quinta-feira, maio 01, 2008

Ciência e religião segundo Bradbury

A revista Veja desta semana (26/10/05) publicou pequena entrevista com o famoso escritor de ficção científica Ray Bradbury, de 85 anos. Ele é considerado um dos papas desse gênero literário. São dele clássicos como Fahrenheit 451 e as Crônicas Marcianas. Duas das perguntas feitas pelo repórter Jerônimo Teixeira chamam a atenção, no contexto das discussões sobre ciência e religião:

Um de seus personagens diz que o erro da civilização foi ter dissociado ciência de religião. Por quê?
Há anos freqüento debates nas universidades sobre esse tema, e há sempre animosidade entre cientistas e religiosos. Isso tem de acabar. Algo nos criou. Podemos discutir que nome daremos a isso – universo, Deus, o que quer que seja. Mas essa é uma discussão ridícula. O importante é assumirmos, também nós, um papel de criadores. Estamos em dívida com o universo pelo maravilhoso dom da vida.

Qual a sua opinião sobre o debate entre a biologia e os criacionistas?
Eles deveriam parar de discutir, pois nenhum dos dois lados tem provas. Deveríamos parar com essas brigas e compreender melhor uns aos outros. Gastar nossa energia de forma criativa, para que possamos ir a Marte e, de lá, prosseguir para Alfa Centauri, a estrela mais próxima de nosso sistema. Devemos todos falar com uma só voz: religião, arte e ciência devem ser uma coisa só.

Comentário: embora Teixeira tente polarizar a discussão entre “Biologia e os criacionistas”, a resposta de Bradbury é bastante sensata e rara no meio científico: “...nenhum dos lados [criacionismo e evolucionismo] tem provas”. Não existe esse negócio de evolução ser ciência e criacionismo, religião. Ambas seriam melhor abordadas se se admitisse tratar de cosmovisões filosóficas. Ambas possuem argumentos que lhes conferem certa sustentação científica (embora seja evidente que o criacionista tenha suas motivações religiosas), mas não são capazes de, em última instância, provar que Deus tenha ou não criado o Universo e a vida. No fundo, trata-se de uma questão de fé.

Bradbury defende o fim da animosidade entre cientistas e religiosos. Creio que essa opinião seja fruto da maturidade de uma vida octogenária. Maturidade, sem dúvida, bem-vinda e necessária.

Michelson Borges