A
matéria de capa da revista Veja desta
semana (a semanal que mais defende o darwinismo em terras tupiniquins e nunca vai atrás de fontes teístas/criacionistas)
afirma que a paixão, a atração e o amor que aproximam e unem casais humanos
tiveram origem com nossos ancestrais pré-históricos na luta por preservar sua
tão preciosa herança genética. Assim, a escolha de parceiros para dividir um
teto obedece aos ditames da evolução que teria moldado nossos comportamentos ao
longo dos supostos milhões de anos. A mulher tem que ter cintura fina
(evidência de que não está grávida de outro) e o homem precisa ser alto e ter
costas largas, o que indica ser um bom protetor para a fêmea e sua prole. O
rosto, à semelhança da cauda do pavão, tem que ser simétrico e bonito, o que
revelaria ausência de doenças. Além disso, a seleção natural garantiu que os
mais fiéis, monogâmicos sobrevivessem e se tornassem predominantes, já que os muito
dados a aventuras e relacionamentos casuais não estariam presentes para
proteger seus herdeiros. Assim, o bicho homem viveria o eterno dilema de
defender seu patrimônio genético garantindo a exclusividade sexual com sua
parceira, ao passo que no mais profundo de seus genes estaria escondida a
vontade, o desejo, o imperativo (chame do que quiser) de espalhar seus genes
por aí (o adultério darwinisticamente justificado).
Dependendo do momento ou da situação apresentada, a psicologia darwinista (a
velha teoria-explica-tudo) tira da manga a “explicação” que melhor lhe convém.
Com
essas “explicações” que remontam (sempre) à caverna, sentimentos nobres como o
amor são “diluídos” e transformados em simples reações bioquímicas num cérebro
pouco superior ao dos macacos. O casamento? Mera convenção social. Nada de
instituição edênica e muito menos sagrada. O darwinismo não é apenas uma
hipótese científica. Quando extrapola os domínios do que é observável e
cientificamente aceitável (como a seleção natural e a diversificação de baixo
nível [microevolução], por exemplo), torna-se uma ideia metafísica capaz de
desconstruir a cosmovisão judaico-cristã segundo a qual fomos criados num
jardim (não numa poça de lama), qualitativamente superiores aos nossos
companheiros de planeta (não somos apenas animais racionais) e dotados de
sentimentos nobres capazes de nos aproximar uns dos outros em relações
orientadas pelo respeito e pelo amor. A sexualidade e a família são presentes
do Criador, não “efeitos colaterais” de uma evolução cega.
Lamentavelmente,
a hipótese evolutiva tem aceitação garantida em praticamente qualquer área do
conhecimento, devido ao fato de o naturalismo filosófico impedir qualquer
menção ao sobrenatural. Dois exemplos: (1) quando comecei meu curso de
jornalismo na UFSC, numa das primeiras aulas de Teoria da Comunicação, o
professor começou afirmando que a fala teve origem nas cavernas pré-históricas,
quando nossos supostos ancestrais grunhiam para se comunicar; depois, para
reforçar a doutrinação, ele nos fez assistir ao filme A Guerra do Fogo; (2)
minha esposa, numa das primeiras aulas de História da Educação (também numa
faculdade secular), ouviu o professor explicar que as primeiras relações
sociais humanas tiveram origem numa caverna, ao redor de uma fogueira.
Esse
conto darwinista é tão contado e recontado que, para eles (os que se recusam a
admitir que possa haver outra cosmovisão mais abrangente ou que simplesmente
ignoram isso), o jardim seria o
verdadeiro conto e tudo teria tido origem numa caverna – até mesmo o amor entre um homem e uma mulher.
Michelson Borges