segunda-feira, abril 15, 2013

Desafios da igreja adventista na Mongólia

E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, então virá o fim.” Mateus 24:14

A Grande Esperança é um programa que tem mudado a história da igreja, especialmente no território da A Divisão Sul-Americana (DSA). A DSA é hoje uma das divisões do mundo que mais tem enviado missionários para lugares onde ainda não há liberdade de se falar abertamente sobre o cristianismo; lugares em que ainda há falta de líderes locais habilitados. Hoje, temos uma responsabilidade e o compromisso com a igreja mundial. Por muitos anos, os missionários dedicaram a vida para trazer esperança ao território da DSA. Agora chegou a vez de fazer nossa parte.

No ano de 2011, em um dia histórico, foi votado na Comissão Diretiva da DSA enviar quatro missionários com recursos próprios da DSA à recém-criada União do Oriente Médio, hoje chamada de MENA, União do Oriente Médio e África do Norte. Esses missionários estão hoje envolvidos em projetos que têm atendido comunidades nas áreas  de saúde, educação, família, mas, acima de tudo, esses missionários têm sido usados para levar esperança a corações sinceros e desejosos de conhecer mais sobre o plano da salvação. Muitos desses países são áreas de alto risco. A vida e a família desses missionários estão constantemente nas mãos de Deus e os riscos são diários.

Tive o privilegio de participar desse voto histórico. Como missionário, sabia dos desafios que essas famílias iriam enfrentar. Participei da seleção dos candidatos e, ao olhar as fotos das esposas e dos filhos, sabia que muitos estavam indo sem saber se voltariam.  O que eu não sabia é que um mês depois, em dezembro de 2011, eu e a Cleidi (minha esposa) estaríamos também recebendo um chamado para retornar aos campos missionários. Dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, mas, em nosso caso, isso aconteceu.

Como família ministerial, nunca fizemos planos de ser missionários. Nunca fizemos uma oração sequer para que Deus nos desse esse desafio, mas nossa oração ministerial sempre foi baseada em Salmo 37:5: “Entrega teu caminho ao Senhor, confia nEle, e o mais Ele fara.” Tenho a convicção de que todo aquele que decide firmar o compromisso de trabalhar para o Senhor deve também estar ciente de que quando Deus chama, Sua voz precisa ser obedecida. Nosso maior chamado não é o de ir a lugares distantes. Não é o de fazer grandes sacrifícios pela causa do Mestre. Nosso maior chamado é para a total obediência e submissão completa à vontade de Deus em nossa vida.

No ano de 2003, recebi um chamado para servir como secretario ministerial na Mongólia. Ficamos lá por seis anos. Retornamos ao Brasil no fim de 2009. Tive o privilégio de pastorear a Igreja Central de Curitiba antes de ser chamado para servir na DSA, em 2011. Para nossa surpresa, no fim do ano de 2011, fomos novamente chamados para a Mongólia, desta vez como presidente da Missão. O desafio agora não era de aceitar ou não um chamado, mas de voltar para um dos lugares mais desafiadores de se viver no mundo.

A Mongólia está localizada entre duas grandes potências do mundo: ao sul está a China e ao norte, a Rússia. Tem a capital mais fria do mundo, Ulan Bator, com um dos invernos mais longos e rigorosos. As temperaturas por seis meses variam entre 20 e 50 graus negativos. 

O cristianismo é uma religião relativamente nova na Mongólia, e ainda é visto como uma “religião estrangeira”.  Mais da metade da população é budista. Uma grande porcentagem e ateísta. Hoje, a religião que mais cresce é o shamanismo, na qual a invocação de espíritos e uma das práticas comuns. Mesmo sendo considerada hoje como tendo um sistema de governo democrático, na Mongólia a religião é controlada e aos poucos se vê um apoio forte para que essas religiões sejam adotadas como oficiais no país.

A Igreja Adventista se estabeleceu na Mongólia no inicio dos anos 1990, logo após a queda do comunismo. Um jovem casal de voluntários decidiu vir para cá por conta própria e trazer esperança a estes confins do mundo. Brad and Cathye Jolly chegaram à capital do país no ano de 1992 e o trabalho foi iniciado de forma lenta, mas consistente. Brad começou a estudar a língua local e a traduzir alguns livros, entre eles Caminho a Cristo, de Ellen White. Cathye começou a ensinar inglês e a dirigir um pequeno grupo. Em 1993, as primeiras três pessoas foram batizadas. Infelizmente, Brad contraiu câncer, e mesmo não querendo sair do país, teve que retornar aos Estados Unidos onde acabou vindo a falecer. Então, no ano de 1998, a Associação Geral enviou o primeiro missionário para estabelecer as estruturas básicas da Missão.  

Hoje temos 24 centros nos quais nossos dois mil membros se reúnem a cada semana para adorar a Deus. Temos a Adra, nossa agência humanitária que e muito bem reconhecida pelo governo local. A escola adventista foi estabelecida em 2009 e hoje temos o reconhecimento oficial do governo e quase cem alunos.

A Mongólia é um país de nômades, onde a criação de animais ainda é a fonte de renda da maioria das pessoas. Isso faz com que seja difícil estabelecer igrejas, pois onde os nômades estão localizados hoje não será o mesmo lugar em que estarão amanhã, devido aos grandes desafios climáticos do país.

Essa realidade tem mudado, pois grandes companhias multinacionais têm descoberto imensas minas de preciosos recursos naturais, e investimentos bilionários estão sendo feitos para a extração desses minérios. Isso tem levado a maioria da população a ver nesses projetos a oportunidade de uma vida mais confortável e mais estável. Automaticamente, isso tem levado a população a não mais ver a religião como uma necessidade primaria.

O grande desafio hoje é estabelecer a igreja de forma a ser mais relevante para a comunidade e a forma de eles pensar e de ver o mundo. Para a grande maioria dos Mongóis, não há problema em se falar de religião. O desafio é fazer com que o evangelho seja entendido. Como explicar o sacrifício de Jesus a uma sociedade que crê que se um deus more, na verdade, ele não era um deus poderoso, pois apenas deuses fracos morrem? Então se Cristo morreu, Ele não era um deus merecedor de ser seguido. Como falar de Jesus ao um povo que até poucos anos atrás nunca ouviu falar de Jesus? Esse é o nosso grande desafio, mas onde existem grandes desafios, ali também encontramos grandes possibilidades.

A Mongólia tem apenas três milhões de habitantes, e a maioria dos Mongóis vive na China, na região chamada Inner Mongolia. São quase vinte milhões. Como os Mongóis têm acesso livre à China, temos treinado nossos pastores e líderes para irem a essas regiões da China e levar a eles a esperança e a verdade. Como esses vinte milhões de mongóis/chineses falam o Mongol, mas também o Mandarim, poderão no futuro próximo compartilhar essa esperança com os mais de 1,3 bilhão de habitantes na China.

A forma como temos buscado implementar e consolidar a igreja na Mongólia é por meio de atividades relevantes que atraiam as pessoas para nós e, consequentemente, para Jesus. Ellen White é clara ao falar do melhor método de evangelismo: “Unicamente os métodos de Cristo trarão verdadeiro êxito no aproximar-se do povo. O Salvador misturava-Se com os homens como uma pessoa que lhes desejava o bem. Manifestava simpatia por eles, ministrava-lhes às necessidades e granjeava-lhes a confiança. Ordenava então: ‘Segue-Me’ (Jo 21:19). Assim deve ser conosco. Onde quer que estejamos, devemos vigiar as oportunidades de falar do Salvador a outros” (Serviço Cristão, p. 119).

Para isso, é preciso que tenhamos pessoas como Isaías. Jovem ainda, inteligente, cheio de sonhos e aspirações para sua vida futura. Um jovem que vivia em uma sociedade secularizada, questionadora e materialista, como a nossa sociedade hoje. Mas um jovem que decidiu buscar o reino de Deus em primeiro lugar (Mateus 6:33). Um jovem que decidiu ir à igreja, e por ir à igreja, teve uma visão que mudou para sempre sua vida (Isaías 6:1-8). Um jovem que por ir à igreja ouviu a voz de Deus. Um jovem que ao ouvir a voz de Deus decidiu deixar seus sonhos humanos de lado e sonhar os sonhos divinos. Um jovem que decidiu se aventurar nos braços do Senhor ao responder ao chamado: “A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Então disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim” (Isaías 6:8).

Quando o evangelho for literalmente levado aos quatro cantos da terra, então virá o fim. Ou melhor, então vira o começo. O começo da realização de nossa tão sonhada e aguardada esperança. Para que isso aconteça, é necessário que todo o filho e filha de Deus que anseia pelo céu se envolva e se comprometa com objetivo de apressar esse tão sonhado dia.

Comprometa-se com a comissão evangélica deixada por Cristo e decida colocar todos os talentos, tempo e recursos a serviço do Mestre, para que muito em breve a grande esperança de ver Jesus seja realizada.

(Elbert Kuhn, missionário brasileiro e presidente da Missão da Mongólia)