quinta-feira, maio 15, 2014

Uma sociedade doente e violenta

Um espelho da sociedade
As mensagens violentas ganharam espaço na internet no Brasil. Nos últimos três anos, aumentou 203% o número de páginas (URLs) denunciadas à ONG Safernet por divulgar conteúdos de intolerância racial, religiosa, neonazistas, xenofobia e homofobia ou por fazer apologia e incitação a crimes contra a vida. Em 2010, os internautas identificaram e denunciaram 6.990 dessas páginas. No ano passado, foram 21.205, das quais 11.004 estavam no Facebook, a rede social mais usada pelos brasileiros. Os dados excluem o Orkut, que tende a ser descontinuado. Se considerado apenas o Facebook, o aumento no número de perfis com mensagens violentas alcança 265% em três anos. Em 2011, os internautas identificaram e denunciaram 3.011 páginas com esse tipo de conteúdo. No ano passado, foram 11.004. Mensagens racistas predominam entre as denúncias, com 6.811 páginas identificadas no Facebook, seguidas por apologia e incitação a crimes contra as pessoas (2.398), como assassinatos, tortura, suicídio e linchamentos – justamente o tipo de mensagem que pode provocar tragédias como a que tirou a vida da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, em Guarujá, São Paulo.

“Infelizmente, temos visto uma escalada da propagação do ódio na internet. Não é só um crescimento na quantidade de mensagens de ódio, mas um recrudescimento do conteúdo, com um nível de violência cada vez maior”, afirma Thiago Tavares, presidente da Safernet.

O que mais preocupa nessa escalada de violência não é só a manifestação de um brasileiro descrente nas leis, na polícia e na Justiça: proliferam também os grupos de ódio, como os de neonazistas, e de misoginia, que pregam ódio, desprezo e repulsa às mulheres e suas características.

Na avaliação de Tavares, as mensagens cada vez mais virulentas do internauta que age isolado e contagia sua roda de amigos se misturam e legitimam o surgimento de grupos organizados que querem, no vácuo deixado pela ineficiência das instituições, usurpar o poder do Estado. “A internet é a imagem da sociedade refletida no espelho. Com a mobilidade da internet, estamos permanentemente conectados, e a tendência é que esse mundo on-line se aproxime cada vez mais do off-line. No caso dos grupos de ódio, há um núcleo duro que espalha conteúdo, se envolve e cria polêmicas, e tenta se organizar fora da rede. O que está em jogo é a própria democracia”, diz Tavares.

Além dos grupos de ódio, há a violência difusa que espalha preconceito racial, religioso, xenófobo e homofóbico – ainda mais difícil de ser identificada e controlada. Na opinião do psicólogo Rodrigo Nejm, da Safernet, é preciso educar o brasileiro para a cidadania digital. Há uma diferença entre o que o cidadão fala dentro das redes sociais e fora dela.

Uma pesquisa com usuários de internet com idade entre 9 e 23 anos, entre 2012 e 2013, mostrou que 61% deles se comportam nas redes de forma diferente, 34% se sentem mais livres e 10% acham normal “zoar e xingar”.

(Veja, via O Globo)