Nova onda viciante |
Minecraft,
o mundo virtual que a maioria dos pais simplesmente não entende como funciona,
é oficialmente o jogo de maior audiência de todos os tempos no YouTube. Segundo
o portal de vídeos, o nome do game,
uma espécie de Lego digital que permite ao jogador construir mundos virtuais,
tornou-se o segundo termo mais buscado no site, atrás apenas de “música”. Nada
disso é uma surpresa para os pais de meninos e meninas que se acostumaram a
suplicar para que seus filhos fechem as janelas de Minecraft no computador para
andar de bicicleta, jogar bola, ir para a praça ou fazer qualquer outra coisa
além de passar horas assistindo a outras pessoas construírem mundos virtuais
pela internet.
Os
pais reclamam que o jogo parece ter se tornado o centro da vida destas
crianças; que elas ficam irritadiças quando não estão “ligadas” no jogo, que se
mostram displicentes em relação aos deveres da escola e a tarefas do dia a dia
em suas casas. Alguns decidiram proibir completamente o jogo ou limitar fortemente
o tempo das partidas. Um desses pais, ao explicar por que restringiu o acesso de
seus dois meninos gêmeos ao game, simplesmente disse: “Minecraft, assim como os
principais vícios, não tem fim. Por sua vez, a infância de meus filhos não é
infinita, e quero que eles a passem aprendendo sobre o mundo real, não sobre um
mundo virtual.”
Mas,
para outros, o jogo não faz mal às crianças - contanto que, ao menos, façam
algo criativo. Mas passar horas e mais horas assistindo a outras pessoas
jogarem representa um nível inédito de obsessão.
Há
um vasto catálogo de conteúdo relacionado a Minecraft no YouTube. São cerca de
42 milhões de vídeos, de clipes que dão o passo a passo para construir coisas
novas ou novas formas de modificar mundos já existentes ou então aqueles que
simplesmente mostram gravações de partidas.
“É
importante que pais ajudem seus filhos a aproveitar o Minecraft de forma
saudável, conversando com eles sobre como saber a hora de fazer intervalos e
estabelecendo regras, recompensando-os quando elas foram cumpridas”, aconselha Bec
Oakley, fundadora do MineMum, um blog que ajuda pais a entenderem o que é o
Minecraft.
Pesquisadores
na China fizeram exames de ressonância magnética no cérebros de 18
universitários que passavam uma média de dez horas por dia jogando World of
Warcraft, um RPG online. Em
comparação com outro grupo que passava menos de duas horas por dia jogando, o
primeiro apresentou menos massa cinzenta, a parte do cérebro responsável pelo
raciocínio.
E,
no início dos anos 1990, cientistas alertaram que, como videogames estimulam as regiões do cérebro que controlam a visão e
o movimento, outras partes responsáveis pela emoção e o aprendizado poderiam
ficar menos desenvolvidas.
Em
termos de pesquisas específicas sobre Minecraft, um artigo assinado pelos
psicólogos Jun Lee e Robert Pasin na revista Quartz sugere que ele pode não ser tão criativo como alguns pais
esperam. “A criatividade é limitada pelas combinações de ferramentas e
materiais disponibilizados pelo jogo para a construção de mundos. Então, os
jogadores têm apenas uma missão: criar estruturas cada vez mais complexas.
Apesar de isso parecer ser uma experiência muito criativa, crianças que
estudamos relataram se sentir irritadas e com emoções à flor da pele após
partidas de Minecraft.”
Crianças
costumam ficar obcecadas com certas coisas. Há uma longa lista de brinquedos e games que se tornaram uma obsessão para
elas, apenas para serem descartados sem cerimônia alguns anos depois. Talvez
este acabe sendo também o destino de Minecraft, e as crianças voltem a assistir
vídeos de animais fofinhos no YouTube.
Nota:
Talvez essa nova onda Minecraft realmente passe, como tantas outras antes dela.
O maior problema, nesse caso específico, é que com essa onda terão sido
desperdiçadas também horas e horas num entretenimento cuja utilidade é
discutível. Fica mais uma vez evidente que os pais precisam acompanhar o dia a
dia dos filhos e propor-lhes atividades mais educativas e úteis, como jogos em
família, leitura e aprofundamento das relações. Que Minecraft pode ser infinitamente
melhor que GTA e outros games
violentos não há dúvida. Pode até ser considerado algo bom, se utilizado com
limites. Mas quem disse que precisamos trocar o ótimo pelo bom? [MB]