terça-feira, março 20, 2012

Para eles, tudo sempre tem origem na caverna

A matéria de capa da revista Veja desta semana (a semanal que mais defende o darwinismo em terras tupiniquins e nunca vai atrás de fontes teístas/criacionistas) afirma que a paixão, a atração e o amor que aproximam e unem casais humanos tiveram origem com nossos ancestrais pré-históricos na luta por preservar sua tão preciosa herança genética. Assim, a escolha de parceiros para dividir um teto obedece aos ditames da evolução que teria moldado nossos comportamentos ao longo dos supostos milhões de anos. A mulher tem que ter cintura fina (evidência de que não está grávida de outro) e o homem precisa ser alto e ter costas largas, o que indica ser um bom protetor para a fêmea e sua prole. O rosto, à semelhança da cauda do pavão, tem que ser simétrico e bonito, o que revelaria ausência de doenças. Além disso, a seleção natural garantiu que os mais fiéis, monogâmicos sobrevivessem e se tornassem predominantes, já que os muito dados a aventuras e relacionamentos casuais não estariam presentes para proteger seus herdeiros. Assim, o bicho homem viveria o eterno dilema de defender seu patrimônio genético garantindo a exclusividade sexual com sua parceira, ao passo que no mais profundo de seus genes estaria escondida a vontade, o desejo, o imperativo (chame do que quiser) de espalhar seus genes por aí (o adultério darwinisticamente justificado). Dependendo do momento ou da situação apresentada, a psicologia darwinista (a velha teoria-explica-tudo) tira da manga a “explicação” que melhor lhe convém.

Com essas “explicações” que remontam (sempre) à caverna, sentimentos nobres como o amor são “diluídos” e transformados em simples reações bioquímicas num cérebro pouco superior ao dos macacos. O casamento? Mera convenção social. Nada de instituição edênica e muito menos sagrada. O darwinismo não é apenas uma hipótese científica. Quando extrapola os domínios do que é observável e cientificamente aceitável (como a seleção natural e a diversificação de baixo nível [microevolução], por exemplo), torna-se uma ideia metafísica capaz de desconstruir a cosmovisão judaico-cristã segundo a qual fomos criados num jardim (não numa poça de lama), qualitativamente superiores aos nossos companheiros de planeta (não somos apenas animais racionais) e dotados de sentimentos nobres capazes de nos aproximar uns dos outros em relações orientadas pelo respeito e pelo amor. A sexualidade e a família são presentes do Criador, não “efeitos colaterais” de uma evolução cega.

Lamentavelmente, a hipótese evolutiva tem aceitação garantida em praticamente qualquer área do conhecimento, devido ao fato de o naturalismo filosófico impedir qualquer menção ao sobrenatural. Dois exemplos: (1) quando comecei meu curso de jornalismo na UFSC, numa das primeiras aulas de Teoria da Comunicação, o professor começou afirmando que a fala teve origem nas cavernas pré-históricas, quando nossos supostos ancestrais grunhiam para se comunicar; depois, para reforçar a doutrinação, ele nos fez assistir ao filme A Guerra do Fogo; (2) minha esposa, numa das primeiras aulas de História da Educação (também numa faculdade secular), ouviu o professor explicar que as primeiras relações sociais humanas tiveram origem numa caverna, ao redor de uma fogueira.

Esse conto darwinista é tão contado e recontado que, para eles (os que se recusam a admitir que possa haver outra cosmovisão mais abrangente ou que simplesmente ignoram isso), o jardim seria o verdadeiro conto e tudo teria tido origem numa caverna – até mesmo o amor entre um homem e uma mulher.

Michelson Borges