A revista Veja desta semana traz uma breve entrevista com o jornalista e escritor Gay Talese. Tornei-me admirador dele desde o tempo da faculdade, quando tive contato com grandes nomes do New Journalism, como Tom Wolfe, Truman Capote e o próprio Talese. Seus textos são deliciosos. De vez em quando, leio a narração feita por Wolfe da queda de um caça americano pilotado pelo legendário Chuck Yeager, o primeiro homem a quebrar a barreira do som. Quase dá para sentir o cheiro de fumaça na cabine do avião em pane. Esse texto magistral foi publicado no ótimo livro Os Eleitos. A reportagem feita por Talese sobre a construção da ponte Verrazano Narrows, no Brooklin, também é de cair o queixo e pode ser conferida no delicioso Fama e Anonimato. São reportagens para inspirar (e deixar morrendo de inveja, no bom sentido) qualquer jornalista e/ou escritor.
Na entrevista de Veja, Talese afirma que, “com as novas tecnologias, e sobretudo com a criação da internet, o público hoje é informado de modo mais estreito, mais direcionado. Na internet, os jovens se informam de modo muito objetivo, no mau sentido. Eles têm uma pergunta na cabeça, vão ao Google, pedem a resposta, e pronto. Estão informados sobre o que queriam, mas é um modo linear de pensar e ser informado, que não dá chance ao acaso. Quem está interessado em saber sobre o presidente do Paquistão vai à internet, fica sabendo que ele andou visitando Washington, quem é o seu principal oponente, essas coisas. Quem lê um jornal impresso lê sobre tudo isso e depois, ao virar a página, lê sobre a mulher do Silvio Berlusconi, depois sobre as chinesas que perderam seus filhos naquele terremoto, depois sobre o desastre do Air France que saiu do Rio para Paris. Enfim, lê histórias que não procurou e, por isso, acaba adquirindo um sentido mais amplo do mundo. Claro que você também pode fazer isso na internet, mas o apelo da internet é o oposto. É oferecer informação rápida. A internet é o fast-food da informação. É feita para quem quer atalho, poupar tempo, conclusões rápidas, prontas e empacotadas. Quem se informa pela internet, de modo assim estreito e limitado, pode ser muito bem-sucedido, ganhar muito dinheiro, mas não terá uma visão ampla do mundo. Para piorar, surgiram esses blogs com blogueiros desqualificados, que apenas divulgam fofoca. São como uma torcida num jogo de futebol que fica o tempo todo gritando para os jogadores, para o juiz. É gente que não apura nada, só faz barulho”.
O jornalista, que agora está escrevendo sobre seu casamento de 50 anos com Nan, aconselha: “De todas as profissões, se um jovem estiver interessado em honestidade e não estiver interessado em ganhar muito dinheiro, eu aconselharia o jornalismo, que lida com a verdade e tenta disseminar a verdade. Há mentirosos em todas as profissões, inclusive no jornalismo, mas nós não os protegemos. Os militares acobertam mentirosos. Os políticos, os partidos, o governo, todos fazem isso. O escândalo do Watergate é uma crônica de acobertamento. Os jornalistas não agem assim, não toleram o mentiroso entre eles. Acho uma profissão honrosa, honesta. Tenho orgulho de ser jornalista.”