Recado aos líderes mundiais |
Na próxima quinta-feira, o papa Francisco vai divulgar
oficialmente sua encíclica ECOmênica (tão aguardada) intitulada Laudato
Si que, segundo ele, é direcionada a toda a humanidade, não apenas ao seu
rebanho católico (confira). Nesse documento oficial,
o papa faz propostas de contenção do aquecimento global e sugere que ele sirva
de base para reflexão por parte dos líderes mundiais aos quais falará em
setembro, na sede da ONU. O amigo Filipe Reis, de Portugal, traduziu algumas partes interessantes de uma versão preliminar da encíclica (aliás, veja que interessante o print do jornal Washington Examiner, abaixo, em que Francisco e Ben Carson aparecem na mesma página, algo que eu já havia destacado aqui). As partes traduzidas por Filipe são relacionadas com o domingo como dia de repouso. Leia os trechos a seguir,
extraídos do capítulo 237 de Laudato Si:
“O domingo, a participação na Eucaristia tem importância
especial. Esse dia, bem como o sábado hebraico, oferece-se como dia de restauração das relações do ser
humano com Deus, consigo mesmo, com os outros e com o mundo. O domingo é o
dia da ressurreição, o ‘primeiro dia’ da
nova criação, cujo primeiro fruto é a humanidade ressuscitada do Senhor,
garantia da transfiguração final de todo o mundo criado. Além disso, esse dia
anuncia ‘o repouso eterno do homem em Deus’. Assim, a espiritualidade cristã
integra o valor do descanso e da celebração.
“O ser humano tende a reduzir o repouso contemplativo ao âmbito
do inútil e estéril, esquecendo que assim lhe retira da obra realizada a coisa
mais importante: o seu significado. Somos chamados a incluir no nosso trabalho
uma dimensão confortável e gratuita, que é diferente de uma simples inatividade.
Trata-se de uma outra forma de atuar que faz parte da nossa essência. Dessa
forma, a ação humana é preservada não só de um ativismo vazio, mas também da
ganância desenfreada e do isolamento de consciência que leva a procurar
exclusivamente o benefício exclusivo.
“A lei do descanso
semanal requer abster-se de trabalho no sétimo dia, para que ‘descansem o
teu boi e o teu jumento, e respirem o filho de tua escrava e o estrangeiro’
(Êxodo 23:12). O repouso é um vislumbre alargado que permite voltar a
reconhecer os direitos dos outros. Assim, o dia de descanso, cujo centro é a
Eucaristia, espalha a sua luz por toda a semana, e nos encoraja a cuidar de nossa natureza e dos pobres.”
Como era de se esperar, o papa apresenta o domingo como dia de
restauração das relações do ser humano com Deus, consigo mesmo e com a
natureza, reforçando a dimensão ecológica do domingo. E o iguala ao sábado
hebraico, como se a bênção que Deus atribuiu ao verdadeiro sétimo dia pudesse
ser estendida a outro dia da semana. Para o papa, o domingo é o “primeiro dia
da nova criação”, deixando de lado o último dia da criação (na qual Bergoglio
não crê, pois considera Adão e Eva mitológicos), memorial da verdadeira criação divina. Assim, o que o papa faz (à semelhança
do que fez João Paulo II) é se apropriar de conceitos relacionados ao sábado e
reaplicá-los ao domingo.