sexta-feira, maio 02, 2008

Tropeçando na verdade

Algum tempo atrás, Hollywood levou aos cinemas a adaptação do livro Contato, do famoso astrônomo Carl Sagan. Jodie Foster faz o papel de uma cientista que faz parte de um grupo que busca sinais de vida inteligente extraterrestre. Mas como saber se um sinal provém de uma fonte inteligente? Quando as antenas captam ondas de rádio com uma seqüência de números primos de 1 a 101, a cientista identifica isso como um sinal inquestionável de mensagem inteligente. Por quê? Porque a observação repetida nos diz que apenas seres inteligentes criam mensagens e que as leis naturais nunca fazem isso.

Se você estivesse caminhando pela praia e encontrasse uma frase escrita na areia, e alguém lhe dissesse que a frase, por mais simples que seja, tinha sido produzida pelo incessante bater das ondas ou pelo vento, você não aceitaria isso.

Ironicamente, o autor do livro que inspirou o filme era apaixonado pelo evolucionismo e acreditava na geração espontânea. Para Sagan, a simples seqüência de números primos provaria a existência de vida inteligente fora da Terra, mas o equivalente a mil enciclopédias na suposta primeira vida unicelular não provaria isso.

Além disso, foi o próprio Sagan quem escreveu que a informação contida no cérebro humano expressa em bits é provavelmente comparável ao número total de conexões entre os neurônios – cerca de 100 trilhões de bits. Se fosse escrita, essa informação encheria 20 milhões de volumes, o equivalente em volumes ao acervo das maiores bibliotecas do mundo. Isso tudo dentro da cabeça de cada um de nós! Sagan diz que “o cérebro é um lugar muito grande num espaço muito pequeno”; é “uma máquina mais maravilhosa do que qualquer uma que o ser humano já tenha visto” (Cosmos, pág. 278).

Winston Churchil disse certa vez que ”de tempos em tempos, os homens tropeçam na verdade, mas a maioria deles se levanta e segue adiante como se nada tivesse acontecido”. Sagan, como muitos hoje, tropeçou na verdade, mas se levantou, sacodiu a poeira e fez que nada era nada.

Michelson Borges