sexta-feira, junho 12, 2009

A vida e algumas mentiras de Darwin

Conforme a nova biografia provocadora de Darwin por Benjamin Wiker, The Darwin Myth: the Life and Lies of Charles Darwin, Charles Darwin foi um homem honrado e agradável, um homem de família. Ele amava seus seus irmãos; ele foi dedicado à sua esposa; ele amava seus filhos e ficou profundamente triste pela morte de sua filha [Annie]. Mas Darwin também foi alguém que apresentou para o público uma estória elaborada e até enganadora sobre si e seu trabalho para promover uma agenda filosófica. Embora haja muitas biografias de Charles Darwin, a de Wiker merece atenção por causa do seu fascinante relato da interação complexa entre Charles Darwin, o homem, e o Darwinismo, a teoria que ele defendeu e popularizou. A apresentação de Wiker das contradições humanas de Darwin é uma valiosa contribuição para este ano de aniversário de Darwin (200 anos de aniversário do nascimento de Darwin e os 150 anos de aniversário da publicação do Origem das Espécies).

Wiker demonstra que Darwin juntou a sua teoria da evolução — a ideia de que todas as coisas vivas descendem de um ancestral comum através de um processo cego de seleção natural agindo sobre variações aleatórias — com seu materialismo persistente. Como escreveu Wiker: “O problema com Charles Darwin não é a evolução em si, mas a sua estranha insistência em criar um relato de evolução totalmente ateia. Que a evolução deve ser ateia para ser científica é O Mito de Darwin.”

Para apoiar seu “mito”, Darwin criou uma estória sobre si mesmo que se aparta de maneiras significativas da realidade, segundo Wiker. Por exemplo, Darwin afirmou que ele tinha originalmente crido não somente na religião, mas no cristianismo ortodoxo.

Na sua autobiografia, escrita anos mais tarde, Darwin fala sobre o tempo em que ele estava considerando a ideia de entrar para o ministério sacerdotal. Wiker é cético:

Então ele [Darwin] leu alguns livros de teologia, e “como eu então não tinha a menor dúvida da verdade estrita e literal de cada palavra na Bíblia, eu logo persuadi a mim mesmo de que o nosso credo deve ser totalmente aceito”.

Considerando-se o background dele [Darwin], essa afirmação vai além da credulidade. A crença de que toda a realidade é material e que tudo que existe é derivado de causas materiais sem nenhum propósito tem uma longa história filosófica. No caso de Darwin, isso também teve uma longa história familiar. Como Wiker explica, antes de Darwin nascer, seu avô Erasmus Darwin foi um defensor da evolução (que ele chamou de “transmutacionismo”) e, como muitos intelectuais europeus, do ateísmo. Erasmus Darwin considerava-se um deísta, mas de acordo com Wiker, o ceticismo dele tinha ido muito além do deísmo que até o unitarista Samuel Taylor Coleridge, após conhecê-lo, concluiu: “Ele é um ateu.” Como Wiker explica, “Erasmus famosamente descreveu o unitarianismo como um colchão de penas para apanhar um cristão que caiu. Seja o que foi Erasmus, ele foi além daquilo”. Segundo Wiker, Darwin seguiu as pegadas de seu avô: para Darwin, a noção de alma e vida após a morte era agora [ocasião de seu casamento] uma noção inteiramente ininteligível. Ele era totalmente materialista, assim como tinha sido seu avô, assim como permaneceu sendo seu pai.

Sabemos disso porque por dois anos ele esteve ocupado escrevendo nos seus notebooks privados, todos os seus pensamentos privados sobre o transmutacionismo. E os notebooks deixam bem claro que ele estava atrás de uma versão particular de transformação das espécies, uma versão totalmente materialista, uma que começou, com a ajuda de seu pai, como uma meditação da Zoonomia de seu avô. No seu “Notebook M” de 1838, descobrimos que ele sonda o seu pai em busca de informação, e os dois estão caçoando pra lá e pra cá sobre o Zoonomia. Frequentemente encontramos “meu pai pensa que”, “meu pai diz que”.

Embora anos mais tarde Darwin tenha preferido descrever a si mesmo como “agnóstico”, seus escritos deixam claro, de acordo com Wiker, que, por todos os propósitos práticos, Darwin abraçou o ateísmo. Na verdade, muito da preferência de Darwin pelo termo agnóstico pareceu ser prudencial: Darwin não queria chocar mais a sua esposa, uma teísta que já tinha ficado preocupada com a falta de fé do marido, ou de seus contemporâneos.

Talvez a insistência de Darwin na rejeição absoluta de qualquer realidade exceto as realidades materiais tenha sido realmente uma lealdade à sua família, que tinha sido ateísta por pelo menos três gerações. Todavia, Darwin foi relutante em reconhecer as sãs dívidas para com outras pessoas, até seus ancestrais. Embora o argumento básico de Darwin sobre a transmutação das espécies já estivesse presente no livro de seu avô Erasmus Darwin, o Zoonomia, Darwin quis afirmar que a teoria da evolução era somente dele.

Uma das muitas poucas falhas de caráter de Charles Darwin foi esta: ele foi estranhamente possessivo sobre sua teoria, tanto que deixou de reconhecer seus predecessores, inclusive seu avô, até que seus detratores destacaram essas omissões gritantes. Ele queria que a teoria da evolução fosse a sua descoberta, a sua criação, o seu filho.

(Postado por Sonja West, em 10 de junho de 2009; republicado em Desafiando a Nomenklatura Científica)