quarta-feira, setembro 29, 2010

Catequização evolucionista na Paraíba

Você, professor de ciências (ou de biologia), está em sala de aula e se depara com uma questão: um aluno discorda da exposição sobre evolução e as ideias de Darwin e faz uma pergunta relacionada à Bíblia e a ideias criacionistas. Você está munido de argumentos científicos, mas simplesmente não consegue separar o aluno de sua crença (e nem consegue se separar da sua). Situação difícil, mas bem mais corriqueira do que se gostaria. A surpresa, talvez não tão corriqueira assim, foi o estudo realizado por nove alunos de graduação em biologia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) no ano passado – não à toa, aliás, ano da comemoração dos 200 anos do nascimento de Charles Darwin. A pesquisa, publicada no periódico Genética na Escola, encontrou um dado extra que choca: cerca de dois a cinco alunos de cada turma (em média, de 40 alunos) de ciências biológicas da UEPB afirmam ser criacionistas.

O texto diz: “[Esses alunos] são seguidores de doutrinas religiosas que interpretam literalmente o texto bíblico [...], duvidando das teorias evolutivas por serem, como dizem, ‘apenas teorias’.” Ou seja, além da constatação óbvia de que há problemas na formação dos alunos nas escolas, os pesquisadores da UEPB perceberam que, mesmo entre seus pares na graduação, há problemas sérios de aceitação de certas informações.

“Na universidade, nem sempre somos incentivados a interpretar a poesia da vida. Há um debate polarizado e socrático, com torcidas organizadas. É uma pena”, diz Allysson Allan de Farias, um dos alunos que participaram da pesquisa. Allysson, que se formou biólogo ano passado, continua: “Nós enxergamos todas essas defasagens no nosso estado [Paraíba] e resolvemos fazer alguma coisa a respeito. Resolvemos envolver graduandos, alunos de escolas, professores do ensino médio e, por meio de um processo coletivo, falar sobre evolução e Darwin.”

O que o grupo de Allyson fez? Chamou 250 graduandos da UEPB, procurou oito escolas públicas de Campina Grande (PB), envolveu 800 alunos de ensino médio e propôs a ação: era hora de entender Darwin, sem preconceito (de lado a lado). Todo esse processo é descrito no texto para a Genética na Escola, que relata:

Entender o contexto da descoberta e as influências socioeconômicas nas quais as teorias científicas surgem é imprescindível para que o cidadão desenvolva uma perspectiva menos idealizada da ciência. Charles Darwin não era nem herói e nem vilão, apenas um indivíduo como tantos outros que queria compreender como as espécies surgiram e se diversificaram ao longo do tempo.

Para atingir o objetivo, os estudantes-líderes do projeto, junto à UEPB, realizaram exposições científicas nas escolas selecionadas, empregaram alguns livros nas salas de aula do ensino médio e criaram, até, um Cordel do Darwin. [...]

(Ciência Hoje)

Nota: Por que toda essa preocupação com a teoria da evolução? Será que a compreensão dos alunos com respeito à teoria da relatividade, por exemplo, também será alvo da preocupação dos físicos? Encontrar alunos que discordem da teoria da evolução é tão grave assim? É proibido, então, discordar do naturalismo darwinista que posa de ciência? Quem disse que macroevolução é sinônimo de ciência? E que criacionismo é tão-somente religião? E se os criacionistas reivindicassem espaço nas escolas públicas para apresentar sua cosmovisão? Qual seria a reação? Nem é preciso responder, não é mesmo? O que esses nove alunos da UEPB fizeram foi verdadeiramente uma catequização evolucionista; “trabalho missionário” bem-sucedido que levou muitas crianças a adorar o “maior cientista de todos os tempos”: Charles Robert Darwin.[MB]