Na verdade, outra evidência de design |
Críticos
da teoria do design inteligente (TDI),
tais como Richard Dawkins, Kelly Smith e Jerry Coyne, têm alegado que as
inervações tortuosas do nervo laríngeo recorrente (NLR) são sinais de um “bad
design” ou “design imperfeito”. O biólogo evolutivo Richard Dawkins explica a
rota seguida pelo NLR: “Ele é um ramo de um dos nervos cranianos, aqueles nervos
que levam diretamente do cérebro em vez da medula espinhal. Um dos nervos
cranianos, o nervo vago, tem vários ramos, dois dos quais vão para o coração, e
dois em cada lado da laringe (cordas vocais em mamíferos). Em cada lado do
pescoço, um dos ramos do nervo laríngeo vai direto para a laringe, seguindo uma
rota direta, como um designer pode
ter escolhido. O outro vai para a laringe através de um desvio
surpreendente. Ele mergulha direto para dentro do peito, contorna a
artéria aorta [...], e, em seguida, se dirige de volta até o pescoço para o seu
destino.” [1: p. 356]
Ele
reclama do nervo, e conclui: “Se você pensar nisso como o produto de design, o nervo laríngeo recorrente é
uma desgraça.” [1: p. 356]. Ou seja, Dawkins considera apenas seu principal
destino, a laringe. Na realidade, o nervo também tem um papel em suprir
partes do coração, músculos da traqueia e membranas mucosas e do esôfago, o que
pode explicar sua rota.
Dawkins
argumenta que faz mais sentido que os seres humanos tenham evoluído de peixes,
pois “no peixe o nervo vago tem ramos que suprem as três últimas das seis brânquias,
e é natural para eles, portanto, passar por detrás das apropriadas artérias das
brânquias. Não há nada de recorrente sobre esses ramos: eles procuram seus
órgãos finais, as brânquias, pela rota mais direta e lógica.” [1: p. 359-360] “Durante
a evolução dos mamíferos, no entanto, o pescoço esticou (peixes não têm
pescoços) e as brânquias desapareceram; algumas delas se transformaram em
coisas úteis, como a tireoide e glândulas paratireoides, e os vários outros
pedaços que se combinam para formar a laringe [...], nervos e vasos
sanguíneos foram sendo puxados e esticados em direções emaranhadas, o que
distorceu suas relações espaciais de um para outro. O pescoço e o peito de
vertebrados tornaram-se uma confusão [...]. E os nervos laríngeos
recorrentes tornaram-se mais do que acidentes exageradamente ordenados dessa
distorção.” [1: p. 360]
A
filósofa e bióloga evolucionista Kelly C. Smith afirma que “se um design na natureza é claramente inferior
ao que um engenheiro humano poderia produzir, então temos o direito de rejeitar
a DI.” [2: p. 724]. O também biólogo evolutivo Jerry Coyne chama essa
distância extra em que o NLR leva para chegar à laringe de “um dos piores
projetos da natureza”. [3: p. 82]
Como
pode ser observado, os críticos do design
inteligente acreditam que os nervos deveriam inervar a laringe diretamente do
cérebro, sem dar voltas. No entanto, há o nervo que supre a laringe diretamente
do cérebro através do nervo laríngeo superior (NLS), sem tomar o caminho mais
longo como o NLR - exatamente como eles exigem. Assim, a
laringe é, de fato, inervada tanto de cima (NLS) como de baixo (NLR).
Sabe-se
que o NLS é mais frágil, e danos causados a ele apresentam pior impacto no ser
humano do que se ocorresse ao NLR. Dentre os danos está a perda da capacidade
das pessoas de engolir, respirar, gritar, cantar ou controlar corretamente o
tom de voz.[4] Tendo em conta as diferentes condições médicas encontradas
quando os nervos NLS e NLR são danificados, observou-se que ambos os nervos executam
funções distintas. O NLS − que inerva de cima - está envolvido
na produção de sons agudos, e o NLR − que inerva de baixo -
produz sons mais graves.
Wolf-Ekkehard
Lönnig, um geneticista pró-DI, resume a controvérsia da seguinte maneira: “O
[NLR] inerva não só a laringe, mas também o esôfago e a traqueia e, além
disso, dá vários filamentos cardíacos para a parte profunda do plexo cardíaco.
[...] Não é preciso ressaltar aqui que todos os mamíferos -
apesar das diferenças substanciais gênero-específicas -
basicamente compartilham a mesma [diversidade], provando a mesma mente
genial por trás de tudo.” [5: p. 4]
Além
disso, o NLR apresenta também uma função médica. Segundo Michael Egnor,
professor e vice-presidente do departamento de neurocirurgia da Universidade
Estadual de Nova York em Stony Brook, o curso do NLR o leva através do
mediastino, onde o coração e os pulmões se encontram. Há muitos gânglios
linfáticos lá, e o alargamento desses linfonodos devido a processos como câncer
ou infecção pulmonar (tuberculose) muitas vezes irrita o NLR e provoca
rouquidão ou tosse. Isso serve de um alerta precoce para conseguir
atendimento médico, e esse alerta já salvou muitas vidas.[6]
O
Dr. Egner também dá explicações embrionárias para a formação do NLR: “A descida
dos nervos recorrentes abaixo do arco aórtico e da artéria subclávia é o
resultado de padrões de coalescência e movimentos dos componentes do arco
aórtico durante a embriogênese. Parece que a proximidade de várias camadas
e estruturas do embrião servem para orientar a embriogênese (chamado de
indução). Os detalhes desse processo só agora começam a ser compreendidos,
e o argumento darwinista de que a relação entre os nervos recorrentes e o arco
aórtico seria prova de ‘bad design’
não tem em conta as enormes complexidades do desenvolvimento embrionário.”
Em
suma, ao invés de ser um “bad design”,
a dupla inervação da laringe, de cima e de baixo, é princípio de um bom design − uma forma de redundância, ou
complementação para ajudar a minimizar o impacto sobre a função, se um desses
dois nervos ficarem danificados. Assim, podem-se enxergar indícios de
função e otimização do design com
início na inervação da laringe, mas estendendo-se ao longo do percurso a múltiplas
funções.
(Everton Alves)
Referências:
1. Dawkins R. The Greatest Show on Earth: The Evidence for
Evolution. New York, NY: Free press, 2009.
2. Smith KC. “Appealing to
ignorance behind the cloak of ambiguity.” p. 705-735. In: Pennock RT. Intelligent Design Creationism and its
Critics: Philosophical, Theological, and Scientific Perspectives. Londres:
The MIT Press, 2001. 825p.
3. Coyne JA. Why Evolution Is True. New York:
Viking, 2009.
4. Yang YS, No SK, Choi SC,
Hong KH. “Case of coexisting, ipsilateral nonrecurrent and recurrent inferior
laryngeal nerves.” The Journal of
Laryngology & Otology 2009; 123(7):e17.
5. Lönnig WE. “The Laryngeal
Nerve of the Giraffe: Does it Prove Evolution?” 2010. Disponível em: http://www.weloennig.de/LaryngealNerve.pdf.
Acesso em: 14 Abr 2015.
6. Luskin C. “Medical
Considerations for the Intelligent Design of the Recurrent Laryngeal Nerve.” Evolution News & Views, 2010.
Disponível em: http://www.evolutionnews.org/2010/10/medical_considerations_for_the039221.html. Acesso em: 14 Abr 2015.