quarta-feira, abril 17, 2013

“Filosofia do inferno” ou relativismo no campus?

A reitora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Maria Lúcia Cavalli Neder, participou do seminário temático “Para uma filosofia do inferno na educação: Nietzsche, Heidegger, Deleuze, Derrida”, hoje (16) de manhã, no auditório do Centro Cultural. A palestra de abertura “Para uma filosofia do inferno na educação no pensamento de Gilles Deleuze” foi proferida pelo professor Silvio Donizetti de Oliveira Gallo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Serão dois dias de atividades promovidas pelo grupo Estudos de Filosofia e Formação, em parceria com o Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE), e que abordarão o pensamento filosófico de Nietzsche, Heidegger, Deleuze e Derrida como possibilidade de formular novas indagações, valorar novos valores, conceber novos afetos e adensar diferentes emoções na educação.

“A coisa mais difícil é a transformação do pensamento”, afirmou Maria Lúcia ao destacar a importância do tema abordado no evento. Para a reitora, o seminário vai oportunizar reflexões para “desconstruir certezas” que professores e alunos têm e possam surgir novos pensamentos. Doutora em Educação, reconheceu as dificuldades de as pessoas pensarem a sala de aula fora das quatro paredes. 

A pró-reitora de Ensino de Pós-graduação, Leny Caselli Anzai, também considera importante a construção de espaço para discussão de práticas, de novas práticas e de formas de agir e pensar. Ela prevê que novas propostas deverão sair do seminário.
Segundo a diretora do Instituto de Educação, Ozerina Victor de Oliveira, esse é o momento de pensar o que foi colocado fora da pedagogia e não foi aceito.

O seminário é uma proposta de experimentação com a metáfora do inferno, como procura por indagações novas e como valoração de outros valores em relação às fortalezas morais educacionais diante da potência de personagens infernais como Nietzsche, Deleuze, Heidegger e Derrida. “A partir da noção de que o diabólico separa, enquanto o simbólico unifica, é possível pensar a educação a partir de uma multiplicidade sem unidade, de diferenças incentivadas e não apagadas. Instaura-se aqui uma crítica da subjetividade, a morte do ‘eu’ propriamente dito, e a configuração do devir, impulso ao surgimento do inusitado em práticas de ensino pré-fabricadas”, explica o coordenador do grupo Estudos de Filosofia e Formação, professor Silas Borges Monteiro.

“A filosofia do inferno se coloca como possibilidade de provocar uma forma desenraizada da fé moralizadora que permeia a educação, atua como estratégia ativa que pretende vivificá-la e potencializá-la”, completa Silas Monteiro.

Como afirma Deleuze, “engraçado, há pessoas que ainda têm medo do demônio. O demônio não tem nada de negativo, pelo contrário, é uma positividade que faz ultrapassar nossas meras possibilidades. Experimenta chamá-lo. Ele vem como criação e não como pecado!”

Nota: Não tem nada de errado usar o inferno como metáfora, até porque a concepção popular de inferno eterno é realmente mitológica (confira). Mas minimizar o mal e seu originador (Lúcifer) é algo no mínimo perigoso. Leia novamente os trechos grifados na matéria acima para perceber a tendência relativizadora que varre os campi mundo afora.[MB]