quinta-feira, abril 04, 2013

Por que o mundo existe, ao invés do nada?

Existe uma resposta possível à pergunta “por que o mundo existe, ao invés do nada?” O mestre de yoga indiano Swami Sivananda (1887-1963) dizia que essa era uma “Atiprasna”, ou uma questão transcendental. “Você não pode encontrar a solução para essa pergunta nem se quebrar sua cabeça por milhares de anos”, dizia Sivananda. Mas o ensaísta, crítico de filosofia, matemática e ciência Jim Holt, colaborador da revista New Yorker e do jornal The New York Times, dedicou um livro inteiro à busca dessa resposta: Why Does the World Exist? An Existential Detective Story (Por que o Mundo Existe? Uma Estória de Detetive Existencial), 320 páginas, lançado em junho nos Estados Unidos. Jim foi entrevistado pelo colunista John Williams, do The New York Times, que publicou uma coluna intitulada “No small talk: Jim Holt on Why the World Exists” (Sem conversa fiada: Jim Holt sobre Por Que o Mundo Existe) com as respostas do autor. Algumas delas foram traduzidas livremente para o português [pelo blog Dharmalog] e estão publicadas abaixo.

Difícil imaginar um título mais ambicioso para um livro. Como você sintetizaria a questão que ele investiga?

Por que o Universo seu deu ao trabalho de existir? Por que há algo ao invés de nada? William James chamou esta de “a questão mais negra de toda filosofia”. Para Wittgenstein, a existência do mundo era razão para maravilhamento. “Não é como as coisas estão no mundo que é místico”, disse ele, “mas que elas existam”. Divido esse sentido de maravilhamento, e queria ver o quão longe a mente humana poderia ir penetrando no mistério da existência.

Você se lembra do momento em que pensou nessa pergunta pela primeira vez?

Cresci numa família religiosa, por isso a resposta padrão era que Deus fez o mundo, e Deus mesmo existe eternamente em sua própria natureza. Na adolescência, comecei a duvidar dessa história teológica. Me interessei pelo existencialismo e botei minhas mãos num livro de Heidegger chamado Uma Introdução à Metafísica. A primeiríssima frase era: “Por que há algo ao invés de nada?”, ainda posso me lembrar da pura poesia que me atropelou.

Você cita o autor Roy Abraham Varghese para dizer que “a pergunta original última é uma pergunta metacientífica – uma que a ciência pode fazer, mas não pode responder”. Depois de escrever esse livro, você concorda?

Varghese disse aquilo porque queria resguardar o mistério para a religião. Não fico feliz com isso. Mas também não fico feliz com o jeito que o físico Lawrence Krauss tentou responder a derradeira questão do “por que” em seu livro Um Universo do Nada (A Universe From Nothing). Krauss é um físico talentoso e um popularizador e sempre vale a leitura, mesmo quando está sendo filosoficamente tolo. Krauss, em essência, pensa que as leis da teoria do campo quântico estabelecem a existência de um universo. De onde essas leis vêm, e o que lhes dá sua aparente força sobre o vazio, ele não diz.

Há um capítulo sobre a morte de sua mãe que eu achei incrivelmente tocante. Que impacto, se houve algum, isso teve com relação às grandes perguntas feitas pelo seu livro?

A pergunta “Por que o mundo existe?” rima com a pergunta “Por que eu existo?”. As existências pessoal e cósmica são precárias ao extremo. Isso nasceu em mim quando, exatamente quando eu estava escrevendo os últimos capítulos do livro, sobre o eu e a morte, minha mãe morreu inesperadamente. Eu estava sozinho com ela no quarto do asilo no momento final. Ver um ser piscar para dentro do nada – o próprio ser que criou sua própria vida, nada menos – é sentir a esquisitice da vida de uma nova maneira.