domingo, maio 04, 2008

Cartas de Darwin vão para a internet

"Pode ser uma delícia para quem se interessa, mas como eu gosto mais de mulheres solteiras do que daquelas no estado abençoado, eu declaro [isso] um tédio." O rapaz que declina os supostos prazeres do casamento na frase acima é provavelmente a última pessoa que poderia ser chamada de playboy mulherengo: Charles Robert Darwin, pai da teoria da evolução das espécies pela seleção natural. A carta, endereçada à irmã Caroline em abril de 1832 (escrita, por sinal, no Rio de Janeiro), é uma das 5 mil correspondências de Charles Darwin que estão à disposição na internet desde ontem.

O site Darwin Correspondence Project (www.darwinproject.ac.uk) é a primeira base de dados a reunir textos integrais das cartas que o naturalista inglês trocou com mais de 2 mil pessoas ao longo da vida.

Há correspondências de e para parentes (Caroline, irmã mais velha, era uma de suas maiores confidentes), amigos, como Charles Lyell, pai da geologia moderna, Thomas Huxley, maior defensor de Darwin, e Alfred Russel Wallace, co-descobridor da seleção natural.

Resultado de um esforço de dez anos para reunir e transcrever o acervo (mais de 14 mil cartas já foram localizadas) em formato digital, o site promete ser a fonte de muitas pesquisas sobre a trajetória intelectual de Darwin, e de algumas respostas sobre controvérsias históricas (como qual era de fato a posição do gênio britânico sobre a religião).

Mas, mais do que isso, dá vislumbres saborosos da vida pessoal do cientista - como uma carta, escrita aos 12 anos a um amigo não-identificado, na qual o jovem Charles confessa que só lava os pés uma vez por mês. "Não posso evitar", escorrega.

(Folha de S. Paulo)

Nota: Acho oportuno recordar este trecho de uma das cartas de Darwin, enviada a um amigo norte-americano: "Lembro-me muito bem do tempo quando pensar no olho me fazia esfriar todo, mas já superei esse estágio da doença, e agora pequenos particulares insignificantes de estrutura muitas vezes me deixam muito pouco à vontade. A visão de uma pena na cauda de um pavão, toda vez que a observo, me deixa doente" (carta ao amigo Asa Gray. The Life and Letters of Charles Darwin, v. 2, p. 296).