Bobos úteis, crianças vulneráveis |
Um
grupo ateu chamado The Satanic Temple (Templo Satânico) está causando polêmica
nos Estados Unidos ao propor que as escolas adotem uma atividade
extracurricular chamada “Clubes de Satã” - descrita como uma aula de formação
distinta da proporcionada por grupos religiosos. A discussão ganha força por
ocorrer no momento em que o ano letivo está prestes a começar nos EUA. É quando
pais e filhos falam sobre atividades extracurriculares que as crianças poderão
frequentar durante o ano. Há petições do grupo para que as aulas comecem a
valer já neste semestre em diversas escolas de cidades como Nova York, Boston e
Detroit, segundo o jornal The Washington
Post. Mas o jornal explica que o plano do grupo não é promover a adoração
ao diabo: o templo rejeita a noção de sobrenatural e defende a racionalidade
científica. Satã seria, segundo o grupo, uma “metáfora” para rejeitar todas as
formas de tirania sobre a mente.
Ainda
de acordo com o grupo, o programa do curso seria formado por aulas de ciências,
pensamento crítico, artes e história indígena para crianças do ensino primário.
Também haveria exercícios para elevar a autoestima e desenvolver a empatia. Mas
o que se sabe sobre o Templo Satânico? O fato de o nome da organização remeter
a reuniões clandestinas, nas quais se sacrificam animais e se adora a figura de
Lúcifer, provocou receio entre muitos pais de alunos. Porém, o Templo Satânico
se apresenta como um grupo ateu cujos objetivos seriam proporcionar igualdade,
justiça social e defender a separação entre a Igreja e o Estado. A organização
tem sede em Nova York e 20 escritórios espalhados pelos Estados Unidos.
[...]
Ali
explicou que o grupo usa Satã como mascote por interpretar que, segundo a Bíblia,
ele desafiou a autoridade de Deus e foi expulso do Céu. O grupo, na opinião de
Ali, enfrentaria situação similar à do personagem bíblico. “De forma similar,
nós desafiamos a autoridade intolerante na política, na sociedade e na cultura
e somos marginalizados por isso. Além disso, recebemos ameaças de morte pela
simples associação com o nome”, disse ele.
O
grupo, que diz ter mais de 200 mil membros, afirma não acreditar em seres
sobrenaturais e se distancia de conceitos como o medo do inferno e da ira de
Deus.
Seus
dogmas são [e segue a lista das sete crenças deles].
O
Templo Satânico foi criticado por suas atividades, especialmente por
organizações cristãs. Alguns dizem que o Templo não é uma organização, mas sim
uma espécie de brincadeira, sátira ou simples provocação. Assim, a proposta do
grupo de levar sua mensagem para as escolas tem despertado suspeitas, não
apenas pela referência ao diabólico, como pelas dúvidas sobre a seriedade da
iniciativa. [...]
O
grupo diz que baseia seu pedido para dar essas aulas na existência dos Good
News Clubs, programas extracurriculares de estudos bíblicos organizados pelo
grupo Children Evangelism Fellowship (Sociedade de Evangelismo Infantil). Em
2001, a Justiça dos Estados Unidos determinou que nenhum discurso religioso
específico pode ser discriminado nas escolas. “Os evangélicos cristãos, em
particular a Sociedade de Evangelismo Infantil, vêm se beneficiando dessa regra
desde então”, diz a organização. “Por ser ilegal discriminar religiões
concretas ou que se dê preferência a alguma delas, os clubes extraescolares de
Satã não podem ser negados onde operem clubes cristãos ou de outras religiões.”
[...]
Nota:
Ainda que os membros do Templo Satânico se digam ateus, o que estão fazendo,
como “bobos úteis”, é criar simpatia por Satanás, e fazendo isso justamente com
os mais vulneráveis a essa abordagem: as crianças – estratégia já bem conhecida
da figura que, para esses “educadores”, é mítica. No texto acima, chama
atenção, também, a postura parcial de setores da mídia secular. Curiosamente,
quando divulgam filmes como Hacksaw Ridge,
que traz como personagem principal um herói adventista, nunca dão espaço para
citar as crenças desse tipo de cristão. Aliás, muito raramente mencionam sua
filiação religiosa. Após a vitória da seleção brasileira de futebol, nos Jogos
Olímpicos do Rio, um repórter da mesma empresa de comunicação do portal acima,
disse ao goleiro do time: “O destino abençoou vocês.” E o jogador rebateu no
mesmo instante: “Deus nos abençoou.” Parece que há um esforço consciente ou
inconsciente para deixar Deus de lado. Mas, quando o assunto é misticismo,
bruxaria, espiritualismo e até satanismo, a coisa é diferente. Semana passada,
a revista Veja publicou o artigo de
um ateu militante na seção “Página Aberta”. Eu e outras pessoas escrevemos
reações ao texto. Acha que foram publicadas na Veja desta semana? Cadê a imparcialidade jornalística? [MB]