terça-feira, maio 19, 2015

Por que tantas crianças passam horas no Minecraft?

Nova onda viciante
Minecraft, o mundo virtual que a maioria dos pais simplesmente não entende como funciona, é oficialmente o jogo de maior audiência de todos os tempos no YouTube. Segundo o portal de vídeos, o nome do game, uma espécie de Lego digital que permite ao jogador construir mundos virtuais, tornou-se o segundo termo mais buscado no site, atrás apenas de “música”. Nada disso é uma surpresa para os pais de meninos e meninas que se acostumaram a suplicar para que seus filhos fechem as janelas de Minecraft no computador para andar de bicicleta, jogar bola, ir para a praça ou fazer qualquer outra coisa além de passar horas assistindo a outras pessoas construírem mundos virtuais pela internet.

Os pais reclamam que o jogo parece ter se tornado o centro da vida destas crianças; que elas ficam irritadiças quando não estão “ligadas” no jogo, que se mostram displicentes em relação aos deveres da escola e a tarefas do dia a dia em suas casas. Alguns decidiram proibir completamente o jogo ou limitar fortemente o tempo das partidas. Um desses pais, ao explicar por que restringiu o acesso de seus dois meninos gêmeos ao game, simplesmente disse: “Minecraft, assim como os principais vícios, não tem fim. Por sua vez, a infância de meus filhos não é infinita, e quero que eles a passem aprendendo sobre o mundo real, não sobre um mundo virtual.”

Mas, para outros, o jogo não faz mal às crianças - contanto que, ao menos, façam algo criativo. Mas passar horas e mais horas assistindo a outras pessoas jogarem representa um nível inédito de obsessão.

Há um vasto catálogo de conteúdo relacionado a Minecraft no YouTube. São cerca de 42 milhões de vídeos, de clipes que dão o passo a passo para construir coisas novas ou novas formas de modificar mundos já existentes ou então aqueles que simplesmente mostram gravações de partidas.

“É importante que pais ajudem seus filhos a aproveitar o Minecraft de forma saudável, conversando com eles sobre como saber a hora de fazer intervalos e estabelecendo regras, recompensando-os quando elas foram cumpridas”, aconselha Bec Oakley, fundadora do MineMum, um blog que ajuda pais a entenderem o que é o Minecraft.

Pesquisadores na China fizeram exames de ressonância magnética no cérebros de 18 universitários que passavam uma média de dez horas por dia jogando World of Warcraft, um RPG online. Em comparação com outro grupo que passava menos de duas horas por dia jogando, o primeiro apresentou menos massa cinzenta, a parte do cérebro responsável pelo raciocínio.

E, no início dos anos 1990, cientistas alertaram que, como videogames estimulam as regiões do cérebro que controlam a visão e o movimento, outras partes responsáveis pela emoção e o aprendizado poderiam ficar menos desenvolvidas.

Em termos de pesquisas específicas sobre Minecraft, um artigo assinado pelos psicólogos Jun Lee e Robert Pasin na revista Quartz sugere que ele pode não ser tão criativo como alguns pais esperam. “A criatividade é limitada pelas combinações de ferramentas e materiais disponibilizados pelo jogo para a construção de mundos. Então, os jogadores têm apenas uma missão: criar estruturas cada vez mais complexas. Apesar de isso parecer ser uma experiência muito criativa, crianças que estudamos relataram se sentir irritadas e com emoções à flor da pele após partidas de Minecraft.”

Crianças costumam ficar obcecadas com certas coisas. Há uma longa lista de brinquedos e games que se tornaram uma obsessão para elas, apenas para serem descartados sem cerimônia alguns anos depois. Talvez este acabe sendo também o destino de Minecraft, e as crianças voltem a assistir vídeos de animais fofinhos no YouTube.


Nota: Talvez essa nova onda Minecraft realmente passe, como tantas outras antes dela. O maior problema, nesse caso específico, é que com essa onda terão sido desperdiçadas também horas e horas num entretenimento cuja utilidade é discutível. Fica mais uma vez evidente que os pais precisam acompanhar o dia a dia dos filhos e propor-lhes atividades mais educativas e úteis, como jogos em família, leitura e aprofundamento das relações. Que Minecraft pode ser infinitamente melhor que GTA e outros games violentos não há dúvida. Pode até ser considerado algo bom, se utilizado com limites. Mas quem disse que precisamos trocar o ótimo pelo bom? [MB]