O que estão nos servindo? |
Vivemos em um período
singular na história da ciência. Por um lado, a ciência alcança um sucesso
extraordinário, na (bio)química, física, medicina, farmácia, computação e
tantas outras áreas. Talvez por todo esse sucesso e o merecido prestígio que
ele nos trouxe, tenhamos nos esquecido dos limites de nossa ciência, e um
ufanismo tomou conta de nós, e uma nova “religião” se consolidou – o cientificismo – e ganha mais e mais adeptos, dentro e fora da
ciência. E nós ficamos cada vez mais empolgados e fascinamos com os “superpoderes”
que cremos nossa ciência possui! E nessa empolgação nos perdemos e, por outro
lado, prestamos um grande desserviço à humanidade.
Temos hoje uma fé
absoluta na perfeição da ciência naturalista. Cremos que somente ela tem poder
para solucionar os males da humanidade; que vencerá a morte e as doenças (alguns
até se congelam a espera disso), eliminará o ódio ao banir as religiões e trará
explicações concretas para tudo, desde a origem dos raios até a piedade de
Madre Tereza de Calcutá.
A ciência naturalista
se tornou tão absoluta e tão “todo-poderosa”, que cientistas são hoje seres
inquestionáveis. Teólogos e filósofos foram deixados de lado, e os cientistas têm
a palavra certa, final e definitiva. Assim, a ciência tem hoje o monopólio da
razão. O resto é especulação, delírio, fanatismo, ignorância medieval e
obscurantista, e qualquer um que se oponha a essa tendência é logo colado a
esses mesmos adjetivos. Essa atitude de onipotência da ciência também é apoiada
fortemente pela mídia em geral, disseminando o status da ciência de um absolutismo amplo, geral e irrestrito: esse
monopólio absoluto da razão! É tanto o fascínio exacerbado pela ciência que
expectativas ufanistas de avanços científicos são feitas sem o menor pudor.
Outro dia previram, em nome da ciência e em um congresso científico, que ela
nos fará imortais já em 2048!
Duas reportagens
recentes produzidas pelo “Mensageiro Sideral” da Folha de S. Paulo forneceram exemplos claros desse ufanismo, em
particular quanto à questão maior: a de nossas origens, da vida e do
Universo. Em um clima claro de empolgação, o jornalista “científico” da Folha propagou em seu blog uma matéria
com um título bombástico: “Momento histórico: encontramos outra Terra no Universo”.
Lá, lemos que esse anúncio foi feito “com toda pompa e circunstância”, num
artigo publicado no maior de todos os periódicos científicos: a Science. E a empolgação pelo “achado
histórico” continua com uma previsão certamente utópica, mas apresentada como
uma certeza absoluta: “Nosso planeta está prestes a ganhar muitas companhias.”
Mas onde estaria o
ufanismo? E por que encontrar outra “Terra” seria um momento histórico? E por
que alguns esperam por esse achado com tanta ansiedade e se empolgam tanto na
expectativa de tê-lo testemunhado? A resposta, acredito, se encontra no
“princípio da mediocridade” de Carl Sagan. Em sua série “Cosmos”, e ao contemplar a foto do planeta Terra tirada a distancia
pela Voyager, Sagan profetizou: “Veja que planeta insignificante em que
vivemos, e veja como nós humanos somos também insignificantes, pois habitamos
um ponto pálido azul (a Terra) perdido na imensidão do Universo.” Ou seja,
segundo esse “princípio” que norteia hoje a lógica da ciência naturalista, não
há nada de especial em nós nem na Terra, e assim como o nosso planeta, deve
haver milhares e milhares de outros planetas. E como nós, deve haver em nossa
galáxia milhares e milhares de outras civilizações. É só esperar, vamos
encontrá-los! Vamos então à busca dos ETs!
Nada de especial em nós
e na Terra, pois somos “um entre milhões”. Catequizando assim gerações e
gerações de nossos jovens, a série “Cosmos” expos uma ciência naturalista
onipotente, onisciente e onipresente, e um Universo dominado pelas forças naturais:
matéria, energia e espaço, e nada mais! Somando com as ideias de Darwin, Sagan
ajudou a consolidar a religião do “cientificismo” e a formar todo um exército
de “adoradores da ciência”: os “discípulos de Sagan”. Esses são os que
hoje se encontram em nossas universidades e academias, e em jornais e revistas.
Essa galera, então, adotando o princípio da mediocridade dos homens e da Terra,
tem como certo que essa ciência “superpoderosa” os levará em breve à
confirmação das “profecias” de seus profetas e ao achado de outras Terras e,
nelas, outras civilizações. Com base nesse mesmo princípio, o programa SETI foi
lançado para “escutar ET”, e junto com a NASA há décadas gasta milhões e
milhões de dólares à procura do ET e de “outras Terras”. E precisa, então,
desesperadamente, achá-los!
Mas será que o achado
dessa “outra Terra” – o planeta Kepler 186f – foi mesmo importante e histórico?
Lendo a reportagem, vemos claramente o quê? Que não! Foi encontrado só um “mero
planetinha”, o qual de Terra só tem o quê? Duas coisinhas: (a) um diâmetro
parecido, 1,1 vez maior; e (b) orbita seu sol, este com apenas a metade do
tamanho do nosso, com uma distância apropriada para que a água, se lá existir, seja
líquida.
Só isso, gente? Sim,
só! Duas míseras similaridades! Então, alguém pode chamar isso de “Terra”?
Pode? Alguém teria direito ou qualquer justificativa de proceder assim? É claro
que não! Só os “discípulos de Sagan” se atreveriam a fazê-lo. Só quem conta com
nossa ignorância sobre o que a Terra é – e o que a vida nela requer – se
atreveria a propor um título ufanista e bombástico assim. Pois, para um planeta
ser comparado ao nosso e ser chamado de “outra Terra”, teria que ter pelo menos
algumas dezenas das milhares de condições únicas e indispensáveis da nossa
Terra – esse, sim, um planetão com P, e um P bem maiúsculo –, que permitem que
ela sustente vida, a minha e a sua!
O Kepler 186f, se
rochoso, foi um dia incandescente, e esfriou, portanto, um cinturão de blocos
de gelo – como o de Kuiper – deveria também ter sido achado lá no sistema
planetário dele. E um planeta como Júpiter, com as dimensões proporcionais de
nosso Júpiter, deveria estar por lá para ter desviado esses blocos de gelo e
tê-los atirado no Kepler 186f, como se “imagina” que o “São Júpiter” fez um dia
com a Terra. E mais ainda: guardiões planetários como Júpiter, Saturno e Marte
deveriam estar lá também para proteger o planeta e a vida nele do bombardeiro
de asteroides e cometas. Mais ainda: água parada não sustenta vida – só
favorece a dengue –, e aí então uma lua como a nossa, na proporção correta e no
diâmetro e massas corretos. Ela deveria lá orbitar também o Kepler 186f para
criar o movimento de precessão – com o ângulo correto – para formar, em seus
mares, se lá existirem, as marés corretas – e não tsunamis – que viabilizariam
a vida naquela “nova Terra”.
Mais ainda: a gravidade
deveria ser finamente ajustada naquele planeta para que ele pudesse reter a
água líquida, mas não “esmagar” a vida. O planeta deveria ter também uma
atmosfera correta com proporção correta de nitrogênio e oxigênio, e bactérias
como a anammox em seus oceanos para agir no ciclo de nitrogênio de lá, e assim
controlar a correta composição 3:1 de N2 e O2 de sua atmosfera.
Se bombardeado por
vento solar, como talvez o seja, esse planeta deveria também ser constituído da
liga perfeita de ferro e níquel, que a nossa Terra “milagrosamente” tem; e as
condições de pressão e temperatura de seu interior deveriam ser corretas para
que tivéssemos uma esfera sólida de Ni/Fe girando em um manto líquido, criando
assim um campo magnético finamente ajustado para desviar esse vento, mortal à vida.
Ozônio deveria compor também sua atmosfera, para filtrar os raios UV. Sua
rotação deveria ser também bem controlada – não basta girar, precisa girar na
velocidade certa – para homogeneizar a temperatura “global” em algo perto de 19ºC.
E muito mais seria preciso!
Enfim, são tantas e
tantas condições finamente ajustadas e interligadas que a Terra apresenta, que
Francis Crick declarou um dia que “homem honestos deveriam concluir que o
surgimento da vida (e presumo da Terra) foi ‘quase um milagre’”. Eu, Crick,
diria: foi uma “cascata” deles.
Ou seja, foi na onda do
desespero total, que já dura décadas, dos discípulos da mediocridade de Sagan,
de não se encontrar nada por meio da “superpoderosa” ciência para se servir à
mesa do naturalismo filosófico – que previu milhões de terras e milhões e
milhões de ETs – que o “Mensageiro Sideral” anunciou seu grande banquete. Nesse
banquete, os leitores da Folha, os
convidados, se sentaram à mesa, e no cardápio um prato extremamente sofisticado
e requintado foi anunciado: “outra Terra”. Mas o garçom abriu a bandeja, e o
que nela se servia? Servia-se uma “migalha”: o Kepler 186f.
Na onda ufanista que o
Kepler 186f gerou, uma reportagem, agora da revista Veja, trouxe mais outra
previsão ufanista e bombástica, novamente feita em nome da ciência. Nela, Elisa
Quintana, astrofísica que descobriu o Kepler-186f, disse que “as chances são
muito altas e acredito que encontrar vida em outros planetas é apenas questão
de tempo”. Acreditar? Usaram o verbo correto aqui: é crença pura, fé
naturalista! Gente, pode isso? Décadas monitorando o espaço, com antenas mega-superpoderosas,
e sondas espaciais, e ainda não achamos absolutamente nada, nem sequer “gemidos
de ET”, e não temos a menor ideia de como o verdadeiro “milagre da vida”
ocorreu bem aqui em nosso planeta, o qual habitamos e muito bem investigamos,
por séculos, e nada sabemos de como o “milagre da Terra” em que vivemos se
viabilizou. Mas, mesmo assim, nessa nossa ignorância, anunciamos sem pudor que
vamos achar outros planetas como a Terra e com vida dentro, e logo? Pode?
O fato bruto,
evidenciado nos dados e não nas especulações, é que precisamos admitir: a Terra
é um planeta pra lá de especial, único, sem igual! Um planeta grande, não em
tamanho, que não é documento, mas nas milhares de condições finamente ajustadas
que possui para que o milagre da vida pudesse ocorrer aqui. Encontramos um
planetinha, o Kepler 186f, que com a Terra só compartilha diâmetro e distância de
seu sol, nada mais de semelhança até agora anunciada, mas os “discípulos de
Sagan” correm e anunciam que achamos “outra Terra”. E mais ainda: que estamos certos
de em breve encontrar mais outras, e nelas muitos ETs. Pode? Chame o Procon! Propaganda
enganosa, feita em nome da ciência, e divulgada com amplo destaque na mídia. E
ninguém reclama, e todo mundo baixa a cabeça e engole seco esse absurdo? Como
pode? A ciência é, como bem disse Richard Feynman, a cultura da dúvida, nunca a
cultura da propagação de “certezas ufanistas”!
E aí outro “bispo do
naturalismo”, o Tyson, recentemente aparece na “Rede Record do Naturalismo” com
a nova série “Cosmos”. Em mais uma continuação da apologia ufanista de Sagan, a
dos poderes ilimitados da Ciência, Tyson vai logo anunciando as mesmas
“receitas ilusórias” sobre as nossas origens, como se fossem verdades
absolutas, fatos mais provados que a gravidade. Tyson não é menos ousado que
Sagan e – seguindo seu mestre – anuncia em alto e bom som que a ciência já
descobriu tudo sobre as nossas origens. No “banquete de Tyson”, copatrocinado
pelo Dr. Kaku, e pelo Hawkings, e pelo Dawkins – só faltam os dados
científicos nessa lista –, somos convidados a nos sentar – agora no sofá – e
desfrutar do “banquete de dados” sobre as nossas origens. E no cardápio é
anunciado que será servida simplesmente a “maternidade da vida”. E o que vemos
na bandeja? Vemos outra migalha: uma estrela, uma supernova. E ponto final! Uma
estrela servida salpicada com “pó cósmico”, que em nós agora habita, dizem! E
toda a galera dos “discípulos de Sagan” e agora os de Tyson aplaude, em pé.
Mas como Tyson pode
afirmar isso, em nome da ciência, se nem para as estrelas temos explicações
científicas seguras? Estude a teoria do Big Bang e me explique, pois lá eu não
encontrei tal explicação, como de uma nuvem em expansão de hidrogênio e hélio
foram produzidas grandes massas de altíssima densidade de gás – as inúmeras
gerações de estrelas supernovas que aos milhares explodiram – para formar o
Tyson? Por flutuações de densidade ou ondas de choques de supernovas? Seriam
essas explicações convincentes? Estrelas sendo “invocadas” para gerar estrelas?
E como do pó estelar poderíamos gerar planetas rochosos? Por acreção de
pedrinhas? E como trazer água para eles? E como gerar vida neles? E como de dino
formar canário? Se nem para o dino temos ancestral? Quase nada sabemos, mas o
“bispo Tyson” come a “mortadela dos dados” científicos e em seu show televisivo arrota o “caviar das
certezas científicas”, servindo o grande banquete naturalista com as migalhas
que esse modelo até aqui gerou de dados sólidos e confiáveis.
Outro “banquete de
migalhas” foi servido recentemente pelo “Mensageiro Sideral” da Folha no artigo “Química da vida no tubo de ensaio”. Nessa matéria, também com
indisfarçável empolgação, o jornalista científico anuncia “grandes achados de
simulações de química pré-biótica” realizados por químicos em um tubo de
ensaio, os quais “quase produziram vida”. E que esses achados teriam colocado “a
ciência um pouco mais perto de decifrar um dos maiores enigmas com que já se deparou:
a origem da vida”. Mais enfaticamente, o jornalista científico ainda declara
que os achados “podem explicar até a Explosão Cambriana”, grande pedra no sapato
da evolução, pois “oceano que faz metabolismo sozinho [...] encurta bastante o
caminho para formas de vida, explicando o porquê (da Explosão Cambriana)”.
Mas o que forneceram os
experimentos feitos por químicos inteligentes, com moléculas complexas, puras,
sintetizadas com todo o refinamento químico de laboratórios, e com conhecimento
prévio de quais moléculas adicionar à sopa, pois se partiu da metade do caminho
(e só quem conhece o destino final sabe onde a metade do caminho se localiza)?
Será que forneceram diversas proteínas funcionais? Pelo menos umas 300 que
sabemos hoje são o mínimo necessário para se formar vida? Ou um RNA autorreplicante,
que depois colheu do meio os aminoácidos (AA) certos e na sequência certa e
expressou algumas proteínas funcionais? Ou um DNA longo, com alguns genes
úteis? Ou um coquetel de fosfolipídios para – pelo menos – formar as membranas de
dupla camada essenciais à vida? Todos esses químicos inteligentes, todo esse
cuidado sintético, toda essa pureza química, todo esse input imenso de informação “prébiotica”, gerou o quê?
Ao lermos o artigo,
descobrimos que no “banquete da vida no tubo de ensaio” novamente foi servida
“uma migalha”! A molécula mais importante lá formada foi uma ribose-5-fosfato. Apesar de o jornalista “científico” da Folha
tê-la classificado como “uma molécula precursora do RNA” – “primo” do DNA” – e
de ter ele insinuado que essa molécula teria algo a ver com “processos
evolutivos darwinianos”, nós químicos sabemos que isso não é possível, não. Pois
a ribose-5-fosfato se trata apenas de um nucleosídeo, ou seja, nem é sequer um
nucleotídeo, esse, sim, um bloco fundamental do RNA. Pois na ribose-5-fosfato
está faltando uma classe fundamental de moléculas: uma base nitrogenada
aromática. E essa falta é crucial e mortal, pois sabemos que essa é a principal
restrição na construção “espontânea” dos blocos fundamentais de DNA/RNA. Mortal,
pois as condições de síntese de bases nitrogenadas são drasticamente distintas
daquelas requeridas para açucares, e vice-versa. E mesmo que um nucleotídeo se
formasse – um quase milagre –, sabemos que o difícil mesmo seria ligar os
diversos nucleotídeos por ligações polifosfato, ou seja, crescer o polímero do
RNA, pois tais ligações são extremamente lentas e só ocorrem com eficiência na vida
por meio de sua maquinaria molecular e de suas enzimas, que aceleram em muitas
ordens de grandeza a cinética de tais reações. Ferro de catalisador não
funciona, não!
A “migalhas” servidas no banquete do naturalismo filosófico e anunciadas no cardápio como: (a) a nossa “maternidade” (as estrelas supernovas salpicadas de “pó cósmico”), (b) a “outra Terra” (o Kepler186f), e “a vida em um tubo de ensaio” (a ribose 5-fosfato).
E mesmo que essas reações tivessem acontecido – um grande milagre –, é certo que nada útil para a vida teria sido gerado ali, pois sabemos que a chance de um RNA qualquer ter incorporado as bases certas (ATGC) e a sequência certa delas para que assim ele pudesse expressar sequer uma única proteína funcional, uma de tamanho relativamente pequeno, uns 150 AA (e a vida exige pelo menos umas 300 dessas), seria um zero absoluto, uma impossibilidade plena, menor que 1/(20)150, e os 20 AA certos, todos homoquirais, excedem todos os recursos probabilísticos deste Universo, mesmo que você espere por bilhões e bilhões de anos para essas reações ocorrerem naquele “tubo de ensaio mágico da vida”. Aqui as “meras cinco horas” não ajudam, não!
Pobre ciência, dominada
pelo naturalismo filosófico! Que transforma a “cultura da dúvida” na “ufania de
certezas infundadas”. E faminta de dados, se contenta com seus “banquetes de
migalhas”.
(Dr. Marcos N. Eberlin, com exclusividade para o blog
Criacionismo)