Opinião x Revelação |
Quando
as pessoas me diziam que eu parecia com um indiano, sempre levei o assunto como
brincadeira. Mas pessoas diferentes começaram a dizer o mesmo. Até gente de
outros lugares, quando me conhecia, afirmava a tal semelhança. O cúmulo
aconteceu no aeroporto de Cumbica. Eu estava viajando para Buenos Aires e
precisava achar o portão de embarque. Resolvi perguntar a um homem, que, logo
percebi, tratava-se de um legítimo indiano. Ele me deu a informação (com um
inglês que me pareceu bem truncado). Agradeci e me dirigi à escada rolante. Quando
cheguei ao local, vi que estava bem tumultuado, com muita gente. Não havia
tomada disponível para o notebook, sequer lugar para me assentar. Desse modo,
resolvi voltar para onde estava, uma vez que faltava meia hora para o início do
embarque. Na seção de embarque, que se localizava na parte de cima, facilmente
achei onde me assentar. Já acomodado, percebi que um homem me olhava. Junto
dele, apareceu aquele indiano, que a princípio me dera a informação.
Os
dois conversavam sobre mim, parecendo visivelmente admirados – a essa altura,
eu apenas poderia imaginar o que se passava, porque falavam baixo e com sotaque
ininteligível. Finalmente, o homem a quem eu conhecia tomou coragem e me
perguntou com aquele inglês peculiar: “Você é indiano?” Percebendo a ironia da
situação, respondi (com um inglês cheio de sotaque brasileiro): “Não, sou
brasileiro. Mas as pessoas sempre me perguntam isso...”
Depois
do episódio, me convenci: devo realmente me parecer com um indiano. Até os
indianos acham isso! Quando muitas pessoas fazem uma observação, sem
necessariamente ter contato prévio umas com as outras, é bem provável que haja
um fundo de verdade. Uma situação similar acontece em relação à identidade
adventista: há muitos estudiosos na atualidade que se mostram preocupados com
as mudanças no estilo de vida adventista e mesmo em alguns pontos de
entendimento das doutrinas bíblicas. Mesmo levando em conta a multidão de
comentários, artigos e livros sobre o assunto, poucos parecem estar convencidos
disso.
Entretanto,
o fenômeno está aí para quem quiser ver. Antigamente, quando os adventistas
diziam que se tem de guardar o sábado, o mundo evangélico reagia, dizendo que
isso era fanatismo. Hoje, se alguém afirmar que jogar videogame não é apropriado no dia de sábado (e, em alguns casos,
não é apropriado em dia nenhum!), quem dirá que isso é fanatismo serão os
próprios adventistas! Há décadas, era muito difícil alguém convencer um
adventista de algo, porque ele sempre tinha alguns versos bíblicos para apoiar
o que cria. Hoje, vá a um foro adventista e veja como as discussões giram em
torno de “eu acho que”, “em minha opinião”, “isso é o meu modo de ver” e
expressões congêneres. As mínimas noções básicas de interpretação hoje são
ignoradas. Se alguns escritores antecipavam que teríamos uma geração
biblicamente analfabeta, isso hoje não parece uma profecia amarga, todavia, já
se trata da mais cruel realidade.
Não
adianta espernear: a razão pela qual muitos querem uma renovação nos cultos e
um afrouxamento das normas de vestimenta é simplesmente porque sua mente não
faz conexão entre a experiência cristã (que eles possuem de fato) com a
necessidade de aceitar o senhorio de Jesus (que eles entendem de um modo
restrito, condicionado a um período específico e, portanto, desnecessário aos novos
tempos). Simples assim. Estamos lutando para ampliar um caminho ao qual Jesus
chamou de estreito. Enquanto o conselho para Laodiceia fala sobre necessidade
de colírio, achamos que, em terra de cego, quem precisa de colírio é rei.
Podemos
ignorar a multidão de opiniões de pastores e líderes. Mas até quando
resistiremos ao Espírito? E qual será o preço por adiarmos nos submeter a Ele
em busca de reavivamento?
(Douglas Reis, Questão de Confiança)