Conhecida campanha educativa, veiculada pela TV Futura, apresenta num de
seus comerciais a seguinte declaração: “Até hoje os cientistas discutem como a
vida começou.” Noutras versões da propaganda, são levantadas interessantes perguntas
que despertam tanto a curiosidade quanto o espírito investigativo e científico
do ser humano. Por fim, é dita a frase-síntese: “São as perguntas que movem o
mundo, e não as respostas.” Pelo que se percebe, a intenção do comercial, além
de se relacionar com a educação, é a de fomentar nas pessoas a busca pelo
conhecimento e pela “verdade”, tomando como ponto de partida o questionamento –
algo bastante peculiar à natureza humana. Mas se “as perguntas movem o mundo”,
movem-no para onde? Se elas constituem o meio de se chegar a determinado fim, o
objetivo delas não deveria ser o de nos aproximar de uma resposta? Acreditamos
que sim.
Segundo um levantamento feito anos atrás e publicado numa das edições da revista Veja, existem, pelo menos, 43 perguntas
intrigantes para as quais a ciência não oferece resposta (leia algo sobre isso aqui). Algumas delas são: Por que as estrelas se agrupam em
galáxias? Nosso universo é único ou apenas um entre milhões? Como é o interior
da Terra? Por que o campo magnético da Terra se inverte em grandes intervalos
de tempo? Em que grau os genes influenciam o comportamento? Por que ninguém
consegue prever terremotos? É possível entender a consciência? Por que um
organismo não ataca as próprias células? Quantas espécies de vida existem na
Terra? E por aí vai... Dentre as perguntas enigmáticas feitas pelos cientistas,
uma ocupará nossa atenção: “Como a vida começou na Terra?”
Perguntar e questionar é muito importante, tendo o seu lugar em nosso
raciocínio. Essa característica inerente ao ser humano, quando cuidadosamente
aplicada, traz seus benefícios, pois o convida à pesquisa, guardando-o dos
dogmas absurdos e da estreiteza e obscuridade mentais. Além disso, perguntar
constitui o ponto de partida para se chegar a uma resposta que, talvez, produza
outros tipos de questionamentos mais profundos e existenciais: perguntas que saltam
do como para o porquê, estando vinculadas ao sentido da vida. Por isso, desde a
antiguidade o homem vem remoendo dentro de si três profundas indagações: De
onde eu vim? Por que estou aqui? Para onde vou? De maneira parecida, no seu
estilo de filósofo, o eminente matemático alemão Leibniz (1646-1716) ultrapassou
o como da grande questão “Como a vida
começou na Terra?” para fazer a essencial e incômoda pergunta: “Por que existe algo em vez de nada?” Quem
se atreve a apresentar resposta?
Atualmente, dois destacados candidatos ousam responder. Entretanto, ambos
se encontram em lados antagônicos do pensamento, travando uma batalha
intelectual das mais gigantescas. O primeiro deles, a ciência naturalista, propaga a ideia, ainda muito controversa, de que nossas origens podem
ser explicadas por meio da teoria da evolução, nas suas vertentes de evolução
cósmica, química e biológica. Em sua resposta, o evolucionismo radical
prescinde de Deus, considerando-O desnecessário. Não está tão preocupado com o porquê da vida, mas como ela surgiu. Centra-se em processos,
não no significado das coisas. Opondo-se
a essa concepção, está o outro posicionamento com o qual nós, cristãos
adventistas, pactuamos. Cremos na revelação bíblica de que “no princípio criou
Deus os céus e a terra” (Gn 1:1), em seis dias literais, e reservou o sábado
para lembrança e celebração de Seu ato criador. Sendo assim, mesmo tachados de “fundamentalistas”
pela quase totalidade da comunidade científica, nos posicionamos pelo criacionismo por acreditar na historicidade do primeiro capítulo da Bíblia. Dessa
forma, nossa resposta para o enigma das origens, especialmente no que tange ao
surgimento dos seres e do homem na Terra, jamais pode se pautar no livro A Origem das Espécies, de Charles Darwin
– obra que serviu de impulso para todo o arcabouço teórico evolucionista
moderno. Nosso documento de consulta é a fidedigna Palavra de Deus. Por meio
dela, recebemos do próprio Criador as explicações. Todavia, “precisamente como
Deus realizou a obra da criação, jamais Ele o revelou ao homem; a ciência
humana não pode pesquisar os segredos do Altíssimo. Seu poder criador é tão incompreensível
como a Sua existência” (Ellen G. White). Ele não nos dirá os detalhes de como
fez o mundo e criou as espécies, mas nos dará algo que satisfará nosso
intelecto e coração. O conhecimento de Sua Palavra trará sentido à vida,
cuidando dos nossos porquês e
oferecendo-nos descanso mental e espiritual. Partindo dessa
perspectiva, podemos avançar com segurança no estudo da Criação – um dos
grandes e maravilhosos mistérios de Deus.
Vimos que
a ciência atual, mesmo sendo bem-sucedida, continua levantando grandes indagações.
Contudo, acerca de muita coisa ainda se demonstra incapaz de trazer respostas
satisfatórias. Os cientistas crentes no poder da ciência dizem que, se lhe for
dado tempo suficiente, ela conseguirá resolver os enigmas e solucionar os problemas
da humanidade. Sem menosprezar a ciência, pois ela é muito útil e não é inimiga
da religião, somos desconfiados no tocante a essa pretensão. Quando o assunto
diz respeito às origens, preferimos a alternativa do conhecimento revelado. Por causa de tal preferência, algumas
pessoas nos tecem críticas como a seguinte, advogada por um cético: “Apelar
para Deus jamais foi explicação alguma, é apenas a desistência do entendimento,
o abandono da pesquisa. Por isso mesmo, os criacionistas não têm intenção alguma
de contribuir para o progresso científico, de expandir nosso conhecimento.
Estão apenas defendendo suas crenças no irracional contra uma suposta ameaça
proveniente do progresso científico. Ou, como dizem alguns, ‘a fé não fornece
respostas, apenas impede perguntas’.”
Curiosa esta última afirmação: “a fé não fornece respostas, apenas impede
perguntas”. Será mesmo assim? Será que, por exercermos fé, teremos que
sacrificar a razão e desistir do entendimento para crer em ilusões? A crença em
Deus nos desestimula a pesquisar e a progredir cientificamente? Não seria o
contrário? O que dizer, então, de Hebreus 11:3: “Pela fé entendemos que os mundos foram criados pela palavra de Deus, de
maneira que o visível não foi feito do que se vê”? Não! Jamais podemos concordar
com a equivocada assertiva cética, pois ela soa estranha para os criacionistas
bem informados e envolvidos no meio científico, não encontrando respaldo nem na
realidade nem na Palavra de Deus, a qual nos garante que o entendimento começa por
um ato de fé. Todos somos criaturas de fé, não importa o objeto de nossa
crença.
Bíblia: livro de perguntas e
respostas
A Bíblia, que nos estimula a unir fé com razão, é um livro de perguntas,
feitas tanto pelo homem quanto pelo Senhor. No Livro de Deus, há dezenas de
questões sobre as mais variadas temáticas. O interessante é que, se cavarmos
fundo, encontraremos as respostas embutidas nas próprias perguntas. E a
resposta se revela uma só: DEUS. Sim, Ele Se apresenta como a Grande Resposta –
a base para todas as demais! Quem entendeu muito bem isso foi o patriarca Jó,
num dos momentos mais difíceis da vida.
Quando o homem pergunta, Deus, à Sua maneira, responde; entretanto,
quando Deus questiona, o homem se cala. Jó experimentou o peso das
irrespondíveis perguntas de Deus sobre a natureza. O Senhor começou arguindo-o:
“Se você é sábio, diga-me onde estava quando Eu lancei os alicerces do mundo?
Quem foi que mediu os continentes, como um construtor usando trena e fio de
prumo? Diga-me, se você sabe! Sobre o que se apoiam os alicerces do mundo, e
quem colocou a primeira pedra dessa construção?” (Jó 38:4-6, BV). Do capítulo
38 ao 41, Jó é sabatinado pelo Criador acerca do mundo natural, como se
estivesse diante de uma banca examinadora a lhe testar os conhecimentos.
São-lhe feitas perguntas sobre princípios de cosmologia, astronomia, física,
geofísica, meteorologia, oceanografia, óptica, biologia: o suficiente para Jó
emudecer. Como se diz por aí, “calado estava e calado ficou”... Viu que não
entendia nada e reconheceu a grandeza, o poder e o amor de Deus. O objetivo do
Senhor ao “bombardear” o patriarca com uma amostra de difíceis interrogações era
um só: Ele queria que Jó compreendesse o essencial e reconhecesse o espaço que
o mistério tem no mundo. Em outras
palavras, Deus dizia a Jó: “Tenha fé, pois nem tudo pode ser explicado. Porém,
Meu filho, Eu Me apresento a você como a resposta
pessoal de que todo ser humano necessita para ser feliz”. Assim, para cada
questão complicada da existência (seja ela de caráter científico, filosófico,
histórico, psicológico ou religioso), Deus é o fundamento, o ponto de partida e
o de chegada: o Alfa e o Ômega. Se, do começo ao fim, Ele controla tudo no
mundo natural, igualmente cuidará de nossas necessidades, não importa quais sejam.
O criacionismo, antes de ser um
modelo teórico-religioso, é uma proposta que reconhece Deus como o Pai da criação, coisa que o acaso jamais
pode ser. Por esse motivo, somos criacionistas. Não defendemos apenas uma ideia
no meio da tantas outras; não pretendemos ser antievolucionistas, como se
estivéssemos numa guerra santa, até porque Darwin contribuiu de algum modo para
o desenvolvimento de uma teoria que explica, parcialmente, as modificações ocorridas nos seres por meio da
seleção natural e de outros mecanismos ditos “evolutivos”. O grande problema de
Darwin foi extrapolar os dados e tentar substituir a história da criação pela
narrativa da evolução. Se o naturalista inglês mantivesse sua teoria sustentada
apenas nos fatos, a Biologia moderna e outras ciências fundamentadas no
darwinismo estariam em paz com a fé, sairiam do labirinto em que se encontram e
tomariam um rumo mais produtivo. Abrir-se-ia novo horizonte de possibilidades
de pesquisa e as explicações sobre a natureza não seriam tão especulativas nem
limitadas por aspectos meramente filosóficos.
O erro, portanto, do evolucionismo foi dar à palavra evolução um significado não totalmente científico, mas também “religioso”,
descartando a Bíblia como material válido de pesquisa histórica sobre o passado
sobrenatural do mundo. O pensamento criacionista não resolve tudo, mas, ainda
assim, é o melhor porque permite um espaço para a fé ancorada nas evidências.
Além disso: não rejeita totalmente a contribuição dos evolucionistas à ciência
(é inclusivo), deixa-nos com menos perguntas (inferência à melhor explicação),
imprime um sentido à realidade, é filosoficamente satisfatório, e o mais
importante: gera consequências existenciais positivas na vida de quem o adota. Sobre
este último ponto, devemos refletir cuidadosamente.
Os frutos
Uma das grandes verdades proferidas por Jesus está expressa em Mateus
7:16: “Pelos seus frutos os conhecereis.” Isso pode ser aplicado a qualquer
situação, mesmo que seja sobre uma teoria. Dessa forma, os resultados de uma
escola de pensamento podem ser avaliados na prática. Então, que “frutos” derivam
da “árvore” do criacionismo e da “árvore” do evolucionismo? Procurando ser
imparciais em nossa avaliação sobre os dois modelos das origens, vamos
confrontá-los na esfera existencial do ser humano. Estabeleçamos, pelo menos, quatro
contrastes.
1º Contraste: “No princípio, Deus...” O criacionismo considera Gênesis 1:1 uma verdade
fundamental. Consequentemente, o reconhecimento de um Criador pessoal,
onipotente, eterno e amoroso gera em nós o senso de segurança, de valor, de
importância. Não estamos sozinhos no Universo, e o fruto desse pensamento é que
todas as coisas começaram a ser planejadas, existindo para um propósito
elevado, para a comunhão com Deus. Se Ele está no princípio, criando e
sustentando a vida, temos a certeza de que tudo começou bem e terminará em
segurança. O evolucionismo, por outro lado, defende que o mundo resultou do acaso cego, fruto de forças impessoais
das leis mecânicas da natureza; o design
é aparente, não há nenhum propósito, sendo o Universo seu próprio autor. No
criacionismo, há uma certeza sólida e segura; no evolucionismo, apenas vagas e
incertas probabilidades.
2º Contraste: A história da criação é resumida no salmo 33:9: “Pois Ele falou, e tudo
se fez; ordenou, e logo tudo apareceu.” Para os criacionistas bíblicos, sem
muita demora Deus seguiu um padrão lógico e ordenado ao trazer à existência
Suas obras. Em seis significativos dias literais, ele imprimiu beleza,
funcionalidade e utilidade ao planeta. A morte não existia e tudo interagia em
pacífica interdependência. Retirando o planeta do caos, Elohim o faz habitável.
Já os evolucionistas, mesmo aqueles que acreditam em Deus, creem nos milhões de
anos em que a vida é arrastada por processos evolutivos. As criaturas não são
criadas “segundo a sua espécie [tipo básico]”, não têm sua própria identidade,
mas descendem de um primitivo e obscuro ancestral comum. O mundo constitui uma
terra selvagem, regida unicamente pela cruel seleção natural, em que sobreviver
é privilégio dos mais aptos. A morte faz parte da vida, sendo Deus, se Ele
existir, responsável por ela. Que consequências terríveis, se acreditarmos
nessa proposta!
3º Contraste: O criacionismo apresenta uma explicação razoável para o surgimento do mal
no mundo, bem como sua erradicação final. Esclarece que a criação caiu em
pecado, foi destruída inicialmente por um dilúvio universal, mas será
restaurada pelo mesmo poder infinito de Deus. Assim, traz para a história
humana uma filosofia linear de tempo, mostrando a transição sobrenatural do
velho mundo para o renovado planeta. Os criacionistas confiam na promessa de um
“novo céu e uma nova terra” (Ap 21:1). Suas premissas têm caráter apocalíptico,
no qual o começo das coisas está ligado a um glorioso fim. Nesse aspecto,
acreditar na evolução significa admitir uma concepção de história
essencialmente drástica e sem esperança, em que a vida pode terminar num triste
colapso. O fruto dessa crença é o niilismo ou “a morte do
sentido, a ausência de finalidade e de resposta ao ‘porquê’”. Você prefere
provar de qual “fruto”?
4º Contraste: Aceitar a criação segundo Gênesis pressupõe aceitar o Criador e Seu plano
para todos os viventes. Advogar a evolução naturalista, após todas as
evidências em contrário, significa rebelar-se contra a vontade do Criador. Essa
é a diferença mais séria entre os dois modelos, pois envolve profundas
implicações espirituais. Certo cientista evolucionista confessou, com
impressionante honestidade, seu compromisso com o materialismo: “Nossa
disposição de aceitar alegações científicas que vão contra o senso comum é a
chave para o entendimento da verdadeira luta entre a ciência e o sobrenatural.
Nós nos posicionamos do lado da ciência, apesar do evidente absurdo de alguns
de seus construtos, [...] porque temos um compromisso prévio com o materialismo.
Não é que os métodos e as instituições científicas de algum modo nos obriguem a
aceitar uma explicação material do mundo dos fenômenos, mas, ao contrário,
somos forçados, por nossa adesão a priori
a causas materiais, a criar um aparato de investigação e um conjunto de
conceitos que produzam explicações materiais, por mais contraintuitivas que
sejam, por mais difíceis de compreender para os não iniciados.” Em outras
palavras, é proibido o pé divino na porta do laboratório!
A observância do sétimo dia constitui um ponto decisivo nessa questão. No
mandamento do sábado, está implícito o evangelho da graça, pois ali criação e
redenção se encontram. Por isso, quando o ser humano busca anular a
literalidade dos atos criativos de Deus, ele destrói a lei divina e o plano da
redenção e implanta, no lugar deles, um governo instável e desequilibrado que,
aos poucos, vai levando o mundo de volta ao caos. O evolucionismo mata os valores
absolutos e a dimensão genuinamente espiritual da vida.
Conclusão
Abrimos este texto com uma pergunta não
respondida pela ciência: “Como a vida começou?” Nós, criacionistas, aceitamos a
resposta da Palavra de Deus, registrada em Isaías 45:12: “Eu fiz a terra, e
criei nela o homem. As Minhas mãos estenderam os céus.” Diante de nossa nobre
origem, chegam-nos sentimentos poderosos. Logo, na percepção de certo teólogo,
“toda pessoa verdadeiramente criacionista é agradecida a Deus, e olha em cinco
direções que definem muito bem a vida cristã: para trás, com gratidão; para
frente, com esperança; para dentro, com contrição; ao redor, com compaixão; e
para cima, com louvor”. Não, nada é por acaso, já que ex nihilo nihil (do nada, nada). A criação começa com o pairar do
Espírito em atitude protetora, é redimida por Ele e termina em uma nova criação
que reconhece o Senhor como a causa, o sustento e o objetivo final para o qual
convergem todas as coisas (Ap 4:11). Por tais razões, sou criacionista. Ele
satisfaz as exigências de minha mente inquiridora e me estimula a prosseguir
com mais perguntas. No pensamento criacionista, encontro aquilo que não percebo
no evolucionismo: a harmonia entre fé e razão.
Não está longe o raiar de um novo gênesis! O mundo presente
sairá de seu estado caótico de escuridão, passando do abismo para o Éden
restaurado. Quando acontecer esse renovado milagre pelo falar divino (no
potente “Faça-se!” ou “Refaça-se!”), a voz da criação também ressoará: os seres
criados elevarão sua gratidão e louvor cósmicos ao testemunharem, outra vez, a
ação de Deus sobre a natureza. Veremos a criação inteira retornando ao Criador,
ficando para sempre “debaixo de Suas asas”, sob Seu eterno amor. Entraremos
todos em um novo princípio – os novos céus e a nova Terra libertos para sempre
do mal.
(Frank de Souza Mangabeira, membro da Igreja Adventista do Bairro Siqueira Campos, Aracaju, SE; servidor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe)