segunda-feira, maio 25, 2015

A faringe humana: um tubo ou dois tubos?

Projeto bem pensado
São inúmeras as tentativas argumentativas dos neodarwinistas em afirmar que nossas supostas deficiências físicas existem porque a seleção natural nos faz sobreviver “apenas o tempo suficiente para se reproduzir”. São meras especulações, e hoje veremos que uma, em específico, também cairá por terra. Mais um exemplo da série de “bad design”: apresento-lhes a faringe humana. Mas será que ela é mesmo um projeto tão ruim? Consideremos algumas das implicações desse projeto.

A faringe é um órgão tubular que conecta o nariz e a boca à laringe e ao esôfago. É um canal comum ao aparelho digestivo e ao aparelho respiratório. Em humanos, a faringe é ponto de encontro entre esses dois aparelhos. Quando engolimos qualquer tipo de alimento, uma estrutura laminar chamada epiglote fecha e encobre a laringe para que esses materiais não cheguem à traqueia e entrem em nossos pulmões. Há casos em que ocorre engasgo com comida ou água que “desce o caminho errado”. Em alguns desses casos, a asfixia resultante do engasgo pode ser fatal. Entretanto, quando o alimento ou a água entram no tubo errado (laringe), não é porque o sistema está mal projetado, mas, ocasionalmente, não funciona devido ao abuso, como comer enquanto estiver sob a influência de álcool.[1] Repito: as pessoas não morrem por causa de uma faringe mal projetada, mas sim em consequência de seu abuso ou de doença.

Os seres humanos engolem cerca de mil vezes por dia ou 27.375.000 vezes em uma vida média.[1] Em relação à asfixia por engasgo, a taxa de mortalidade é de um caso para cada 100 mil indivíduos (crianças e adultos).[2, 3] Diante desse fato, eventos fatais de asfixia são, na verdade, acontecimentos relativamente raros, quando comparados com o número de deglutições durante toda a vida. A asfixia é mais comum em crianças de 0 a 4 anos, muitas vezes causada por ingestão de pequenos brinquedos, balas ou gomas - coisas que as crianças pequenas não devem ter.[4] O segundo maior problema é em idosos, muitas vezes causado por doenças, tais como eventos cardíacos, diabetes, doença de Parkinson, doença de Alzheimer e pneumonites.[5] Em adultos, a asfixia ocorre frequentemente quando a pessoa está alcoolizada. O comportamento irresponsável envolvendo a embriaguez é um fator importante na asfixia, como no caso de comer rápido demais e não mastigar devidamente a comida, ou ainda quando falamos/respiramos e engolimos ao mesmo tempo (minha mãe sempre disse para não falar com a boca cheia).[6]

Mesmo diante das evidências, os negacionistas sugerem que um “melhor design” seria ter dois tubos separados − um conduzindo a partir do nariz diretamente para os pulmões (laringe e traqueia), e o segundo conduzindo a partir da boca diretamente para o estômago (esôfago).[7] No entanto, há vários problemas com esse “melhor design”. 

Em primeiro lugar, ter dois tubos no pescoço exigiria mais espaço e sistemas extras (com custos adicionais de energia) para manter duas estruturas. Mas o mais importante é que seria muito difícil de respirar quando ocorresse uma infecção dos seios paranasais (sinusite). Uma simples congestão nasal devido a um resfriado seria uma ameaça à vida, impediria a respiração e causaria sufocamento, já que o nariz seria a única via de entrada de ar nos pulmões. Sabe-se que a respiração é indispensável e não pode ser interrompida, nesse sentido, no projeto atual, a boca serve como um mecanismo reserva de respiração, isto é, se o nariz ficar entupido, é possível respirar pela boca. Mas vale ressaltar que a respiração oral deve ser utilizada apenas por um determinado período de tempo (durante uma congestão nasal, por exemplo), uma vez que o projeto ideal da respiração, a fim de evitar doenças e complicações, é por meio do nariz.[8]

No projeto de dois tubos haveria também o problema de se livrar do líquido que entra acidentalmente nos pulmões. Esse líquido teria que ser empurrado por todo o caminho de volta até o nariz para ser expulso (mas, para isso, seriam necessárias estruturas adicionais no nariz, como uma língua e lábios). No sistema atual, basta ir até o topo da traqueia e descer no esôfago até o estômago. Outro problema no projeto de dois tubos é que, quanto mais aberturas existem no corpo, mais difícil é protegê-lo contra patógenos.[1] Usando três aberturas em lugar das que estão presentes no projeto atual, a probabilidade de infecções também iria aumentar significativamente, e a proteção contra patógenos teria de ser aumentada.

No projeto atual de comutação entre a laringe e o esôfago é permitido comer e respirar simultaneamente com maior eficiência e menos massa corporal do que se tivéssemos dois canais separados desconexos.[1] O mais importante é que não poderíamos respirar e engolir, ao mesmo tempo, se os dois sistemas estivessem separados. Ademais, a cooperação entre os sistemas também pode ser evidenciada pelo muco produzido nos seios paranasais. Esse muco, quando engolido, auxilia no revestimento do esôfago, uma vez que este possui poucas glândulas produtoras de muco. Esse reforço ajuda na proteção contra a acidez estomacal, caso ocorra um refluxo.

No projeto de dois tubos também haveria restrições na quantidade de atividade física que poderíamos fazer. Quando corremos, por exemplo, respiramos por meio da boca, uma vez que a abertura maior permite uma taxa de respiração mais rápida, embora não seja o ideal. No projeto de dois tubos, a maneira que permitiria uma grande taxa de respiração é o aumento no tamanho e nas aberturas do nariz. Além da aparência horrorosa, as aberturas maiores iriam apresentar problemas. Objetos poderiam entrar nessas grandes aberturas e teriam acesso direto aos pulmões (por exemplo, poderíamos inalar uma mosca). Passagens nasais maiores também reduziriam a temperatura do ar, uma vez que o ar não poderia ser aquecido de forma tão eficaz (importante para climas frios), como no caso do projeto atual. 

Ainda em relação à atividade física, nota-se que, no projeto atual, é importante a comutação entre os sistemas devido à necessidade de lavagem de CO2 pela boca. Se tivéssemos um tubo separado somente para a entrada e saída dos gases, o CO2 demoraria muito para sair. Isso, atrelado ao ato de prender a respiração durante o esforço físico, levaria ao desmaio por narcose. Ademais, se a saída do ar não ocorresse de forma rápida em treinos de força, como no caso da manobra de Valsalva (forçar a saída do ar, estando com a boca e narinas fechadas) realizada por praticantes de atividade física em academias, acarretaria lesão timpânica e hipertensão arterial.[9]

Outro grande problema seriam a fala e a linguagem. No projeto atual, precisamos usar a boca e a língua, a fim de produzir a fala.[10] No projeto de dois tubos, o ar impactando diretamente as cordas vocais, na ausência de uma língua, de lábios e dentes, só seria capaz de produzir um número muito limitado de sons.[11] Podemos fazer um teste simples: mantenha a boca aberta e não mexa a língua enquanto tenta se comunicar. Complicado, né? Assim, ao contrário da alegação evolucionista, o projeto de comutação entre a laringe e o esôfago é um exemplo de um sistema complexo elegantemente concebido.[12] A faringe serve como única passagem para três sistemas − respiratório, digestivo e comunicativo - por muitas boas razões. Como vimos, a principal, ao contrário do que ocorre nos primatas, é a fala.

Enfim, suponhamos que devêssemos, sim, ser projetados com dois tubos. Qual seria nossa aparência? Nossa traqueia iria continuar até o nariz, exigindo que o pescoço fosse mais largo. Teríamos um nariz enorme, e nele haveria outras estruturas. É claro, o rosto teria que ser muito maior também para acomodar as estruturas adicionais. Pensando bem, estou feliz de não ter sido projetado por um proponente do neodarwinismo!

(Everton Alves)

Referências:
1. Bergman J. “Is the human pharynx poorly designed?” Journal of Creation 2008; 22(1):41-43. http://creation.com/is-the-human-pharynx-poorly-designed
2. Tarrago SB. “Prevention of choking, strangulation, and suffocation in childhood.” WMJ. 2000; 99(9):43-6. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11220195
3. Gregori D. “Saúde Pública e Prevenção de Acidentes com Corpos Estranhos: Ocorrências do Registro Europeu ‘Susy Sã e Salva’”, p. 43-62. In: Sih T. VIII Manual de Otorrinolaringologia Pediátrica da IAPO. São Paulo: Vida & Consciência, 2009. http://www.iapo.org.br/manuals/viii_manual_br_05.pdf
4. Chapin MM, Rochette LM,  Annest JL, Haileyesus T,  Conner KA,  Smith GA. “Nonfatal Choking on Food Among Children 14 Years or Younger in the United States”, 2001–2009. Pediatrics. 2013; 132(2):275-81.
5. Kramarow EWarner MChen LH. “Food-related choking deaths among the elderly.” Inj Prev. 2014; 20(3):200-3. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24003082
6. Berzlanovich AMFazeny-Dörner BWaldhoer TFasching PKeil W. “Foreign body asphyxia: a preventable cause of death in the elderly.” Am J Prev Med. 2005; 28(1):65-9. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15626557
7. Olshansky SJ, Carnes B, Butler R. “If Humans Were Built to Last.” Sci Am. 2001; 284(3):50-5. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11234506
8. Projeto “Respire pelo nariz e viva melhor”, da Academia Brasileira de Rinologia. Disponível em: http://www.respirepelonariz.org.br/acampanha.asp
9. Entrevista concedida por Fabrizio Romano. “Respiração correta é essencial para garantir resultados desejados” [Set. 2014]. JM Online, 2014. Disponível em: http://www.jmonline.com.br/novo/?noticias,7,SAUDE,99022
10. Laitman J. “The anatomy of human speech.” Natural History 1984; 93(8):20-27.
11. Gordon-Brannan ME, Weiss CE. Clinical Management of Articulatory and Phonologic Disorders. Philadelphia: Lippincott Williams and Wilkins, 2007.
12. Walter C. Thumbs, Toes, and Tears and Other Traits that Make Us Human. New York: Walker and Company, 2006.