Existe
uma resposta possível à pergunta “por que o mundo existe, ao invés do nada?” O
mestre de yoga indiano Swami Sivananda (1887-1963) dizia que essa era uma
“Atiprasna”, ou uma questão transcendental. “Você não pode encontrar a solução
para essa pergunta nem se quebrar sua cabeça por milhares de anos”, dizia
Sivananda. Mas o ensaísta, crítico de filosofia, matemática e ciência Jim Holt,
colaborador da revista New Yorker e
do jornal The New York Times, dedicou
um livro inteiro à busca dessa resposta: Why
Does the World Exist? An Existential Detective Story (Por que o Mundo
Existe? Uma Estória de Detetive Existencial), 320 páginas, lançado em junho nos
Estados Unidos. Jim foi entrevistado pelo colunista John Williams, do The New York Times, que publicou uma
coluna intitulada “No small talk: Jim
Holt on Why the World Exists” (Sem conversa fiada: Jim Holt sobre Por Que o Mundo Existe) com as respostas
do autor. Algumas delas foram traduzidas livremente para o português [pelo blog
Dharmalog] e estão publicadas abaixo.
Difícil imaginar um
título mais ambicioso para um livro. Como você sintetizaria a questão que ele
investiga?
Por
que o Universo seu deu ao trabalho de existir? Por que há algo ao invés de
nada? William James chamou esta de “a questão mais negra de toda filosofia”.
Para Wittgenstein, a existência do mundo era razão para maravilhamento. “Não é
como as coisas estão no mundo que é místico”, disse ele, “mas que elas
existam”. Divido esse sentido de maravilhamento, e queria ver o quão longe a
mente humana poderia ir penetrando no mistério da existência.
Você se lembra do
momento em que pensou nessa pergunta pela primeira vez?
Cresci
numa família religiosa, por isso a resposta padrão era que Deus fez o mundo, e
Deus mesmo existe eternamente em sua própria natureza. Na adolescência, comecei
a duvidar dessa história teológica. Me interessei pelo existencialismo e botei
minhas mãos num livro de Heidegger chamado Uma
Introdução à Metafísica. A primeiríssima frase era: “Por que há algo ao
invés de nada?”, ainda posso me lembrar da pura poesia que me atropelou.
Você cita o autor Roy
Abraham Varghese para dizer que “a pergunta original última é uma pergunta
metacientífica – uma que a ciência pode fazer, mas não pode responder”. Depois
de escrever esse livro, você concorda?
Varghese
disse aquilo porque queria resguardar o mistério para a religião. Não fico
feliz com isso. Mas também não fico feliz com o jeito que o físico Lawrence
Krauss tentou responder a derradeira questão do “por que” em seu livro Um Universo do Nada (A Universe From Nothing). Krauss é um
físico talentoso e um popularizador e sempre vale a leitura, mesmo quando está
sendo filosoficamente tolo. Krauss, em essência, pensa que as leis da teoria do
campo quântico estabelecem a existência de um universo. De onde essas leis vêm,
e o que lhes dá sua aparente força sobre o vazio, ele não diz.
Há um capítulo sobre a morte
de sua mãe que eu achei incrivelmente tocante. Que impacto, se houve algum, isso
teve com relação às grandes perguntas feitas pelo seu livro?
A
pergunta “Por que o mundo existe?” rima com a pergunta “Por que eu existo?”. As
existências pessoal e cósmica são precárias ao extremo. Isso nasceu em mim
quando, exatamente quando eu estava escrevendo os últimos capítulos do livro,
sobre o eu e a morte, minha mãe morreu inesperadamente. Eu estava sozinho com
ela no quarto do asilo no momento final. Ver um ser piscar para dentro do nada
– o próprio ser que criou sua própria vida, nada menos – é sentir a esquisitice
da vida de uma nova maneira.