quarta-feira, janeiro 29, 2014

Hawking afirma que buracos negros podem não existir

Mudando de ideia?
Um artigo publicado pelo físico Stephen Hawking na última semana tem provocado burburinho no mundo científico. Sendo ele próprio um dos criadores da teoria moderna sobre os buracos negros, ele afirmou no artigo que o fenômeno pode não existir. O cientista parte da ideia de que a teoria corrente por trás dos buracos negros não se confirma sob a ótica da teoria quântica, somente sob a ótica da relatividade. Ele disse à revista Nature que, enquanto a teoria clássica afirma que não há como escapar de um buraco negro, a teoria quântica “permite que energia e informação escapem de um buraco negro”. A teoria clássica, citada por Hawking, prevê a existência de um “horizonte de eventos” no buraco negro. Trata-se de uma região próxima de um buraco negro na qual a gravidade é tão forte que nada consegue escapar, nem mesmo a luz. É justamente a existência desse fenômeno que é contestada pelo físico em seu novo artigo.

“A ausência de um horizonte de eventos significa que não há buracos negros – no sentido de regimes dos quais a luz não pode escapar para o infinito”, diz o artigo de Hawking.

Há cerca de um ano e meio, cientistas do Instituto Kavli de Física Teórica, em Santa Barbara, nos Estados Unidos, já haviam proposto uma teoria que levava em conta as regras da mecânica quântica – que rege o comportamento de partículas minúsculas como moléculas, átomos e elétrons – sobre a ação dos buracos negros.

Enquanto a teoria clássica defende que um objeto, ao passar pelo horizonte de eventos, é “sugado” de forma suave para dentro do buraco negro, a teoria formulada no Instituto Kavli defende que, ao atingir o horizonte de eventos, o objeto seria imediatamente reduzido a seus elementos fundamentais e, na prática, dissolvido. Isso por causa da presença de uma região altamente energética, batizada pelos cientistas de “firewall”.

A ideia para o artigo de Hawking, segundo a revista Nature, surgiu depois de uma conferência que Hawking fez via Skype em agosto de 2013 em uma reunião sobre “firewalls” organizada pelo Instituto Kavli. O físico propõe uma ideia que seja consistente tanto com a teoria quântica quanto com a relatividade.

Hawking descreve no artigo que o que existe no buraco negro não é nem o horizonte de eventos nem o “firewall”, mas um “horizonte aparente”. Esse fenômeno seria capaz de reter e manter a matéria temporariamente, com a possibilidade de liberá-la posteriormente, porém em um formato totalmente distorcido e “bagunçado”.

“O objeto caótico em colapso irá irradiar de forma determinística, porém caótica. Será como a previsão do tempo na Terra. Ela é determinada, mas caótica, então há perda efetiva de informação. Não é possível prever o clima com mais de alguns dias de antecedência”, compara Hawking, na conclusão de seu artigo.

Em entrevista à Nature, o físico Don Page, especialista em buracos negros da Universidade de Alberta, no Canadá, afirma que a nova teoria de Hawking é plausível, porém radical ao apresentar a possibilidade de que “qualquer coisa, em princípio, poderia sair de um buraco negro”.

O artigo de Hawking, foi publicado na quarta-feira passada (22) na plataforma ArXiv.org, arquivo online mantido pela Universidade de Cornell para artigos científicos nas áreas de física, matemática, ciência da computação, biologia, finanças e estatística. O título, “Preservação de informações e previsão do tempo para buracos negros”, brinca com a dificuldade de se prever o clima, citada pelo físico no texto do artigo.


Nota: Eita! Depois que li Uma Breve História do Tempo, do Hawking, lá nos meus idos tempos de adolescente (aos 15 anos, se não me engano), passei a “encarar” (entre aspas, porque não é possível vê-los) os buracos negros e o horizonte de eventos como reais. Cansei de repetir para quem me perguntava que buracos negros são estrelas colapsadas cuja densidade é tão grande que a força gravitacional “engole” tudo o que se aproxima, até mesmo os fótons (por isso o “buraco” é negro, pois não haveria reflexão de luz). Pois é, os conceitos podem mudar... Mas é bom para eu aprender uma vez mais a desconfiar de hipóteses que são mais matemáticas (e/ou filosóficas) do que observacionais. [MB]