Um contraste que só aumenta |
Essa
é a conclusão do relatório “Governar para as Elites, Sequestro Democrático
e Desigualdade Econômica”, que a ONG Oxfam Intermón publicou em 19/01/14. A
desequilibrada concentração de renda nas mãos de poucos (típica do capitalismo
retrógrado, exageradamente desigual) significa menos renda per capita para cada habitante e cada família do país. Mas isso não
implica automaticamente mais violência (mais homicídios). Outros fatores devem
ser considerados: escolaridade (sobretudo), emprego estável ou não, perspectiva
de futuro, a racionalidade ou irracionalidade da política criminal adotada,
religião, tradição, existência ou não do “tabu do sangue” (ninguém pode sangrar
outra pessoa), etc.
O
que sabemos? Que cruzando os dados objetivos do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano),
Coeficiente Gini (distribuição da renda familiar), renda per capita e o número de homicídios, temos uma tese: quanto mais
elevado o IDH e menor o Gini menos desigualdade e menos violento é o país (e
vice-versa: quanto mais baixo o IDH e mais alto o Gini, mais desigualdade e
mais violência existe). Como regra geral, essa premissa é bastante válida. As
exceções confirmam a regra.
O
que essa tese aconselha ao bom governo, assim como às lúcidas classes burguesas
dominantes? Que o incremento (a melhora substancial) dos fatores estruturadores
do IDH (escolaridade, longevidade e renda per
capita) e do Gini (distribuição da renda familiar) não pode ser
desconsiderado como fator preventivo da violência. É de se chamar a atenção
aqui, especialmente, para a educação. No lapso temporal de uma geração, a Coreia
do Sul se revolucionou completamente por meio da educação massiva de qualidade.
Esse é o fator preventivo mais relevante de todos. Como já dizia Beccaria, em
1764: “Finalmente, o mais seguro, porém o mais difícil meio de evitar os
delitos, é aperfeiçoar a educação” (Capítulo 45, do livro Dos delitos e das penas).
Os
dez países de mais alto IDH do mundo são os menos violentos (1,8 homicídio para
cada 100 mil) e ainda estão entre os menos desiguais (veja o coeficiente Gini),
com exceção dos EUA. Contam, ademais, com rendimento per capita muito alto e um excelente nível de alfabetização. O mais
desigual nesse grupo (EUA) é precisamente um dos mais violentos (conta com
quase o triplo de homicídios da média dos 47 países de maior IDH, que é de 1,8
para cada 100 mil pessoas). Isso nos conduz a concluir que não devemos nunca
considerar um único fator (IDH) para medir ou prognosticar a violência.
(Luiz Flávio Gomes, JusBrasil)
Nota:
“O Senhor queria pôr obstáculo ao amor desordenado à propriedade e ao poderio.
Grandes males resultariam da acumulação contínua da riqueza por uma classe, e
da pobreza e degradação por outra. Sem alguma restrição, o poderio dos ricos se
tornaria um monopólio, e os pobres, se bem que sob todos os respeitos
perfeitamente tão dignos à vista de Deus, seriam considerados e tratados como
inferiores aos seus irmãos mais prósperos. A consciência dessa opressão
despertaria as paixões das classes mais pobres. Haveria um sentimento de
aflição e desespero que teria como tendência desmoralizar a sociedade e abrir
as portas aos crimes de toda espécie. Os estatutos que Deus estabelecera
destinavam-se a promover a igualdade social” (Ellen G. White, Patriarcas e profetas, p. 534).
Infelizmente, quase ninguém mais segue esses estatutos (especialmente os
governantes e políticos). E o que vemos? Exatamente um mundo cada vez mais
desigual e violento. [MB]