Dependência de um ajuste fino |
A
ciência obteve grandes vitórias contra os dogmas religiosos entrincheirados
durante o século 19. Durante os anos 1800, descobertas do Homem de Neanderthal
foram realizadas na Bélgica, Gibraltar e Alemanha, e mostraram que os homens
não foram os únicos hominídeos a ocupar a Terra, e fósseis de agora extintos
animais e plantas demonstraram que a fauna e a flora evoluem, vivem por
milênios e, então, algumas vezes, desaparecem, cedendo seu lugar no planeta
para espécies mais bem adaptadas. Essas descobertas trouxeram forte suporte a
então emergente teoria da evolução, publicada por Charles Darwin em 1859. E em
1851, Leon Foucalt, um físico francês autodidata, provou definitivamente que a
Terra gira – em lugar de estar no lugar enquanto o Sol gira em torno dela –,
usando um pêndulo especial cujo movimento circular provou a rotação da Terra.
Igualmente, descobertas geológicas feitas no mesmo século devastaram a hipótese
da “Terra Jovem”. Sabemos agora que a Terra tem bilhões – e não milhares – de
anos de idade, como alguns teólogos haviam calculado com base na contagem de
gerações desde o Adão bíblico. Todas essas descobertas desbarataram a
interpretação literal das Escrituras. [Pelo menos, assim pensam os
naturalistas.]
Mas
a ciência moderna, do início do século 20, provou que não existe Deus, como
alguns comentaristas estão agora apregoando? A ciência é uma aquisição
espetacular, maravilhosa: ela nos ensina sobre a vida, o mundo e o Universo.
Mas ela não nos revelou por que o Universo veio à existência, nem o que
precedeu seu nascimento no Big Bang. Igualmente, a evolução biológica não nos
trouxe nem um mínimo entendimento de como os primeiros organismos vivos [teriam
emergido] de matéria inanimada neste planeta, e como as avançadas células
eucariotas – os altamente estruturados blocos de construção das formas de vida
– vieram de organismos mais simples. Nem explica um dos maiores mistérios da
ciência: Como a consciência surge nas coisas vivas? De onde vem o pensamento
simbólico e a autoconsciência? O que é que permite aos humanos entender os
mistérios da biologia, física, matemática, engenharia e medicina? E o que nos
habilita a criar grandes obras de arte, música, arquitetura e literatura? A
ciência não está nem perto de explicar esses mistérios profundos.
Mas
muito mais importante que esses enigmas é a persistente questão do ajuste fino
dos parâmetros do Universo: Por que nosso Universo é tão precisamente tunado para a existência da vida? Essa
questão nunca foi respondida satisfatoriamente, e eu acredito que nunca haverá
uma solução científica. Quanto mais mergulhamos nos mistérios da física e da cosmologia,
mais o Universo aparenta ser intrincado e incrivelmente complexo. Para explicar
o comportamento da mecânica quântica de uma única partícula minúscula requerem-se
páginas e páginas de matemática extremamente avançada. Por que mesmo as
mais ínfimas partículas de matéria são tão inacreditavelmente complicadas?
Parece que há uma vasta, escondida “sabedoria”, ou estrutura, ou uma planta
nodosa para mesmo os aparentemente mais simples elementos da natureza. E a
situação se torna muito mais assustadora quando expandimos nossa visão para o
cosmo inteiro.
Sabemos
que 13,7 bilhões de anos atrás [sic], uma gigantesca explosão de energia, cuja
natureza e fonte são completamente desconhecidas para nós e não menos
ininteligíveis para a ciência, teve início a criação do Universo. Então,
subitamente, como se fosse por mágica, a “Partícula de Deus” – o bóson de Higgs
descoberto dois anos atrás dentro do poderoso acelerador de partículas do CERN
– o Grande Colisor de Hádrons – veio à existência e miraculosamente deu ao
Universo sua massa. Por que isso aconteceu? A massa constitui as partículas
elementares – os quarks e o elétron – cujos pesos e cargas elétricas tinham que
ser imensuravelmente restritos aos seus limites para o que iria acontecer
depois. Pois de dentro da “sopa” primordial de partículas elementares que
constituíram o Universo jovem, novamente, como se por uma mão mágica, todos os
quarks repentinamente se agruparam em três para formar prótons e nêutrons.
Todas as massas, as cargas e as forças de interação no Universo haviam se
ajustado na precisa quantidade necessária para que os primeiros átomos leves
pudessem se formar. Os maiores poderiam então ser “cozidos” em fogos nucleares
no interior de estrelas, então nos dando carbono, ferro, nitrogênio, oxigênio e
todos os outros elementos tão essenciais ao surgimento [sic] da vida. E,
eventualmente, a altamente complexa molécula de dupla-hélice, a propagadora da
vida, DNA, seria formada.
Por
que tudo que precisávamos para vir a existência veio a existir? Como tudo isso
seria possível sem um poder latente exterior a orquestrar a precisa dança das
partículas elementares requeridas para a criação de todas as essências da vida?
O grande matemático britânico Roger Penrose calculou – com base em apenas uma
das centenas de parâmetros do Universo físico – que a probabilidade do
surgimento de um cosmos propenso à vida é de um dividido por 10, elevado à
décima potência e novamente elevado à 123ª potência. Esse é um número tão perto
de zero que ninguém jamais imaginou. (A probabilidade é tão, tão pequena que é
menor do que ganhar na Mega-Sena por mais dias que os da existência do Universo.)
Os
“ateus científicos” têm se embaralhado para explicar esse mistério perturbador pela
existência de um multiverso – um conjunto infinito de universos, cada um com
seus próprios parâmetros. Em alguns universos, as condições são impossíveis
para a vida; a despeito disso, pelo tamanho descomunal deste imenso multiverso,
deve haver um universo onde tudo está correto. Mas se é necessário um imenso
poder da natureza para criar um universo, então quão mais poderosa deve ser
aquela força para criar infinitos universos? Então o puramente hipotético
multiverso não resolve o problema de Deus. O incrível ajuste fino do Universo se
apresenta o mais poderoso argumento para a existência de uma Entidade criativa
imanente que nós bem podemos chamar Deus. Na ausência de evidência científica
contrária, tal poder pode ser necessário para forçar todos os parâmetros que
nós precisamos para nossa existência – cosmológicos, físicos, químicos,
biológicos e cognitivos – ser o que eles são.
(Time; tradução de
Alexsander Silva)