A luz dissipa as brumas da existência |
Acreditar
ou não acreditar em Deus jamais será algo que dependa essencialmente de provas.
Até que ponto as “provas” provam alguma coisa? Nesse quesito, as “provas” e
certezas ditas esmagadoras, a meu ver, tornam o desafio da crença ou da
descrença simplório demais e redutível às falhas da interpretação humana. Elas
não dão conta de assunto tão amplo por se chocarem com a natureza contraditória
da realidade. Daí a humildade intelectual será sempre bem-vinda,
transformando-nos em “crianças” cheias de porquês. Debaixo do sol (para usar
uma expressão do Eclesiastes), teremos que lidar com a ambiguidade da vida:
amor/ódio, bem/mal, luz/escuridão, dúvidas/convicções provisórias, vida/morte,
ser/não ser. Pois o mundo não está arrumadinho como desejaríamos que estivesse;
ele é visto pelas lentes de nossa subjetividade nevoenta.
Então,
só mesmo a luz para dissipar as brumas da existência. E onde ela se manifesta
de forma mais intensa? Na religião, na filosofia, na ciência, no senso comum? Ou
em todos eles, cada um com seus aríetes demolidores ora de certezas,
ora de incertezas? A luz mora dentro ou fora de nós? Na imanência, na
transcendência, em ambas ou não está em lugar algum? É extenuante
e vã nossa procura? Eu me recuso a viver em trevas totais! Pelo menos
preciso de uma “penumbra” para não andar tão cego neste mundo, já que a
odisseia humana (faço parte dela) é uma constante e insistente jornada em busca
de luz.
É
um desejo: “Fiat lux!” Que será da
vida se o Sol se apagar, se não tivermos mais horizontes para contemplar, se
Deus não existir, se Ele estiver “morto”? Levante os argumentos, dê a sua
resposta subjetiva, faça a sua escolha e viva de acordo com sua resposta e as
consequências existenciais advindas dela: essa é a prova da experiência.
E
os indiferentes, que nem estão aí pra pensar sobre coisas tão complicadas e
aparentemente abstratas? Eles preferem viver o hedonismo, o aqui e agora, a
pensar em temas transcendentais considerados pouco relevantes para quem sofre
demais ou quem tem uma vida muito tranquila. Mas até os “indiferentes”, em
algum momento, terão que enfrentar a questão universal que se impõe a todas as
mentes.
Não
podemos negar que acreditar ou não acreditar é um anseio profundamente
desejante, mais intenso que uma busca estritamente intelectual; constitui uma
guerra de pulsões – às vezes um pêndulo que oscila a depender dos
acontecimentos de nossa vida. Podemos até reunir dados e evidências que nos
sinalizem certa direção; contudo, eles funcionam apenas como pequenas lanternas
tentando iluminar a escuridão do Universo. Por isso, fico com Lord Tennyson,
poeta britânico do século 19:
“Nada
digno de prova pode ser provado, nem refutado; então seja sábio, apegue-se
sempre ao lado mais ensolarado da dúvida.”
O
meu “lado ensolarado da dúvida”, bastante racional, clama: “Acredita! O teu
mundo gira em torno de um sol.” Porquanto crer envolve o poder de uma
experiência iluminadora que qualquer argumento contrário é insuficiente e
incapaz de negar ou escurecer. A justificação para o
principal argumento da crença ou da incredulidade não está na face
objetiva do mundo. Parece-me que o espaço da subjetividade e da
vontade constitui o reduto da ausência de fé. Da mesma forma,
o lugar onde mais sinto Deus é dentro do meu próprio coração!
(Frank de Souza
Mangabeira, membro
da Igreja Adventista do Bairro Siqueira Campos, Aracaju, SE; servidor do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe)