quinta-feira, junho 14, 2012

Um dogma começa a derreter – que outros derretam

A revista Veja desta semana publicou uma reportagem de quatro páginas intitulada “Um dogma que começa a derreter”, apontando evidências de que os céticos do aquecimento global causado pelo ser humano (estre os quais este blogueiro) podem estar com a razão. Segundo a semanal, o próprio ambientalista inglês James Lovelock, de 92 anos, ainda lúcido, afirmou ter sido alarmista em suas considerações sobre as mudanças no clima (noticiamos isso aqui no blog). “Foi uma tolice de minha parte”, reiterou Lovelock a Veja. “O ser humano não é mais culpado do que as árvores no que diz respeito ao aumento das temperaturas.” Para Veja, nem o Climagate, o escândalo sobre a manipulação de dados nos relatórios do IPCC, o painel climático da ONU, foi um golpe tão duro para os defensores da ideia de que a humanidade vive uma emergência planetária iminente,  resultado da emissão excessiva de CO2 na atmosfera, quanto as palavras de Lovelock. Isso porque ele é tido como uma espécie de guru dos aquecimentistas, mais ou menos como o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore, que comprou uma casa à beira-mar avaliada em milhões de dólares, muito embora pregue que o mar vai subir!

“Até mudar de ideia, Lovelock reverberava previsões aterrorizantes sobre o futuro do planeta. Em uma delas, ele afirmava que 80% da população mundial seria dizimada por catástrofes até 2100”, diz a reportagem. Aproveitando a onda alarmista, os defensores do ECOmenismo não perderam tempo e divulgaram suas propostas de salvamento do planeta, entre elas a separação do domingo como dia da família e de baixa emissão de carbono (proposta incentivada e abraçada de imediato pela Igreja Católica). Em 2010, numa entrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo, procurei mostrar a relação entre aquecimento global e neopaganismo (confira aqui).

Veja (que no passado também embarcou no oba-oba do aquecimento com capas bem alarmistas) mostra que “Lovelock não foi o único cientista de renome a protagonizar uma mudança de prumo recentemente. Em setembro do ano passado, o físico norueguês Ivar Giaever, laureado com o Nobel em sua área, em 1973, deixou a Sociedade Americana de Física (APS) por discordar da postura da instituição em relação ao tema. Disse Giaever, na ocasião: ‘A APS aceita discutir se ocorrem alterações na massa de um próton ou os múltiplos universos, mas a evidência do aquecimento global é indiscutível? Esse assunto está se tornando uma religião. Sou um descrente.’”

Palavras semelhantes foram usadas pelo teólogo adventista Sérgio Santelli, em e-mail publicado na revista Veja do dia 29/12/2008 (confira aqui). Segundo o teólogo, o ECOmenismo estava se transformando numa “religião urbana de alcance global”. Que bom que outras pessoas perceberam a mesma coisa.

Mas a parte da declaração de Giaever que mais me chamou a atenção foi esta: “A APS aceita discutir se ocorrem alterações na massa de um próton ou os múltiplos universos [ideia totalmente hipotética], mas a evidência do aquecimento global é indiscutível?” Outras evidências também não são discutidas pelos defensores do mainstream científico, especialmente os darwinistas. Voltarei a este ponto mais adiante.

É bom lembrar – e Veja lembra – que os céticos do aquecimento “não negam o fato de que o planeta está mais quente – quase todos os cientistas hoje concordam que a temperatura média da terra subiu 0,8 grau no século passado. A divergência recai sobre as causas da oscilação”. Entre elas, talvez, a atividade solar intensificada em anos recentes. Só que um fenômeno “natural” de aquecimento não poderia ser usado como argumento para promover mudanças (como a guarda do domingo) profundas entre a humanidade, com o fim de “salvar a Terra” da ação humana desastrosa.

Ponderação interessante da semanal: “A discussão, em si, não é um problema. Dos debates nascem as melhores soluções para uma questão. O perigo está no dogmatismo e na polarização exagerada.” Pena que esse argumento nem sempre seja defendido ou praticado, quando o assunto é criacionismo e evolucionismo, por exemplo. E aqui eu volto ao ponto que deixei aberto lá em cima.

Veja cita as palavras do climatologista americano Richard Lindzen: “Quando uma questão se torna parte do programa político, a posição politicamente aceitável passa a ser o objetivo e não a consequência da pesquisa científica.” Esse programa pode ser, também, ideológico. Deixando mais claro: quando os cientistas se esforçam para defender o naturalismo filosófico, tratam de acomodar os fatos a essa cosmovisão, mesmo que esses fatos apontem noutra direção, no caso, a do teísmo e do design inteligente. E essa motivação, à semelhança da motivação política, nada tem que ver com a ciência experimental. Os céticos (nesse caso, os criacionistas e defensores do design inteligente) são vistos com preconceito e/ou indiferença; suas ideias e refutações são ignoradas, como eram as dos céticos do aquecimento, poucos anos atrás.

Veja diz mais (e dá vontade de colocar estas palavras num quadro e pendurar na parede): “Não existem certezas absolutas na ciência. No entanto,  não há como negar a contribuição do ceticismo para a elucidação da questão climática.” Que bom se isso fosse igualmente aplicado ao darwinismo... Repita a frase entre aspas trocando apenas “questão climática” por “origem da vida”.

Nunca é tarde para derreter dogmas.

Michelson Borges


Nota do jornalista Ruben Holdorf: "Eu já havia comentado que Veja tinha uma posição contrária ao aquecimento, a despeito das reportagens favoráveis, e que isso se detectava pelo diálogo entre os títulos de capa e das páginas amarelas, uma das teses que defendo. Outras visões a respeito de Veja são puramente empíricas, pois quem não é jornalista e não se atém às políticas editoriais, o que é básico para qualquer crítica de mídia, não consegue perceber o contrato comunicacional existente entre o enunciador e o leitor. Sem isso, as análises permanecem na superficialidade. Confira textos aqui e aqui."