quinta-feira, maio 01, 2008

Os físicos e a Bíblia


Uma conversa sobre a origem do Universo com o grande físico Cesar Lattes

– No princípio, Deus criou os céus e a terra.
– Os céus e a terra, está bem? E depois criou as águas. Continue lendo...
– A terra era informe e vazia. As trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus movia-Se sobre a superfície das águas.
– Tinha o céu, a terra e as águas. Então, o que Ele disse?
– Deus disse: “Faça-se a luz.”
– Ele estava no escuro...
– E a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. Deus chamou “dia” a luz e às trevas, “noite”. Assim surgiu a tarde e em seguida a manhã. Foi o primeiro dia.
– Está bom? Então você queria saber sobre a origem do Universo? Está aqui a origem do Universo. Você conhece, já ouviu falar desse livro?

Foi assim que começou o diálogo entre uma repórter e o físico Cesar Lattes, professor emérito da Unicamp (falecido no ano passado). O peso do livro do Gênesis foi maior que o dos livros todos reunidos na Bíblia pousada sobre o sofá, lida pela jornalista a pedido do cientista. Dia agradável, ensolarado, na casa simples e acolhedora do distrito de Barão Geraldo, em Campinas, onde se abriga a família de um dos maiores cientistas do mundo.

Em 1947 Lattes descobriu o méson-pi, depois de expor chapas fotográficas muito sensíveis, conhecidas como emulsões nucleares, à altitude de 5,6 mil metros do Monte Chacaltaya, na Bolívia, onde a detecção dessas partículas seria presumivelmente mais favorável. “Mas mais emocionante foi detectar os mésons produzidos artificialmente, com Eugene Gardner, em Berkeley”, relembra o mestre.

Verbete da Enciclopédia Britânica, Lattes dizia aceitar a Bíblia como a origem da matéria. Curitibano, foi um dos criadores do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e tornou-se professor da Unicamp em 1967.

Abaixo, trechos da entrevista do Jornal da Unicamp com Cesar Lattes:

O que o senhor acredita ser aceitável para explicar a origem do Universo?
A realidade objetiva, a realidade no duro, é a resultante da superposição de todas as vontades: animais, vegetais, minerais e objetos manufaturados. Tudo tem alma. Até esse fósforo que acabei de acender. Vamos falar de Universo: cada ser é um Universo. Dizem que existem infinitos Universos. Eu não consigo conceber o conceito de infinito. Então, da origem de qual deles vamos falar? Das galáxias? Olha, eu acredito nesse livro aqui (bate na capa da Bíblia). Professo acreditar no que o cientista fala – porque é assim que ganho dinheiro como professor –, mas eu não acredito, acredito na Bíblia. As galáxias, dizem eles, está na moda, e o Big Bang, o traque enorme há 18 bilhões de anos, originou o Universo. Mas apareceu onde? No espaço e no tempo. Deus criou a matéria. Então, a origem do Universo, de acordo com os bobocas dos astrônomos, foi há 18 bilhões de anos. Só que o Sol existe apenas há 5 bilhões de anos... Eles dizem também que o Universo está em expansão. É o que dizem.

E o senhor, o que diz?
(Bate cinco, seis vezes sobre a Bíblia)

Se a teoria do Big Bang ainda é aceita, não em sua essência, mas em algumas nuances, podemos questionar de onde veio a matéria antes da grande explosão...
Deus criou. E eu não brigo com astrônomos por isso, porque eu não os levo a sério.

Se formos falar nas teorias atuais...
Quais? Temos a budista, a da Santa Igreja Católica e as que ensinam nas universidades ocidentais...

Qual a avaliação que o senhor faz da discussão de teorias recentes sobre a origem do Universo nas universidades?
Charlatanice! Porque falam de coisas sobre as quais não se pode fazer experiência. O conhecimento vem da observação. E, mediante a observação, a gente faz medidas em geral para chegar às leis. O que se pratica nas universidades é muito limitado. Para se abrir a observação é preciso trabalhar.

Quais as principais diferenças entre a Física de hoje e a praticada há 50 anos?
Muito mais charlatanesca, porque o pessoal fica falando bobagens... Big Bang, materialização da energia... Energia não se materializa, energia é energia. Eu estou escrevendo um tratado, cujo título é “Tempo, Espaço, Matéria e Velocidade Limite”, ou “Energia, Momento, Massa e Velocidade Limite”. Você não pode materializar energia. Estudar a expansão do Universo é difícil. A gente pode tentar observar o Universo. Mas o estudo só é válido se houver observação. Só teoria é conversa. Tem expansão contínua, pré-expansão...

(Para ler a entrevista completa, clique aqui)