Um espelho da sociedade |
As
mensagens violentas ganharam espaço na internet no Brasil. Nos últimos três
anos, aumentou 203% o número de páginas (URLs) denunciadas à ONG Safernet por
divulgar conteúdos de intolerância racial, religiosa,
neonazistas, xenofobia e homofobia ou por fazer apologia e incitação a crimes
contra a vida. Em 2010, os internautas identificaram e denunciaram 6.990 dessas
páginas. No ano passado, foram 21.205, das quais 11.004 estavam no Facebook, a
rede social mais usada pelos brasileiros. Os dados excluem o Orkut, que tende a
ser descontinuado. Se considerado apenas o Facebook, o aumento no número de
perfis com mensagens violentas alcança 265% em três anos. Em 2011, os
internautas identificaram e denunciaram 3.011 páginas com esse tipo de
conteúdo. No ano passado, foram 11.004. Mensagens racistas predominam entre as
denúncias, com 6.811 páginas identificadas no Facebook, seguidas por apologia e
incitação a crimes contra as pessoas (2.398), como assassinatos, tortura,
suicídio e linchamentos – justamente o tipo de mensagem que pode provocar
tragédias como a que tirou a vida da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, em Guarujá, São Paulo.
“Infelizmente,
temos visto uma escalada da propagação do ódio na internet. Não é só um
crescimento na quantidade de mensagens de ódio, mas um recrudescimento do
conteúdo, com um nível de violência cada vez maior”, afirma Thiago Tavares,
presidente da Safernet.
O
que mais preocupa nessa escalada de violência não é só a manifestação de um
brasileiro descrente nas leis, na polícia e na Justiça: proliferam também os
grupos de ódio, como os de neonazistas, e de misoginia, que pregam ódio,
desprezo e repulsa às mulheres e suas características.
Na
avaliação de Tavares, as mensagens cada vez mais virulentas do internauta que
age isolado e contagia sua roda de amigos se misturam e legitimam o surgimento
de grupos organizados que querem, no vácuo deixado pela ineficiência das
instituições, usurpar o poder do Estado. “A internet é a imagem da sociedade
refletida no espelho. Com a mobilidade da internet, estamos permanentemente
conectados, e a tendência é que esse mundo on-line
se aproxime cada vez mais do off-line.
No caso dos grupos de ódio, há um núcleo duro que espalha conteúdo, se envolve
e cria polêmicas, e tenta se organizar fora da rede. O que está em jogo é a
própria democracia”, diz Tavares.
Além
dos grupos de ódio, há a violência difusa que espalha preconceito racial, religioso, xenófobo e homofóbico –
ainda mais difícil de ser identificada e controlada. Na opinião do psicólogo
Rodrigo Nejm, da Safernet, é preciso educar o brasileiro para a cidadania
digital. Há uma diferença entre o que o cidadão fala dentro das redes sociais e
fora dela.
Uma
pesquisa com usuários de internet com idade entre 9 e 23 anos, entre 2012 e
2013, mostrou que 61% deles se comportam nas redes de forma diferente, 34% se
sentem mais livres e 10% acham normal “zoar e xingar”.
(Veja, via O Globo)