quinta-feira, maio 01, 2008

Fraude em pesquisas científicas

No programa “Fantástico” de ontem, foi ao ar matéria sobre a fraude científica que abalou a capital da Coréia, Seul. A reportagem informou que “os coreanos [choraram], decepcionados, a farsa de um ídolo nacional. Esta semana, um comitê de cientistas concluiu que o primeiro clone de um embrião humano, anunciado pelo professor Hwang Woo Suk, não passava de farsa. Durante mais de um ano, o mundo teve a falsa impressão de estar mais próximo de um conhecimento que, no futuro, pode levar à cura de muitas doenças. Células-tronco extraídas de clones, atenderiam, sem risco de rejeição, às necessidades de muitos pacientes”.

A reportagem prossegue informando que o professor Hwang usou o mesmo processo que deu origem à ovelha Dolly, o primeiro mamífero clonado de uma célula adulta. Ele retirou o núcleo da célula de um adulto e implantou num óvulo sem núcleo. O resultado deveria ter sido um clone, uma cópia exata da primeira célula. Pelo menos, foi isso que o professor coreano disse ter feito. Mas o que foi comprovado é que não era clone. O DNA, o código genético da nova célula, era diferente.

“Claramente trata-se de má fé. Existem erros científicos que podem acontecer, mas no caso dele foi uma serie de informações falsas e resultados inteiramente forjados”, explica Radovan Borojevic, biólogo da UFRJ. “O que é difícil de compreender é como é que um pesquisador experiente pudesse imaginar que, com o tempo, isso não viesse à tona. É impossível se sustentar uma fraude científica por muito tempo”, assegura Hans Francisco Dohmann, cardiologista e pesquisador.

“Como, então, a fraude pôde ser anunciada como uma das maiores conquistas da ciência?”, pergunta o “Fantástico”. “Imagine que um laboratório do Brasil acaba de fazer uma grande descoberta. Antes de anunciar para o mundo, a equipe de pesquisadores daqui terá que se submeter a algumas perguntas da comunidade científica: Que método foi usado? Com quais equipamentos? Que testes foram feitos? E as provas? Onde estão? Para tudo isso, o professor Hwang tinha respostas capazes de iludir as revistas científicas mais respeitadas da atualidade. A Science e a Nature foram duas revistas que caíram no conto do professor coreano.”

Para os editores do “Fantástico”, a farsa da clonagem humana expôs a fragilidade da divulgação de pesquisas no mundo. Hoje, o cientista escreve um resumo do trabalho e manda para o editor da revista especializada. Esse editor que, na maioria das vezes, tem formação científica, nomeia dois ou três pesquisadores que vão julgar o estudo. Eles podem propor novos testes, exigir mudanças no texto original ou simplesmente rejeitar o artigo.

“Fantástico” traz uma interessante lembrança à tona: “As muitas razões que levam à mentira produziram farsas históricas, como o caso do Homem de Piltdown. No início do século passado, cientistas ingleses anunciaram a descoberta do que seria o elo perdido entre nós, humanos, e os macacos. A fraude se manteve durante 40 anos. ‘E descobriu-se mais tarde que o crânio era de um homem moderno e a mandíbula era de um orangotango’, lembra Franklin Rumjanek, diretor do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ."

(http://fantastico.globo.com/Jornalismo/Fantastico/0,,AA1108782-4005-0-0-15012006,00.html)

Nota: A ciência é uma ferramenta humana muito útil e digna de elogios. Mas fatos tristes como esse ocorrido em Seul ajudam a mostrar que a ciência, conquanto importante, não é infalível, nem tampouco os editores de publicações científicas. Também é bom que os leitores e telespectadores passem a não aceitar tudo o que lêem (ainda que seja em revistas científicas) ou assistem como verdade inquestionável. Assim como uma fraude na área da genética, que tanto se pesquisa atualmente, pôde passar quase despercebida no meio científico, o mesmo pode se dar com outras áreas, como a paleontologia, por exemplo (veja um exemplo clicando aqui).[MB]