para coisas como amor altruísta, quando um pai mergulha para salvar um filho de se afogar. Poderá jogar fora a Bíblia como algo irrelevante, apenas fábulas tolas, pois você crê que ela não se harmoniza com o pensamento científico. Você poderá ser como Lúcifer, que disse: “Serei semelhante ao Altíssimo.”
Você pode provar a evolução? Não. Pode provar a Criação? Não. Pode usar o intelecto concedido por Deus para decidir se alguma coisa é lógica ou ilógica? Sim, absolutamente. Tudo se resume na “fé” – e eu não tenho o suficiente para crer na evolução. Sou uma pessoa lógica demais!
(Adventist Review)