terça-feira, abril 30, 2013

Enfrentando verdades desconfortáveis

Em uma recente entrevista à Al-Jazeerah, Richard Dawkins foi convidado a dar sua opinião sobre Deus. Ele argumentou que o deus do “Antigo Testamento” era “horrível”, “um monstro”, e reiterou sua declaração contida no livro Deus, um Delírio de que o Deus da Torá era o personagem mais desagradável “na ficção”. Foi perguntado se ele tinha a mesma opinião sobre o Deus do Alcorão. Dawkins foi evasivo e disse: “Não sei muito sobre o Deus do Alcorão.” Como o ateu mais destemido do mundo, famoso por suas opiniões veementes sobre os deuses cristãos e judeus, poderia declarar saber tão pouco sobre o Deus do Alcorão? Será que o professor não teve tempo para isso ou está simplesmente revelando a característica mais crítica de sua espécie: o instinto de sobrevivência.

Para responder à pergunta, vale a pena considerar os recentes acontecimentos na Dinamarca. Em Copenhague, no dia 5 de fevereiro, um conhecido crítico do Islã – assim como o professor Dawkins é um crítico do Judaísmo e do Cristianismo – escapou por pouco de uma tentativa de assassinato.

Lars Hedegaard é jornalista, historiador e fundador da Free Press Society. Depois do tumulto causado pelos cartuns sobre Maomé na Dinamarca em 2005, Hedegaard se tornou o principal defensor dos direitos dos autores e artistas dinamarqueses de expressarem suas opiniões, sem medo de intimidação e assassinato.

Desde o caso dos cartuns, tem havido diversas conspirações de extremistas islâmicos para assassinar políticos, editores e outros. No dia do Ano Novo de 2010, um dos cartunistas, Kurt Westergaard, recebeu em sua casa a visita de um islâmico somali treinado que tentou decapitá-lo com um machado, nos moldes de um ritual. Westergaard escapou para o “quarto do pânico”, que os órgãos de segurança instalaram em sua casa.

Este mês foi a vez de Hedegaard. A campainha de sua casa tocou e na porta apareceu um estrangeiro que lembrava um muçulmano, usando uniforme de carteiro. O jovem mirou uma arma na cabeça dele, um senhor de 70 anos, a menos de um metro. Errou o disparo. Hedegaard atacou seu agressor, que deixou cair a arma, mas pegou novamente, apontando novamente para a cabeça do jornalista. A arma travou e o homem fugiu.

O ataque foi mencionado de forma superficial no site da BBC, pela Associated Press e por mais uns poucos veículos de comunicação. Mas sem contar esses meios, nada mais foi dito a respeito. Ou seja, apenas a mídia escandinava, que têm de forma consistente – principalmente na Suécia – conseguido culpar Hedegaard pelo ataque. Hedegaard foi constantemente descrito apenas como “um crítico do Islã”. Portanto, ele trouxe o problema para si mesmo. Já devia ter imaginado que isso poderia acontecer. Devia ter aprendido a lição pelo episódio do cartunista. Um jornal sueco – com um estilo mais saudita ou iraniano do que sueco – até chamou Hedegaard de “um inimigo do Islã”. Quem diria que só isso já seria um crime?

O professor Dawkins não é um inimigo dos judeus ou cristãos. Ele é um crítico dessas religiões. Lars Hedegaard não é um inimigo dos muçulmanos. Ele é um crítico de alguns aspectos da religião islâmica. Se o professor Dawkins fosse assassinado amanhã por um judeu ortodoxo, dificilmente o mundo iria ignorar o fato. E suspeito que dificilmente as pessoas colocariam a culpa na vítima e não no agressor.

Mas é claro que nada vai acontecer com o professor Dawkins, pois da árvore antirreligiosa de conhecimento ele colhe apenas o fruto mais fácil e que está no galho mais baixo. Hedegaard – e alguns outros – têm tentado lidar com uma questão mais difícil e globalmente mais urgente. Na reação e falta de reação ao fato, a crítica mordaz e o silêncio, muito pode ser dito sobre a situação da época em que vivemos. Isso agora é norma na Europa. Culpar a vítima ou fingir que ela já sabia que ia acontecer é o nosso mecanismo de defesa mais fácil, pois, fazendo isso, significa que podemos evitar ter que enfrentar verdades desagradáveis. Ou achar que podemos. Por enquanto.

(Douglas Murray, The JC.com; tradução: Lucas lemos)

Nota: A mesma coisa acontece com as ativistas da Femen e com certos militantes gays: batem em quem sabem que não vai revidar e acusam de intolerantes aqueles que, no máximo, discordam pacificamente de seu estilo de vida. Se Deus (qualquer deus) é um delírio e se a religião (qualquer religião) é um mal para a humanidade, por que Dawkins não diz isso abertamente de Alá e do islamismo também? Por que ele escolheu especificamente o judaísmo e o cristianismo? Se Dawkins é tão seguro de suas ideias, por que se recusa debater com "gente grande" como o filósofo e teólogo William Lane Craig?[MB]