Estilo de vida |
Uma
pesquisa científica pioneira realizada pela USP (Universidade de São Paulo),
que vem analisando o estilo de vida de membros da Igreja Adventista do Sétimo
Dia no Brasil com idade entre 35 e 74 anos, promete trazer contribuições
importantes para a saúde pública no Brasil. Trata-se do Estudo ADVENTO (Análise de Dieta e Hábitos de Vida na Prevenção de Eventos
Cardiovasculares em Adventistas do Sétimo Dia), financiado pela USP, Fapesp
(Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e Incor (Instituto do
Coração), e apoiada institucionalmente pela organização adventista. Embora os
resultados ainda sejam preliminares, o estudo já mostrou menores níveis de
colesterol, glicose, creatinina e marcadores inflamatórios nos indivíduos que
têm maior número de hábitos saudáveis, como dieta vegetariana ou mais próxima
do que recomenda a Igreja Adventista. O estudo foi noticiado pelo maior portal
de notícias evangélico do Brasil, o Gospel Prime (confira a reportagem direto da fonte) na sexta-feira, 2 de maio.
O
coordenador geral da pesquisa é o cardiologista do Incor do Hospital das
Clínicas da USP e chefe da UTI do Hospital Adventista de São Paulo, Everton
Padilha Gomes. Segundo ele, o estudo, proposto em sua tese doutoral, busca
analisar o estilo de vida entre adventistas e compará-lo com o de uma população
não pertencente à Igreja. “Este é um estudo pioneiro no Brasil por
correlacionar dieta e aparecimento de aterosclerose subclínica. Graças a
pesquisas semelhantes desenvolvidas em outros países, hoje se sabe, por
exemplo, da importância de cuidados com a pressão arterial e com a dieta para a
prevenção dessas doenças”, explica Gomes.
Além
da dieta, a pesquisa clínica leva em conta também outros hábitos de vida, a
exemplo de tabagismo e etilismo passado, bem como o estado psicossocial,
padrões de desempenho neurocognitivo e capital social (capacidade de
assistência ou rede de solidariedade com que uma pessoa possa contar).
No
total, 1.500 adventistas serão pesquisados, divididos em três grupos: 700
ovolactovegetarianos, 300 vegetarianos estritos e 500 não vegetarianos.
Diante
das possíveis contribuições do estudo para a saúde pública no País, o objeto de
estudo vem despertando o interesse de outros grupos de pesquisa. “Pesquisadores
da Universidade Federal do Espírito Santo também já começaram a desenvolver
estudo semelhante”, informa.
De
acordo com o coordenador geral do Estudo ADVENTO, no decorrer da
investigação vêm surgindo também parcerias com o setor privado. “A empresa de
cosméticos Natura, que conta com um setor voltado para pesquisas, doou
equipamentos para que analisemos também a pele dos adventistas”, ressalta.
Para
a realização da pesquisa, a universidade brasileira firmou ainda um convênio
técnico com a Loma Linda University, nos Estados Unidos, que acaba de
divulgar os resultados de um segundo estudo científico de longo prazo, o Loma Linda University Adventist Health Study-2 (AHS-2), que concluiu que aqueles que são
vegetarianos têm menos risco de doença cardíaca, em comparação com aqueles que
comem carne. O AHS-2 pesquisou
96 mil indivíduos dos Estados Unidos e do Canadá. O primeiro, denominado AHS-1, foi
realizado entre 1974 e 1988 e, a partir do exame da saúde de mais de 34 mil
adventistas na Califórnia, Estados Unidos, concluiu que o grupo examinado vivia
mais que os demais habitantes da região.
Segundo
acredita o pesquisador adventista, a sobrecarga no sistema público de saúde
desperta cada vez mais o interesse de organizações governamentais e privadas em
pesquisar grupos que estão mais próximos daquilo que a sociedade médica
recomenda para uma melhor saúde, adotando hábitos efetivos na prevenção de
doenças. Por isso, grupos como os adventistas têm se tornado foco das atenções.
“Um
estudo como esse pode gerar uma percepção positiva duradoura em relação à
Igreja. Eu espero que essa compreensão do que a saúde representa para os
adventistas gere uma influência positiva na vida das pessoas e a decisão de
praticar um estilo de vida mais saudável”, acredita Gomes.
O Estudo ADVENTO conta com uma página oficial na internet que traz informações
sobre seus objetivos e onde também são respondidas dúvidas dos internautas e
esclarecidas questões alusivas aos métodos e procedimentos adotados para a
coleta de dados, bem como em relação a quem pode fazer parte do grupo
considerado.
De
acordo com o médico, ainda estão sendo admitidos adventistas dos Estados de São
Paulo e Espírito Santo para participarem do grupo que será analisado.
(Márcio Tonetti, USB)