domingo, setembro 12, 2010

"Os ateus e o mal", um arrazoado

Não é de hoje que eu penso que Datena é para o jornalismo o que Hugo Chavez representa para a democracia ou Ahmadinejad para o humanismo. Entretanto, dada a boçalidade de sua última cabriolada [clique aqui], cheguei a julgá-lo um ateu em pele de religioso, como um palmeirense autodeclarado corintiano e assim vestido para prejudicar o timão perante o SJTD, pensamento logo descartado porque a totalidade de sinapses do apresentador pouco ultrapassa o mínimo necessário para a manutenção de suas funções vitais - que dirá forjar uma tal artimanha! Essa correlação religiosidade-comportamento (por alguns avaliada como relação causa-efeito) costuma esconder algumas cascas de banana nas quais escorregam tanto singularidades toscas como Datena quanto catedráticos afamados, como Dawkins, Hitchens e Harris. É lógico que eu não perguntaria que dia da semana é hoje a alguns pretensos cristãos, da mesma forma que, ao contrário, confiaria minha senha bancária a certos amigos ateus - pelo menos enquanto esses mantiverem por superego a carranca desconfiada de tipos como o apresentador da Band (rs).

A pedra angular dessa questão é justamente o termo acima, "pretenso". Como "a sabedoria se justifica por seus filhos", muitos tomam o Cristianismo por catolicismo, o comportamento dos fiéis católicos pelas diabruras e diabices de sua cúpula, Francisco de Assis por Torquemada, e por aí vai. Isso me parece, contudo, diversionismo. Datena, bisonho de doer, levantou uma bola perfeita para o campo de ataque adversário (adversário?) e [articulistas ateus como Hélio Schwartsman], sem qualquer esforço, uma cortada bem na testa do religioso que nada tinha a ver com a datenice, e agora, ainda zonzo, corre para se ajoelhar no milho e fazer um mea culpa coletivo, como um soldado israelense que sem querer acertasse um teco no cocoruto de um palestino que passava a oito quadras do confronto.

Certo, a cereja do bolo é mesmo a pixotada jurídica (e moral) da Cúria Metropolitana de São Paulo [conforme menciona Schwartsman em seu artigo na Folha]. Café pequeno para quem promove a anarquia ao paternalizar facínoras abrigados sob o manto de movimentos sociais, ou, monstruosidade de nazistas, está subordinada a uma hierarquia que acoberta molestadores de crianças. Pobres de nós, protestantes, católicos e judeus sinceros, que acordamos cedo nos fins-de-semana (ainda é escuro) para dedicarmos parcelas significativas dos nossos recursos materiais e laborais a fim de mitigar, ainda que um pouquinho, as mazelas deste mundo lascado.

Um brinde a Datena. Cada lado da porfia aproveita a seu modo os frutos de sua incontinência. Nós por aqui seremos mais judiciosos ante as insuficiências morais e intelectuais de alguns das nossas hostes, embora essa batalha seja apenas escaramuça em relação à magnitude do confronto.

(Marco Dourado, analista de sistemas formado pela UnB, com especialização em Administração em Banco de Dados)