sexta-feira, maio 08, 2015

Criacionismo “vai contra qualquer sentido científico”?

Deputada Liziane Bayer
[Meus comentários seguem entre colchetes. – MB] Fernando Becker, professor da Faculdade de Educação da UFRGS, classifica como absurda a proposta do Projeto de Lei n° 124/2015 [da deputada Liziane Bayer], que está em tramitação na Assembleia Legislativa e prevê o ensino do criacionismo em escolas públicas e privadas do Rio Grande do Sul [quero lembrar que os criacionistas bem informados e a própria Sociedade Criacionista Brasileira também são contra essa proposta; confira]. O criacionismo, segundo o docente, é uma postura “pseudocientífica”, puramente religiosa [nada mais equivocado. O criacionismo tem bases filosóficas fundamentadas na teologia bíblica (no caso do criacionismo bíblico), é verdade. Mas também se vale do método científico. À semelhança do evolucionismo, que igualmente se vale do método científico, mas está fundamentado no naturalismo filosófico. Assim, ambos os modelos possuem um componente científico e um filosófico. Polarizar a discussão como sendo ciência x religião é um erro antigo]. “É baseado em crença, não em evidência [falso! O que dizer das evidências da origem da informação complexa e específica? Da ausência de elos transicionais válidos na coluna geológica que, por sinal, apresenta uma estratificação plano-paralela que sugere superposição rápida? Da “misteriosa” explosão cambriana? Da complexidade irredutível? Dos sinais de design inteligente na natureza? Etc.]. Um total contrassenso, vai contra qualquer sentido científico [fosse assim, o próprio método científico poderia não ter sido inventado, levando-se em conta que os “pais da ciência”, em sua maioria, poderiam ser considerados “criacionistas”. Ex.: Galileu Galilei, Copérnico, Isaac Newton, Louis Pasteur, e outros. Se não houvesse “sentido científico” no criacionismo, cientistas do passado e do presente não poderiam ser criacionistas, mas esse não é o caso]. A escola tem por função trazer o conhecimento à população que de outra forma não teria como chegar aos resultados da ciência [não é correto associar “conhecimento” e “ciência” a um modelo científico cujas bases, como já disse, são filosóficas e em grande parte hipotéticas. Quem disse que levar conhecimento à população significa ensinar a evolução e proibir o ensino do criacionismo? Escolas reconhecidas, como as da rede adventista, não deixam de levar “conhecimento à população”, muito embora ensinem criacionismo e evolucionismo. Estivessem falhando na missão de ensinar, essas escolas não formariam alunos aptos para os vestibulares nem bons profissionais e acadêmicos]. É afronta à escola”, critica Becker. [Afronta é querer cercear o ensino plural e determinar arbitrariamente que os alunos não podem conhecer alternativas teóricas para o assunto das origens.]

Professor de Filosofia da mesma instituição, Luiz Carlos Bombassaro afirma que o criacionismo esbarra em um conteúdo ideológico e religioso [se é assim, por que se ensina um evolucionismo ufanista em lugar de uma visão crítica do evolucionismo? Bombassaro deveria saber que a macroevolução está nos domínios da filosofia e que o naturalismo filosófico é uma cosmovisão assumida a priori, não empírica; algo quase tão religioso quanto o criacionismo]. Os criacionistas precisariam superar essa posição dogmática para debater a criação [só eles?], que é, sim, plenamente discutível [seria bom que o evolucionismo também pudesse ser discutido, mas não é o que acontece nos centros universitários; e digo isso por experiência própria]. Um espelho aos dogmáticos poderia ser a própria ciência, que não mantém seus dogmas permanentemente, renovando-se e vivendo da crítica a eles [isso é verdade, e Thomas Kuhn fez uma boa análise dessa questão em seu livro clássico A Estrutura das Revoluções Científicas. Mas ocorre que alguns paradigmas científicos são mais resistentes do que outros, devido ao fato de que seus defensores são mais teimosos. Os questionamentos que vêm sendo feitos à teoria do Big Bang, por exemplo, parecem impensáveis no que diz respeito à teoria da evolução, embora haja também muitos questionamentos sobre ela]. No entanto, alguns defensores do criacionismo chegam a considerá-lo uma ciência, o que duplica o problema e trava a discussão, ressalva o professor [o que trava a discussão é a insistência dos evolucionistas em afirmar que o modelo deles é científico e o criacionismo, religioso. Se o componente filosófico de ambos os modelos fosse deixado de lado e se discutissem seus aspectos científicos e as evidências observáveis, o processo seria muito mais produtivo].

“Não vejo que a introdução do criacionismo nas escolas possa ajudar em qualquer coisa na solução do problema [e nós criacionistas concordamos com isso]. Tem que se discutir biologia, cosmologia e coisas assim nas escolas [perfeito. Só que biologia não é sinônimo de evolução, assim como cosmologia não é sinônimo de Big Bang]. O problema é filosófico, no fundo, e não vai ser resolvido na base de uma discussão religiosa”, argumenta [opa! Finalmente uma admissão de que o problema é “filosófico” e não propriamente científico. Então vamos discutir filosofia, oras!].

O projeto terá oposição na Assembleia. O deputado Tarcísio Zimmermann (PT) é um dos contrários, com o argumento de que o Estado é laico e a escola deve ensinar a ciência, e não dogmas [para alguns membros do PT, Estado laico é sinônimo de Estado ateu/marxista/gayzista. Portanto, qualquer coisa que se aproxime de uma visão judaico-cristã será objeto de resistência. Estado laico é aquele que não privilegia qualquer religião. Discutir os aspectos científicos do criacionismo em sala de aula não feriria a laicidade do Estado, tanto quanto discutir o naturalismo evolucionista não fere]. Ele considera que a questão do criacionismo já está contemplada no ensino religioso e não pode interferir em outras disciplinas que incluem temas como o evolucionismo ou teorias como o Big Bang [como já se admitiu que a questão é filosófica, o próprio ensino da macroevolução deveria ser feito nas aulas de filosofia, não nas de ciências].

“Se a deputada apresentar qualquer argumento científico, ela sustenta o criacionismo. Senão, não sustenta”, afirmou o petista. [Que o mesmo critério seja adotado para a macroevolução, e aí veremos quem se sustenta...]

Zimmermann ressaltou que atualmente tem ocorrido uma “espécie de efervescência de ideias que atacam a pluralidade” [???]. Ela citou como exemplo a discussão recente sobre o uso de animais em rituais religiosos de matriz africana no Estado, que seria proibido por meio de um projeto de lei da deputada Regina Becker (PDT), mas acabou sendo rejeitado. Protocolado na Assembleia, o projeto da deputada Liziane ainda não passou por nenhuma comissão.

COMO É NO BRASIL – O evolucionismo é matéria normal dentro do currículo das escolas do país. Mas há muitas instituições que ensinam o criacionismo. Escolas adventistas, por exemplo, costumam contar com a visão criacionista no currículo. A rede presbiteriana Mackenzie aborda o assunto no sexto ano do Ensino Fundamental, junto ao conteúdo evolucionista. Já a rede Pueri Domus conta com 160 unidades no país, algumas delas católicas e protestantes, e inclui o conteúdo nas aulas de ciências.

Em âmbito federal, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) entrou com um projeto de lei que torna obrigatório o ensino do criacionismo no Brasil. Durante a tramitação, que começou no ano passado, o texto foi anexado a outro projeto do mesmo deputado, datado de 2011, cujo teor obriga a inclusão do ensino religioso nas escolas. No último dia 13, o texto chegou à Comissão de Educação da Câmara, que dará um novo parecer devido à anexação dos projetos. [Discordamos de Feliciano.]

COMO É NO REINO UNIDO – No ano passado, foi proibido o ensino do criacionismo nas escolas e universidades públicas, enquanto a Teoria da Evolução passou a ser exigida nas séries iniciais. O argumento é de que as próprias religiões questionam o criacionismo, além de evidências científicas darem respaldo ao evolucionismo. [O fato é que os criacionistas bíblicos vão ficando cada vez mais isolados, e os chamados evolucionistas teístas ganham terreno.]

COMO É NOS ESTADOS UNIDOS – O panorama é diferente. Milhares de escolas ensinam o criacionismo, inclusive como uma alternativa ao evolucionismo. [É um país bem atrasado em termos de desenvolvimento acadêmico, científico e tecnológico, né?]