Mistério insolúvel para a evolução |
O
sexo é o principal mecanismo de reprodução dos organismos mais complexos da
Terra. Isso apesar de muitas vezes vir acompanhado de significativos custos
biológicos, como cores, sons e cheiros que atraem parceiros, mas também
predadores, e do fato de apenas cerca da metade da prole, as fêmeas, ser capaz
de gerar outras proles. Assim, a
dominância e manutenção da reprodução sexual diante de tais ineficiências do
ponto de vista evolutivo da seleção natural intriga os cientistas. E embora
se observe que a chamada “seleção sexual” – caracterizada geralmente pela
competição entre os machos e pela escolha dos parceiros pelas fêmeas –
contribui para aumentar a diversidade genética e fortalecer uma população,
poucos experimentos procuraram demonstrar até onde vai sua força nesse sentido.
Para
preencher pelo menos parte dessa lacuna, uma equipe de cientistas da
Universidade de East Anglia, no Reino Unido, passou sete anos cuidadosamente
criando em separado populações de besouros da espécie Tribolium castaneum com a mesma ascendência sob diferentes
níveis de pressão de seleção sexual. Durante cerca de 50 gerações, essas
populações foram submetidas a condições que variaram desde nenhuma seleção
sexual, em que fêmeas e machos eram “casados” em relações monogâmicas sem disputas
entre eles ou escolha por elas, a ambientes de alta competição, com 90 machos
buscando a atenção de apenas dez fêmeas e vice-versa.
Após
esse período de criação, todas as populações foram então forçadas a enfrentar o
estresse genético da endogamia, ou seja, a reprodução apenas entre parentes
próximos. Nessa fase do experimento, que durou mais cerca de três anos, os
cientistas observaram que as populações criadas sob baixa pressão de seleção
sexual se extinguiram em menos de dez gerações, enquanto as que foram criadas
em ambientes de alta competição sexual continuaram a proliferar passadas mais
de 20 gerações.
“Nossa
pesquisa mostra que a competição entre machos pela reprodução fornece um
benefício realmente importante, pois ela melhora a saúde genética das
populações”, diz Matt Gage, professor da universidade britânica e líder do
estudo, publicado on-line nesta
segunda-feira no site da revista Nature.
“A seleção sexual faz isso ao agir como um filtro para remover mutações
genéticas prejudiciais, ajudando a população a florescer e evitar a extinção a
longo prazo.”
Gage
destaca que o experimento apoia a noção de que o sexo, apesar de suas
ineficiências, persiste como principal mecanismo para a reprodução justamente
por levar a essa competição: “Para ser bom, vencer os rivais e atrair as
parceiras na luta para se reproduzir, os indivíduos têm que se sair bem em
quase tudo, então a seleção sexual é um eficaz filtro nesse sentido.”
(O Globo)
Nota:
Que o sexo ajuda a fortalecer as populações promovendo a diversidade genética,
e que é grandemente vantajoso em relação à reprodução assexuada, todo mundo já
sabe (especialmente os usuários autorizados). Mas a pergunta que insiste em permanecer no
ar é esta: Como surgiu? Como pode ter havido mutações diferentes em organismos
diferentes numa mesma época e numa mesma região a ponto de dar origem a novos órgãos
diferentes, mas compatíveis, e a todo um sistema capaz de gerar e abrigar uma
nova forma de vida derivada de duas? Cri, cri, cri, cri... Nada de resposta
convincente. [MB]
Leia também: "A origem do sexo"