Deputada Liziane Bayer |
[Meus
comentários seguem entre colchetes. – MB] Fernando Becker, professor da
Faculdade de Educação da UFRGS, classifica como absurda a proposta do Projeto
de Lei n° 124/2015 [da deputada Liziane Bayer], que está em tramitação na Assembleia Legislativa e prevê o ensino do criacionismo em escolas públicas e privadas do Rio Grande do Sul [quero lembrar que
os criacionistas bem informados e a própria Sociedade Criacionista Brasileira
também são contra essa proposta; confira]. O criacionismo, segundo o docente, é uma postura “pseudocientífica”,
puramente religiosa [nada mais equivocado. O criacionismo tem bases filosóficas
fundamentadas na teologia bíblica (no caso do criacionismo bíblico), é verdade.
Mas também se vale do método científico. À semelhança do evolucionismo, que
igualmente se vale do método científico, mas está fundamentado no naturalismo
filosófico. Assim, ambos os modelos possuem um componente científico e um
filosófico. Polarizar a discussão como sendo ciência x religião é um erro
antigo]. “É baseado em crença, não em evidência [falso! O que dizer das
evidências da origem da informação complexa e específica? Da ausência de elos
transicionais válidos na coluna geológica que, por sinal, apresenta uma
estratificação plano-paralela que sugere superposição rápida? Da “misteriosa”
explosão cambriana? Da complexidade irredutível? Dos sinais de design inteligente na natureza? Etc.].
Um total contrassenso, vai contra qualquer sentido científico [fosse assim, o
próprio método científico poderia não ter sido inventado, levando-se em conta
que os “pais da ciência”, em sua maioria, poderiam ser considerados
“criacionistas”. Ex.: Galileu Galilei, Copérnico, Isaac Newton, Louis Pasteur,
e outros. Se não houvesse “sentido científico” no criacionismo, cientistas do
passado e do presente não poderiam ser criacionistas, mas esse não é o caso]. A
escola tem por função trazer o conhecimento à população que de outra forma não
teria como chegar aos resultados da ciência [não é correto associar
“conhecimento” e “ciência” a um modelo científico cujas bases, como já disse,
são filosóficas e em grande parte hipotéticas. Quem disse que levar
conhecimento à população significa ensinar a evolução e proibir o ensino do
criacionismo? Escolas reconhecidas, como as da rede adventista, não deixam de
levar “conhecimento à população”, muito embora ensinem criacionismo e
evolucionismo. Estivessem falhando na missão de ensinar, essas escolas não
formariam alunos aptos para os vestibulares nem bons profissionais e
acadêmicos]. É afronta à escola”, critica Becker. [Afronta é querer cercear o
ensino plural e determinar arbitrariamente que os alunos não podem conhecer
alternativas teóricas para o assunto das origens.]
Professor
de Filosofia da mesma instituição, Luiz Carlos Bombassaro afirma que o
criacionismo esbarra em um conteúdo ideológico e religioso [se é assim, por que
se ensina um evolucionismo ufanista em lugar de uma visão crítica do
evolucionismo? Bombassaro deveria saber que a macroevolução está nos domínios
da filosofia e que o naturalismo filosófico é uma cosmovisão assumida a priori, não empírica; algo quase tão
religioso quanto o criacionismo]. Os criacionistas precisariam superar essa
posição dogmática para debater a criação [só eles?], que é, sim, plenamente
discutível [seria bom que o evolucionismo também pudesse ser discutido, mas não
é o que acontece nos centros universitários; e digo isso por experiência
própria]. Um espelho aos dogmáticos poderia ser a própria ciência, que não
mantém seus dogmas permanentemente, renovando-se e vivendo da crítica a eles
[isso é verdade, e Thomas Kuhn fez uma boa análise dessa questão em seu livro
clássico A Estrutura das Revoluções
Científicas. Mas ocorre que alguns paradigmas científicos são mais
resistentes do que outros, devido ao fato de que seus defensores são mais
teimosos. Os questionamentos que vêm sendo feitos à teoria do Big Bang, por exemplo, parecem impensáveis no que diz respeito à teoria da evolução,
embora haja também muitos questionamentos sobre ela]. No entanto, alguns
defensores do criacionismo chegam a considerá-lo uma ciência, o que duplica o
problema e trava a discussão, ressalva o professor [o que trava a discussão é a
insistência dos evolucionistas em afirmar que o modelo deles é científico e o
criacionismo, religioso. Se o componente filosófico de ambos os modelos fosse
deixado de lado e se discutissem seus aspectos científicos e as evidências
observáveis, o processo seria muito mais produtivo].
“Não
vejo que a introdução do criacionismo nas escolas possa ajudar em qualquer
coisa na solução do problema [e nós criacionistas concordamos com isso]. Tem
que se discutir biologia, cosmologia e coisas assim nas escolas [perfeito. Só
que biologia não é sinônimo de evolução, assim como cosmologia não é sinônimo
de Big Bang]. O problema é filosófico, no fundo, e não vai ser resolvido na
base de uma discussão religiosa”, argumenta [opa! Finalmente uma admissão de
que o problema é “filosófico” e não propriamente científico. Então vamos
discutir filosofia, oras!].
O
projeto terá oposição na Assembleia. O deputado Tarcísio Zimmermann (PT) é um
dos contrários, com o argumento de que o Estado é laico e a escola deve ensinar
a ciência, e não dogmas [para alguns membros do PT, Estado laico é sinônimo de
Estado ateu/marxista/gayzista. Portanto, qualquer coisa que se aproxime de uma
visão judaico-cristã será objeto de resistência. Estado laico é aquele que não
privilegia qualquer religião. Discutir os aspectos científicos do criacionismo
em sala de aula não feriria a laicidade do Estado, tanto quanto discutir o
naturalismo evolucionista não fere]. Ele considera que a questão do
criacionismo já está contemplada no ensino religioso e não pode interferir em outras
disciplinas que incluem temas como o evolucionismo ou teorias como o Big Bang
[como já se admitiu que a questão é filosófica, o próprio ensino da
macroevolução deveria ser feito nas aulas de filosofia, não nas de ciências].
“Se
a deputada apresentar qualquer argumento científico, ela sustenta o
criacionismo. Senão, não sustenta”, afirmou o petista. [Que o mesmo critério
seja adotado para a macroevolução, e aí veremos quem se sustenta...]
Zimmermann
ressaltou que atualmente tem ocorrido uma “espécie de efervescência de ideias
que atacam a pluralidade” [???]. Ela citou como exemplo a discussão recente
sobre o uso de animais em rituais religiosos de matriz africana no Estado, que
seria proibido por meio de um projeto de lei da deputada Regina Becker (PDT),
mas acabou sendo rejeitado. Protocolado na Assembleia, o projeto da deputada
Liziane ainda não passou por nenhuma comissão.
COMO
É NO BRASIL – O evolucionismo é matéria normal dentro do currículo das escolas
do país. Mas há muitas instituições que ensinam o criacionismo. Escolas
adventistas, por exemplo, costumam contar com a visão criacionista no
currículo. A rede presbiteriana Mackenzie aborda o assunto no sexto ano do
Ensino Fundamental, junto ao conteúdo evolucionista. Já a rede Pueri Domus
conta com 160 unidades no país, algumas delas católicas e protestantes, e
inclui o conteúdo nas aulas de ciências.
Em
âmbito federal, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) entrou com um projeto de
lei que torna obrigatório o ensino do criacionismo no Brasil. Durante a
tramitação, que começou no ano passado, o texto foi anexado a outro projeto do
mesmo deputado, datado de 2011, cujo teor obriga a inclusão do ensino religioso
nas escolas. No último dia 13, o texto chegou à Comissão de Educação da Câmara,
que dará um novo parecer devido à anexação dos projetos. [Discordamos de
Feliciano.]
COMO
É NO REINO UNIDO – No ano passado, foi proibido o ensino do criacionismo nas
escolas e universidades públicas, enquanto a Teoria da Evolução passou a ser
exigida nas séries iniciais. O argumento é de que as próprias religiões
questionam o criacionismo, além de evidências científicas darem respaldo ao
evolucionismo. [O fato é que os criacionistas bíblicos vão ficando cada vez
mais isolados, e os chamados evolucionistas teístas ganham terreno.]
COMO
É NOS ESTADOS UNIDOS – O panorama é diferente. Milhares de escolas ensinam o
criacionismo, inclusive como uma alternativa ao evolucionismo. [É um país bem
atrasado em termos de desenvolvimento acadêmico, científico e tecnológico, né?]