Matéria
perfeita para o conhecido Dia da Mentira.* Depois de publicar uma “reportagem”
despropositada, em sua edição dominical de uma semana atrás (lembra-se da fada do dente?), a Folha
de S. Paulo volta à carga com uma entrevista feita com o maior ateu fundamentalista
militante de nosso tempo: Richard Dawkins. Após várias linhas introdutórias
dedicadas à propaganda gratuita dos livros do biólogo, diz a Folha na abertura da entrevista: “Figura
polêmica, Dawkins tem provocado a admiração da comunidade leiga [sim, porque
muitos especialistas – mesmo ateus –
o repudiam] ao pregar o entusiasmo pelo pensamento livre e não dogmático; e
também a ira de muitos líderes religiosos por sua crítica impiedosa ao
criacionismo - tese que rejeita a evolução das espécies - e, ao mesmo tempo,
sua apologia do ateísmo”. Detalhe: a entrevista foi gravada no mês passado, mas
somente publicada hoje. Leia alguns trechos a seguir, com perguntas dadas de
bandeja, do tipo que o ateu britânico adora (porque das difíceis ele corre,
conforme bem sabe William Lane Craig, por exemplo) [meus
comentários seguem entre colchetes]:
O sr. diz que há uma
tendência ao silêncio em relação às doutrinas religiosas dos outros, que as
pessoas evitam debater sobre suas próprias crenças, e que esse fato é nocivo à
sociedade. Não seria necessário simplesmente respeitar as diferentes crenças
das pessoas?
Não
devemos respeitar crenças que influenciam a vida de crianças e que vão contra
conhecimento dado como consenso na comunidade científica [e respeitar o ateísmo
proselitista infantil de Dawkins, devemos? Clique aqui].
Uma coisa é uma pessoa dizer que acredita em Papai Noel e manter essa crença
dentro de sua família - ainda que eu considere uma pena para os filhos. Quando
algumas pessoas, contudo, começam a ensinar que a Terra tem apenas cerca de 10
mil anos, aí eu acho um absurdo e quero lutar contra isso [este sempre é o
ponto nevrálgico: os criacionistas bíblicos. E se eu considerar nociva a ideia
de ensinar às crianças que Deus não existe, deverei também desrespeitar quem
pensa assim e “lutar” contra isso? Com seu ateísmo fundamentalista, Dawkins prega
o clima de belicosidade que não leva a nada – talvez, no máximo, a uma
inquisição sem fogueiras contra os crentes. Gostaria de ver Dawkins visitando
presídios e deixando com os bandidos exemplares de A Origem das Espécies ou de Deus,
um Delírio, para ver depois o que acontece... Ao contrário disso, Bíblias
entregues sistematicamente nesses ambientes têm transformado muitas e muitas
vidas].
Um novo papa acaba de
ser eleito. Ele é argentino. É possível dizer que isso representa um avanço em
termos políticos da fé no mundo em desenvolvimento? [De repente, o biólogo ateu
de um país anglicano se transforma em autoridade sobre assuntos católicos...]
Se
pensarmos que haverá uma menor centralização política daqueles que determinam o
futuro da Igreja Católica, sim, sem dúvida. No Brasil, a Igreja Católica tem
perdido fiéis para outras tradições protestantes. Alguns atribuem tal fenômeno
à dinâmica dos rituais católicos, ainda bastante hierarquizados e tradicionais,
se comparados às religiões protestantes. Não conheço bem o contexto brasileiro,
mas é possível imaginar que a não participação ativa dos fiéis nas missas
católicas é um dos fatores que provavelmente têm contribuído para tal queda.
Explicando
melhor, os rituais protestantes nos EUA são como shows, os participantes dançam, cantam, tocam instrumentos. Suponho
que no Brasil as missas ainda tenham um formato bastante tradicional e que
provavelmente tenham pouco apelo social para conquistar seguidores jovens.
[Enfim, o óbvio ululante que ignora contextos sociológicos mais profundos; a Folha fez a pergunta para a pessoa
errada.]
E quanto ao que não
conseguimos explicar? Não vem daí uma das “necessidades” da religião e da
crença no “sobrenatural”?
Essa
talvez seja uma das explicações que mais me aborrecem para se crer em uma
deidade. Eu gostaria que as pessoas não fossem preguiçosas, covardes e
derrotistas o suficiente para dizer: “Eu não consigo explicar, portanto isso
deve ser algo sobrenatural.” A resposta mais correta e corajosa seria a seguinte:
“Eu não sei ainda, mas estou trabalhando para saber.” [Dawkins deixa de lado os
fundadores do método científico que trabalharam arduamente para descobrir como
Deus criou o Universo. Fizeram a ciência como a conhecemos – e que garante o
ganha-pão de Dawkins – movidos por profundo sentimento de gratidão e louvor ao
Criador.]
Comentário do leitor
Valderi Felizardo da Silva: “Abri – pela última vez
e já digo por que – a página online da Folha de S. Paulo
e, depois daquela matéria do “Deus é como a fada do dente” (não existem pessoas
que, depois da infância, falem tanto da fada de dente como os ateus...), vi
outra: li uma entrevista confusa, tendenciosa e inquisitiva de Richard Dawkins
dizendo que não se deve respeitar as crenças que divergem do consenso científico.
Que consenso científico? Quem
estabelece os consensos? A ciência, que não fala nem tem opiniões, ou os formadores
de opinião? Pelo menos nos comentários [à entrevista] vejo que há pessoas que
acham que Dawkins está querendo é blindar sua posição e atacar aqueles que pensam
de modo contrário. O que está acontecendo com a Folha? Faltando matérias como aquelas dos anos de chumbo da
ditadura? Depois das opiniões de Hélio, o qual
não publica comentários de quem não seja assinante da genitora do Notícias Populares – é, eles tentam
esquecer isso, mas tá no DNA, não é? – e das demais matérias de apologia ao
ateísmo, não gastarei mais tempo nem digitais acessando o site do jornal.”
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Clique aqui para saber por que considero a
entrevista com Dawkins perfeita para o Dia da Mentira.