segunda-feira, setembro 20, 2010

O povo tem memória curta e a mídia quase não ajuda

1. Por que a mídia tem grande poder de influir na opinião pública?

Primeiro, porque muitos jornalistas, editores e donos de meios de comunicação sabem exatamente como utilizar os mecanismos de controle de opinião pública e se valem desse expediente para se beneficiar ou promover seus interesses. Segundo, porque o povo desconhece o processo de preparo da notícia, a hierarquização de assuntos e os diversos vieses que uma pauta pode ter, e assume que o que é veiculado é a pura verdade. Poucas pessoas vão atrás do aprofundamento da informação, lendo, comparando, criticando. Terceiro, porque nossa população não é estimulada a desenvolver a visão crítica.

2. A mídia falha em muitas vezes não dar continuidade na cobertura dos fatos que pressupõe ser irrelevantes?

Na ânsia por divulgar o novo, o inusitado, sem dúvida existe essa falha de não se acompanhar o desdobramento dos fatos. Como se diz que o povo tem memória curta, a imprensa deveria assumir o papel de instrumento de recordação, recapitulando histórias e cruzando informações. De vez em quando, isso até é feito, mas a dinâmica do fazer jornalístico impõe uma velocidade e uma fugacidade às notícias que o que hoje é relevante e está nas telas e páginas de todo o país, amanhã pode ser banido para a vala comum das informações ultrapassadas. Cria-se a falsa impressão de que somente o aqui e agora é que tem importância jornalística, quando a coisa não é bem assim.

3. Os veículos de comunicação revelam acontecimentos bombásticos e a população se indigna, mas quando a mídia deixa de dar relevância ao fato, automaticamente eles esquecem? Por que este fenômeno acontece na sociedade em geral?

Porque vivemos a cultura do espetáculo. A mesma pessoa que fica indignada com os desmandos da política, poucos minutos depois de assistir ao telejornal, vai derramar lágrimas com sua novela preferida. Na mente rasa de muitos telespectadores, tudo se trata de um espetáculo montado para entretê-los. A vida é um show, é o circo. E a nós, espectadores passivos, cabe o papel de apenas sentar, assistir, se emocionar e depois ir para a cama, prontos para um novo dia. Vivemos sempre à espera do próximo “espetáculo” e quando ele explode em nossas telas, concluímos: “Que horror! Mas, tudo bem, o mundo continua o mesmo.” E seguimos a vida. As informações que obtemos deveriam nos ajudar a refletir e a tomar decisões, e não apenas nos fazer passar o tempo, manipulando nossas emoções e, depois, nos anestesiando.

(Entrevista feita com o jornalista Michelson Borges pela estudante de Jornalismo do Unasp Tatiane Virmes)