Do
ponto de vista evolutivo, é fácil explicar a infidelidade entre machos: ao
ter muitas parceiras, eles podem fertilizar mais fêmeas e gerar mais filhos.
Mas por que fêmeas, mesmo que só consigam ter no máximo um filho por ano,
também traem? Uma das principais hipóteses evolutivas para a questão sugere
que uma fêmea que tenha relações com vários machos garante a diversidade
genética e a qualidade de sua prole: em teoria, “filhos de alta qualidade”
podem gerar mais netos no futuro. Agora, um estudo de 17 anos, publicado na
edição de junho do The American
Naturalist, desafia a hipótese. “Esse é um dos mais cuidadosos estudos
que verifica se a poligamia é adaptativa em fêmeas”, descreve Tommaso
Pizzari, biólogo da University of Oxford que não se envolveu na pesquisa. “A
resposta é: não exatamente.”
Estudos anteriores testaram a “hipótese da qualidade” ao comparar a prole legítima e ilegítima de fêmeas promíscuas, verificando qual prole era maior e qual viveu mais. Mas, segundo Jane Reid, bióloga da University of Aberdeen, na Escócia, e autora do novo estudo, uma maneira melhor de compreender por que a promiscuidade feminina evoluiu é determinar se a prole ilegítima de fato tem mais filhos. Jane e sua equipe estudaram a população isolada de tico-ticos cantadores selvagens da Ilha de Mandarte, no Canadá – assim como suas contrapartes continentais, essas aves são socialmente monogâmicas. Machos e fêmeas se unem durante todo o período de acasalamento e trabalham juntos para alimentar e defender os filhotes. Mas nem sempre eles são fiéis: testes sanguíneos mostraram que 28% dos filhotes eram de outros machos. Após analisarem três gerações de tico-ticos cantadores (com mais de 2.300 filhotes), os pesquisadores descobriram que os filhotes ilegítimos se saíam pior e produziam, em média, cerca de metade da prole. “Não é o que as pessoas esperavam”, desabafa Jane. David Westmeat, ecólogo comportamental da University of Kentucky, concorda: “Essencialmente, o estudo mostra que não há evidência para uma hipótese bem popular.” Mas a suspeita ainda não está morta, porque os resultados precisam ser confirmados em outras populações e em outras espécies. Westneat e Pizzari também expressam preocupação com o fato de o estudo ter sido feito em uma ilha, já que populações pequenas e isoladas tendem a evoluir de maneiras diferentes. |
Nota:
É interessante notar como hipóteses defendidas como certezas científicas podem
cair por terra da noite para o dia. Só a pose não é perdida. Se a evolução não
explica a “infidelidade” dos animais, a evolução pode explicar a infidelidade
de outra maneira. Apenas digam isso para as multidões que aprenderam a
historinha lendo livros e artigos e foram levadas a
aceitar isso como verdade. Mas pior mesmo é quando resolvem aplicar isso ao
comportamento humano (afinal, não somos apenas animais racionais), “justificando”,
assim, de certa forma, o pecado e o mau comportamento.[MB]