segunda-feira, maio 05, 2014

Querem combater um preconceito reforçando outro

"Macacos" versus "fanáticos"
A campanha antirracismo iniciada pelo jogador Neymar nas redes sociais sob a marcação #somostodosmacacos [confira aqui] no último domingo tem suscitado opiniões conflitantes. Logo após seu colega do Barcelona, Daniel Alves, comer uma banana que havia sido atirada no campo por um torcedor na intenção de comparar o jogador a um macaco, Neymar deu início a uma campanha no Instagram e no Twitter para descaracterizar a atitude preconceituosa. Soube-se, no dia seguinte, que o movimento havia sido pensado semanas antes, com o auxílio da agência de propaganda Loducca. Com isso, a opinião pública se dividiu e muitos se frustraram pelo fato de o movimento não ter uma origem espontânea – e sim ter sido orquestrado por profissionais. Mas, oportunista ou não, para a revista americana Time, a mais influente do mundo, a estratégia de Neymar e de sua equipe de marqueteiros foi “brilhante”.

Segundo a Time, Neymar e Daniel Alves “são garotos-propaganda perfeitos para uma campanha antirracismo” pelo fato de ambos terem projeção internacional e milhares de seguidores em redes sociais. A revista ainda aproveita para lançar uma crítica à FIFA, cuja atuação para reduzir o racismo no futebol não tem surtido resultados – sobretudo pelo fato de não haver punição para investidas preconceituosas no estádio, como foi o caso do torcedor que jogou a banana. “Marquem isso como uma lição para a FIFA, o órgão poderoso do futebol, que vem enfrentado dificuldades para encontrar formas de extinguir gritos racistas e abusos por parte de seus fãs ao redor do mundo. Fazer outra campanha inteligente executada pelos próprios jogadores e direcionada aos fãs mais novos pode render frutos similares”, diz a reportagem.

Ao site de VEJA, o publicitário Guga Ketzer, da Loducca, afirmou que a ação foi preparada duas semanas antes, depois que Neymar e Daniel Alves foram alvo de outra investida racista durante o jogo do Barça contra o Espanyol. Segundo o publicitário, Neymar havia planejado comer a banana em campo quando surgisse a oportunidade – e então lançar a campanha. [...]

Nesta quarta-feira, a agência Loducca enviou um comunicado à imprensa rechaçando críticas de que #somostodosmacacos também é um manifesto racista, justamente por manter a ideia da comparação entre negros e macacos. “Colocado como foi, ironicamente, na situação (logo após a maravilhosa atitude do Daniel Alves), a hashtag, mais a imagem de Neymar com seu filho, não chama os negros de macacos, mas lembra ou alerta os brancos que somos todos iguais, vindos ‘do mesmo macaco’. Este é um fato científico provado e comprovado (salvo alguns fanáticos que ainda questionam Darwin), não uma opinião”, informou a agência.

(Veja)

Nota: Além de ter criado uma campanha infeliz por realmente igualar os seres humanos a animais, a agência de propaganda se mete onde não foi chamada: numa discussão muito mais profunda e complicada. E se atreve a “resolver” o assunto com um simples “é um fato científico provado e comprovado”. Onde estão as provas da macroevolução? Quer dizer que viemos comprovadamente todos “do mesmo macaco”? E que história é essa de chamar de “fanáticos” aqueles que discordam da tese absurda de que “somos todos macacos”? Por que chamar de fanáticos milhões de pessoas que creem que fomos criados por Deus e não somos fruto de uma evolução a partir de supostos ancestrais animais? Querem combater um preconceito reforçando outro. Lamentável. #SomosTodosCriadosPorDeus [MB]

"Em algum futuro período, não muito distante sendo medido por séculos, as raças civilizadas de homem irão quase certamente exterminar, e substituir, as raças selvagens por todo o mundo. [...] O rompimento entre o homem e seus aliados mais próximos será então mais amplo, pois irá intervir entre o homem num estado mais civilizado, como nós podemos esperar, mesmo do que o Caucasiano, e algum macaco tão inferior quanto o babuíno, em vez de como agora entre o negro ou o Australiano e o gorila" (Charles Darwin, The Descent of Man, 24 fevereiro de 1871).