O renomado físico norte-americano Lawrence M. Krauss, da Universidade do Estado do Arizona (Estados Unidos), tem se destacado não só por sua pesquisa teórica, mas também por ser severo crítico da ignorância – palavras dele – promovida pela religião. Publicou recentemente, na Scientific American, belo comentário sobre a estranha atitude da Fundação Norte-americana para a Ciência (NSF, na sigla em inglês) de retirar, de um tradicional questionário bienal, questões que contrapõem religião e ciência. Na verdade, conta Krauss, as perguntas da seção foram feitas, mas não divulgadas. Porém, as respostas parecem ter vazado para a revista Science, que publicou um quadro geral sobre elas. Exemplos: nos Estados Unidos, só 45% das pessoas acreditam que os humanos se desenvolveram de espécies anteriores de animais (78% no Japão; 70% na Europa; 69% na China; 64% na Coreia do Sul). Cerca de um terço dos adultos norte-americanos crê que o homem e outros seres vivos sempre existiram na forma que têm atualmente.
Krauss comenta que o questionário da NSF tem mostrado, com mais intensidade nos últimos anos, que os adultos naquele país estão menos desejosos em aceitar, por exemplo, a evolução e o Big Bang como fatos, quando comparados a adultos de outros países.
Poderia ser mais uma crítica ao modo como pessoas religiosas são levadas, por suas crenças, a escolher entre mito e realidade. Mas o físico teórico espeta também a própria NSF, alegando que a atitude de “esconder” como a religião semeia ignorância é (ainda) tabu.
Ele finaliza o comentário relatando outros conflitos recentes entre essas duas searas: uma freira excomungada por um bispo no Texas porque autorizou o aborto de uma mulher de 27 anos, mãe de quatro filhos, que corria risco de morte caso seguisse com a gravidez.
Sobram, para o religioso, palavras duras: “Geralmente, um homem que, sem piedade, deixa uma mãe morrer e torna os filhos dela órfãos deveria ser chamado monstro; e isso não deveria ser diferente porque ele é um clérigo.”
Outro conflito: um candidato do Alabama que, depois de ser atacado pela União Estadual dos Professores pelo fato de defender o ensino da evolução, negou ter apoiado a inclusão do tema em sala da aula, por temer por seu futuro político.
“Se não estivermos dispostos a denunciar a ignorância religiosa em qualquer lugar em que ela surja, encorajaremos políticas públicas irracionais e promoveremos a ignorância em detrimento da educação de nossas crianças.”
(Ciência Hoje)
Nota: Krauss comete o erro banal de confundir darwinismo com ciência, assim como há aqueles que confundem catolicismo com cristianismo. Parece que a posição dele deriva do desespero de constatar que, a despeito de mais de um século e meio de esforço naturalista para banir o criacionismo, ele continua vivo e forte. O físico também incorre no mesmo erro típico de Dawkins et caterva: toma a parte pelo todo, ou seja, julga todos os religiosos pela atitude de uma freira e um político. Vamos julgar a ciência por seus impostores? Claro que não. Na verdade, concordo com Krauss: a ignorância deve ser exposta e combatida – mas não apenas a religiosa. Pergunte aos darwinistas se eles estão familiarizados com a discussão filosófica que envolve a controvérsia sobre as origens. Pergunte a Dawkins se ele está disposto a discutir publicamente com teóricos do design inteligente ou criacionistas. Pergunte se a grande imprensa está disposta a dar espaço para a exposição dos argumentos contrários à posição evolucionista. Pergunte se há professores capacitados a expor um darwinismo crítico nas escolas. Pergunte se os livros-texto de biologia contemplam as insuficiências epistêmicas do evolucionismo. Krauss também parece ignorar o fato de que muitos professores universitários temem revelar sua opção pelo criacionismo ou pelo design inteligente justamente para não perder o emprego ou não arranhar a carreira. A ignorância de Lawrence M. Krauss também deveria ser exposta.[MB]