Funções vitais recém-descobertas |
Em seu
livro The Descent of Man, Charles
Darwin citou o cóccix como um suposto traço vestigial o qual revelaria nossa descendência
dos “ancestrais” que tinham cauda. Ele escreveu: “Em certos casos raros e anômalos,
ele [o cóccix] tem sido conhecido por formar um [...] pequeno rudimento externo
de uma cauda.”[1: p. 29] Assim nasceu a visão darwinista clássica da “cauda
humana”, agora um ícone do pleno desenvolvimento da evolução. Esse mito
sustenta que a “cauda” é a regressão de uma forma anterior, uma expressão de
genes adormecidos acumulados de nossos antepassados primatas. No século 19,
180 órgãos presentes no corpo humano eram considerados “vestigiais” e destituídos
de função pelo simples fato de que sua função não era conhecida. Durante o
julgamento de Scopes em 1925, o biólogo evolucionista Horatio Newman reforçou
essa declaração de que existiam mais de 180 órgãos vestigiais e estruturas no corpo
humano, “suficientes para fazer de um homem um verdadeiro museu ambulante de
antiguidades”.[2: p. 268] Em 1971, a Encyclopaedia
Britannica reivindicou mais de cem órgãos que teriam restado como vestígio
no ser humano e, ainda hoje, em sua versão online,
o cóccix é considerado como um deles.[3] Em 1981, Steve Scadding, autor de
livros didáticos de biologia, também fez uma alegação semelhante.[4]
A
crença no caráter vestigial e não funcional de órgãos e estruturas esteve na
base de muitos erros médicos e atrasou substancialmente a investigação a
respeito da função desses órgãos no corpo humano. Atualmente, com o progresso
das ciências biomédicas, há reservas em se afirmar que existam órgãos sem
função. De fato, em 2008, a revista New
Scientist relatou que, desde os dias do biólogo Horatio Newman, a
lista de órgãos vestigiais “cresceu e então encolheu novamente”, a tal ponto
que hoje “os biólogos são extremamente cautelosos em falar de órgãos vestigiais”.[5] Mas, apesar disso, livros didáticos ainda citam alguns
órgãos como sendo vestígios da evolução. E o cóccix é o exemplo de órgão
vestigial mais frequentemente usado. Em 2006, por exemplo, um dos mais
populares livros de biologia atuais, ainda trazia a afirmação de que “muitas
espécies de animais têm órgãos vestigiais”, incluindo também o exemplo do cóccix.[6:
p. 384]
Mas,
para iniciarmos nossa análise sobre o cóccix, devemos conhecer a definição de
órgão vestigial. A definição mais comum durante todo o século passado foi a
seguinte: “Os seres vivos, incluindo o homem, são museus virtuais de estruturas
que não têm nenhuma função útil, mas que representam os restos de órgãos que já
tiveram algum uso.”[7: p. 30] A referência de autoridade The Evolution of Life define órgão
vestigial como um “que perdeu sua função no curso da evolução, e é geralmente
muito reduzido em tamanho”.[8]
Nas
últimas décadas, essa definição ainda é comumente usada. Um dos mais
populares escritores de livros didáticos de ciências da atualidade definiu “vestigial”
como segue: “A evolução não é um processo perfeito. Como mudanças
ambientais selecionam contra certas estruturas, outras são retidas, às vezes
persistentes, mesmo se elas não são usadas. Uma estrutura que parece não
ter qualquer função em uma espécie, mas é homóloga a um órgão funcional em
outras espécies, é denominada vestigial.”[9: p. 395] Em 2009, nos Estados
Unidos, o Conselho Estadual de Educação do Texas (CEET) adotou um manual sobre
conhecimentos e habilidades essenciais dos princípios da evolução darwiniana.[10]
Esse material instrucional proposto contêm erros sobre aorigem da vida ou embriologia,
faz alegações imprecisas sobre órgãos vestigiais e evidências de ancestralidade
comum, e ressuscita reivindicações já desmascaradas como, por exemplo, o cóccix
ser um órgão vestigial, deixando de mencionar que esse órgão é reconhecido por ter
funções importantes.
Atualmente,
já são conhecidas e descritas várias funções do cóccix. O cóccix humano é um
grupo de quatro ou cinco pequenas vértebras fundidas em um osso na extremidade
mais baixa da coluna vertebral. Com seu diafragma pélvico, ele mantém fixos
muitos órgãos em nossa cavidade abdominal, evitando que eles literalmente caiam
por entre as pernas. Alguns dos músculos do diafragma pélvico também são
importantes para o controle da eliminação dos resíduos do organismo através do
reto. O cóccix também serve como importante ponto de apoio para os músculos que
sustentam o ânus no lugar.[11] Além de ser o local de inserção de vários
músculos, ligamentos e tendões, ele também serve como uma perna do tripé -
juntamente com as tuberosidades isquiáticas − que fornece suporte de
sustentação de peso para uma pessoa nas posições ereta e sentada.[12] Embora o
conhecimento a respeito desse órgão tenha avançado muito nos últimos anos,
ainda assim pouco se sabe sobre sua anatomia e funcionalidade.[13]
Para
quem acha que o cóccix é inútil, basta cair da escada sobre ele. O que
acontece? O indivíduo não consegue se levantar, não consegue se sentar, não
consegue se deitar. Em certo sentido, o cóccix é um dos ossos mais
importantes em todo o corpo. De fato, em um embrião de um mês, o cóccix
tem a aparência de uma cauda no fim da coluna vertebral, mas isso se deve ao
fato de os músculos e os membros não terem se desenvolvido até a completa
formação e atividade da medula espinhal. À medida que as pernas se
desenvolvem, elas cercam e envolvem o cóccix, e ele acaba adentrando o
corpo.
Há
aproximadamente 40 casos (raros) relatados na literatura médica em que crianças
nascem com uma suposta “cauda”.[14] Um artigo no Journal of Neurosurgery explica que esse ponto de vista é em
si um resquício do pensamento de recapitulação: “Caudas humanas verdadeiras são
raramente encontradas na medicina. No momento em que a teoria da evolução
de Darwin era uma questão de debate, foram relatados centenas de casos
duvidosos. A presença de uma cauda em um ser humano foi considerada por
evolucionistas como um exemplo que ‘ontogenia recapitula[ndo] a filogenia’.”[15] Mas
esses casos realmente se referem a uma cauda funcional? A resposta é não!
As
caudas são divididas em duas categorias: “caudas verdadeiras”, que se estendem
desde o cóccix, onde se poderia esperar uma chamada “cauda vestigial”; e “pseudocaudas”,
que são frequentemente encontradas em outros locais na região lombar, e parecem
ser aberrações óbvias, uma vez que são frequentemente associadas com anomalias.
Mesmo as chamadas “caudas verdadeiras” em seres humanos não merecem esse
nome. Isso porque mesmo essas chamadas “caudas” não são nada como as
encontradas em mamíferos caudais – pela simples razão de que a cauda vestigial
humana carece inteiramente de vértebras, ou qualquer tipo de osso, cartilagem,
notocorda, ou medula espinhal; sendo única com essa característica.[15] Diversas
pesquisas científicas ao longo das últimas décadas confirmam essa observação.[16-20]
As
pseudocaudas, por sua vez, também não podem ser consideradas caudas. Isso
porque (e as pesquisas confirmam) são estruturas anômalas ou saliências
geralmente relacionadas a um tumor adiposo, tecido adiposo ou cartilagem.[18,
20-23] Por isso, o médico pode apenas cortá-las, sem
complicações. Não é nada parecido, por exemplo, com a cauda de um gato que
tem músculo, ossos e nervos. Em outras palavras, se os seres humanos têm uma
cauda óssea, não é uma “cauda verdadeira”, é uma “pseudocauda” por causa de
outras anomalias; mas se é uma “cauda verdadeira”, ela não contém osso,
cartilagem, notocorda ou medula espinhal. E nenhuma cauda humana contém
vértebras.
Outro
aspecto diz respeito ao gene Wnt-3a, responsável pelo desenvolvimento de caudas
em camundongos e outros vertebrados.[24, 25] Sabe-se que a inibição do gene Wnt-3a
induz à apoptose das células da cauda durante o desenvolvimento do embrião.
Portanto, os evolucionistas presumem que a perda da cauda em macacos
antropoides ao longo da evolução foi simplesmente o caso de uma mutação
reguladora que inibiu o gene Wnt-3a. Nesse sentido, para os evolucionistas, o
cóccix é uma cauda vestigial que sofreu apoptose numa fase inicial do
desenvolvimento embrionário, e isso sugere que há uma semelhança entre os
humanos e outros mamíferos, sendo confirmada pela presença do gene Wnt-3a em
ratos e em humanos. Para eles, portanto, a homologia entre essas espécies em
nível ontogenético (estudo das origens e desenvolvimento) leva à conclusão de
ancestralidade comum, da qual se herdariam esses genes.
Porém,
a dúvida que permanece é a seguinte: se ambas as espécies foram projetadas a
partir de estruturas semelhantes, é mais lógico que permaneçam os órgãos e as estruturas
aproveitáveis para outras funções. Afinal, os defensores do design inteligente presumem que o objetivo
do Designer seria o de projetar animais capazes de sobreviver. Se o cóccix é
parte de uma estrutura que auxilia no desenvolvimento embrionário, e se ele
serve, como indicado, para fixar e sustentar o diafragma pélvico, seria sensato
presumir que essa estrutura é útil para a nossa sobrevivência. Logo, a mente
inteligente teria alterado a cauda e mantido o cóccix, com utilidade própria.
Ademais,
os evolucionistas também alegam que alguns indivíduos tiveram seus cóccix removidos cirurgicamente, o que implica que ele é inútil. Não me surpreende que as
pessoas possam ter seus cóccix removidos e ainda sobreviver. Só porque
você pode viver sem um cóccix não significa que ele não tenha uma função. As
pessoas também podem viver com um rim em vez de dois. Podemos perder os cabelos,
embora eles tenham uma função. Muitas pessoas ao longo da história humana
têm vivido depois de perder muitos, se não a maioria dos dente, mas, certamente,
dentes têm uma função. A teoria do design
inteligente não exige que o cóccix seja indispensável do ponto de vista médico. Em
vez disso, espera-se que o design do
cóccix tenha alguma função que contribua para o sistema, de forma integrada. E
o cóccix claramente tem múltiplas funções - e, assim,
cumpre as previsões do design
inteligente.
(Everton Alves)
Referências:
[1] Darwin CR. The descent of man, and selection in
relation to sex. London: John Murray, 1871. Disponível em: http://darwin-online.org.uk/content/frameset?pageseq=42&itemID=F937.1&viewtype=side
[2] Horatio Hackett Newman,
citado em: The World’s Most Famous
Court Trial: Tennessee Evolution Case, 2 ed. Dayton, TN: Bryan College,
1990.
[3] Encyclopaedia Britannica
[online, 2015]. Disponível em: http://global.britannica.com/EBchecked/topic/123507/coccyx
[4] Scadding SR. “Do Vestigial
Organs Provide Evidence for Evolution?” Evolutionary Theory 1981; 5:173-176.
[5] Spinney L. “Vestigial
organs: Remnants of evolution.” New
Scientist, 2656 (May 14, 2008). Disponível em: http://www.newscientist.com/article/mg19826562.100-vestigial-organs-remnants-of-evolution.html
[6] Miller KR, Levine
J. Biology: Teachers Edition. Upper
Saddle River, NJ: Pearson Prentice Hall, 2006.
[7] Asimov I. Words of Science. NY: Signet Reference
Books, 1959.
[8] Gamlin L, Vines G. The Evolution of Life. NY: Oxford
University Press, 1987.
[9] Lewis R. Life. 3 ed., NY: WCB/McGraw Hill, 1998.
[10] Texas Essential Knowledge and Skills (TEKS), 2009. Disponível
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[11] Bergman J, Howe G. “Vestigial Organs” are Fully Functional.
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[12] Lirette LS, Chaiban G, Tolba R, Eissa H. “Coccydynia: An Overview of the Anatomy, Etiology,
and Treatment of Coccyx Pain.” Ochsner J.
2014; 14(1):84-87.
[13] Woon JT, Stringer MD. “Clinical anatomy of the coccyx: A systematic
review.” Clin Anat. 2012;
25(2):158-67.
[14] Shad J, Biswas R. “An
infant with caudal appendage.” BMJ Case Rep. 2012; 2012: bcr1120115160.
[15] Spiegelmann R, Schinder
E, Mintz M, Blakstein A. “The human tail: a benign stigma.” Journal of Neurosurgery 1985; 63:461-462.
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[24] Greco TL, Takada S, Newhouse MM, McMahon JA, McMahon AP, Camper SA. “Analysis of the vestigial tail mutation
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