segunda-feira, abril 01, 2013

Ateu fundamentalista prega o desrespeito às religiões

Matéria perfeita para o conhecido Dia da Mentira.* Depois de publicar uma “reportagem” despropositada, em sua edição dominical de uma semana atrás (lembra-se da fada do dente?), a Folha de S. Paulo volta à carga com uma entrevista feita com o maior ateu fundamentalista militante de nosso tempo: Richard Dawkins. Após várias linhas introdutórias dedicadas à propaganda gratuita dos livros do biólogo, diz a Folha na abertura da entrevista: “Figura polêmica, Dawkins tem provocado a admiração da comunidade leiga [sim, porque muitos especialistas – mesmo ateus – o repudiam] ao pregar o entusiasmo pelo pensamento livre e não dogmático; e também a ira de muitos líderes religiosos por sua crítica impiedosa ao criacionismo - tese que rejeita a evolução das espécies - e, ao mesmo tempo, sua apologia do ateísmo”. Detalhe: a entrevista foi gravada no mês passado, mas somente publicada hoje. Leia alguns trechos a seguir, com perguntas dadas de bandeja, do tipo que o ateu britânico adora (porque das difíceis ele corre, conforme bem sabe William Lane Craig, por exemplo) [meus comentários seguem entre colchetes]:

O sr. diz que há uma tendência ao silêncio em relação às doutrinas religiosas dos outros, que as pessoas evitam debater sobre suas próprias crenças, e que esse fato é nocivo à sociedade. Não seria necessário simplesmente respeitar as diferentes crenças das pessoas?

Não devemos respeitar crenças que influenciam a vida de crianças e que vão contra conhecimento dado como consenso na comunidade científica [e respeitar o ateísmo proselitista infantil de Dawkins, devemos? Clique aqui]. Uma coisa é uma pessoa dizer que acredita em Papai Noel e manter essa crença dentro de sua família - ainda que eu considere uma pena para os filhos. Quando algumas pessoas, contudo, começam a ensinar que a Terra tem apenas cerca de 10 mil anos, aí eu acho um absurdo e quero lutar contra isso [este sempre é o ponto nevrálgico: os criacionistas bíblicos. E se eu considerar nociva a ideia de ensinar às crianças que Deus não existe, deverei também desrespeitar quem pensa assim e “lutar” contra isso? Com seu ateísmo fundamentalista, Dawkins prega o clima de belicosidade que não leva a nada – talvez, no máximo, a uma inquisição sem fogueiras contra os crentes. Gostaria de ver Dawkins visitando presídios e deixando com os bandidos exemplares de A Origem das Espécies ou de Deus, um Delírio, para ver depois o que acontece... Ao contrário disso, Bíblias entregues sistematicamente nesses ambientes têm transformado muitas e muitas vidas].

Um novo papa acaba de ser eleito. Ele é argentino. É possível dizer que isso representa um avanço em termos políticos da fé no mundo em desenvolvimento? [De repente, o biólogo ateu de um país anglicano se transforma em autoridade sobre assuntos católicos...]

Se pensarmos que haverá uma menor centralização política daqueles que determinam o futuro da Igreja Católica, sim, sem dúvida. No Brasil, a Igreja Católica tem perdido fiéis para outras tradições protestantes. Alguns atribuem tal fenômeno à dinâmica dos rituais católicos, ainda bastante hierarquizados e tradicionais, se comparados às religiões protestantes. Não conheço bem o contexto brasileiro, mas é possível imaginar que a não participação ativa dos fiéis nas missas católicas é um dos fatores que provavelmente têm contribuído para tal queda.

Explicando melhor, os rituais protestantes nos EUA são como shows, os participantes dançam, cantam, tocam instrumentos. Suponho que no Brasil as missas ainda tenham um formato bastante tradicional e que provavelmente tenham pouco apelo social para conquistar seguidores jovens. [Enfim, o óbvio ululante que ignora contextos sociológicos mais profundos; a Folha fez a pergunta para a pessoa errada.]

E quanto ao que não conseguimos explicar? Não vem daí uma das “necessidades” da religião e da crença no “sobrenatural”?

Essa talvez seja uma das explicações que mais me aborrecem para se crer em uma deidade. Eu gostaria que as pessoas não fossem preguiçosas, covardes e derrotistas o suficiente para dizer: “Eu não consigo explicar, portanto isso deve ser algo sobrenatural.” A resposta mais correta e corajosa seria a seguinte: “Eu não sei ainda, mas estou trabalhando para saber.” [Dawkins deixa de lado os fundadores do método científico que trabalharam arduamente para descobrir como Deus criou o Universo. Fizeram a ciência como a conhecemos – e que garante o ganha-pão de Dawkins – movidos por profundo sentimento de gratidão e louvor ao Criador.]

Comentário do leitor Valderi Felizardo da Silva: “Abri ­– pela última vez e já digo por que – a página online da Folha de S. Paulo e, depois daquela matéria do “Deus é como a fada do dente” (não existem pessoas que, depois da infância, falem tanto da fada de dente como os ateus...), vi outra: li uma entrevista confusa, tendenciosa e inquisitiva de Richard Dawkins dizendo que não se deve respeitar as crenças que divergem do consenso científico. Que consenso científico? Quem estabelece os consensos? A ciência, que não fala nem tem opiniões, ou os formadores de opinião? Pelo menos nos comentários [à entrevista] vejo que há pessoas que acham que Dawkins está querendo é blindar sua posição e atacar aqueles que pensam de modo contrário. O que está acontecendo com a Folha? Faltando matérias como aquelas dos anos de chumbo da ditadura? Depois das opiniões de Hélio, o qual não publica comentários de quem não seja assinante da genitora do Notícias Populares – é, eles tentam esquecer isso, mas tá no DNA, não é? – e das demais matérias de apologia ao ateísmo, não gastarei mais tempo nem digitais acessando o site do jornal.”

* Clique aqui para saber por que considero a entrevista com Dawkins perfeita para o Dia da Mentira.