quinta-feira, maio 01, 2014

Em nome do criacionismo

Pegada de T-Rex (Boston Museum)
Escritor, jornalista e mestre em teologia. Esses são atributos de um dos mais conhecidos nomes do criacionismo no Brasil. Michelson Borges, natural de Criciúma, Santa Catarina, formou-se em jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e fez mestrado em Teologia pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus de Engenheiro Coelho. É autor de livros como A História da Vida e Por Que Creio, ambos lançado pela Casa Publicadora Brasileira (CPB), onde trabalha atualmente. Há cerca de oito anos procurou uma forma simples de abordar um tema complexo ao criar um blog voltado para o criacionismo. “O criacionista procura enxergar a realidade com as lentes da teologia e da ciência. É possível ver mais longe desse jeito.” Abaixo, trechos da entrevista cedida à ABJ-Notícias.

O que levou você a mudar de sua antiga filosofia darwinista ao criacionismo? E o que o criacionismo representa hoje para você? 

Abandonei a ideia da macroevolução e o naturalismo filosófico quando estudava no curso técnico de química. Sempre fui amante da ciência e, por isso, naturalmente cético. Quando soube que o darwinismo tinha graves insuficiências epistêmicas, passei a estudar o assunto mais a fundo. Deparei-me com o argumento da complexidade irredutível, de Michael Behe, e com a tremenda dificuldade que o darwinismo tem em explicar a origem da informação complexa e específica. De onde surgiu a informação genética necessária para fazer funcionar a primeira célula? De onde proveio o acréscimo de informação necessária para dar origem a novos planos corporais e às melhorias biológicas? O passo seguinte foi buscar um modelo que me fornecesse respostas ao enigma do código sem o codificador, do design sem o designer, da informação sem a fonte de informações. Fiquei aturdido com a complexidade física do Universo e com a complexidade integrada da vida. Nessas pesquisas, descobri que o criacionismo é a cosmovisão que associa coerentemente conhecimento científico e conhecimento bíblico. E me descobri em boa companhia ao saber que grandes cientistas como Galileu, Copérnico, Newton, Pascal, Pasteur e outros não viam contradição significativa entre a ciência experimental e a teologia judaico-cristã. Usei meu ceticismo, fui atrás das evidências – levassem aonde levassem – e me surpreendi com uma interpretação simples e não anticientífica para as origens. Resultado? Tornei-me criacionista.

Há quanto tempo e de que forma surgiu a ideia de criar o blog criacionismo?

Há cerca de oito anos, quando percebi que poderia contribuir com a causa criacionista popularizando o assunto e “traduzindo” conteúdos que geralmente são tratados de maneira muito acadêmica.

Você escreveu livros como Por Que Creio e História da Vida, ambos voltados para sua atual filosofia. O que o levou a escrevê-los? Seria uma forma de responder a outras perguntas que você tinha quando darwinista?

No caso do A História da Vida, procurei reunir os argumentos que me fizeram abandonar o darwinismo e, assim como faço no blog, abordá-los numa linguagem compreensível. Por isso mesmo, considero esse livro uma boa introdução à controvérsia entre a criação e a evolução. O Por Que Creio nasceu de um desafio, se posso dizer assim. Em 2002, uma revista popular de divulgação científica no Brasil teve a “coragem” de afirmar que os criacionistas seriam “especialistas autoproclamados”. Isso me deixou indignado e corri atrás de 12 pesquisadores criacionistas de várias áreas e com boa formação acadêmica, entrevistei cada um deles, reuni o material em forma de livro e provei que a tal revista estava errada. Enviei exemplares aos editores, mas nunca obtive qualquer resposta. Não que eu esperasse isso...

Algumas pessoas acreditam na inviabilidade de conciliar ciência e religião. Isso seria um mito? Qual a sua visão em relação a esse pensamento?

Os criadores do método científico, homens do quilate de Isaac Newton, Galileu Galilei e Copérnico, eram profundamente religiosos, criam na Bíblia e nos legaram um tremendo patrimônio científico. Atualmente, também há cientistas que conciliam essas duas facetas do conhecimento e se valem dessas duas “ferramentas” para compreender a realidade. Dispensar a teologia ou a ciência é abrir mão de lentes poderosas para compreender o mundo que nos cerca. A verdade é muito ampla e nossos esforços para conhecê-la também devem ser amplos.

Como mestre em teologia, de que forma você percebe a teologia interagindo com o criacionismo?

A teologia bíblica é a base filosófica do criacionismo, assim como o naturalismo é a do evolucionismo. E ambas são adotadas a priori, não derivam da pesquisa científica. Na verdade, elas até orientam as pesquisas.

Para você por que as pessoas deveriam acreditar no criacionismo?

As pessoas deveriam pelo menos considerar os argumentos criacionistas, sem se deixar levar pelo preconceito. Considero no mínimo injusto descartar uma ideia sem antes conhecê-la. O verdadeiro conhecimento nasce da análise do contraditório, da ponderação. Por isso, seria muito útil, realmente, avaliar os argumentos criacionistas e evolucionistas, sempre à luz da ciência experimental, do método científico.

(Leonardo Lacerda; ABJ Notícias)