Um abraço emblemático |
O
papa Francisco visitou hoje a Igreja Valdense em Turim, tornando-se o primeiro
pontífice a entrar num templo dessa denominação cristã nascida no século XII, e
pediu “perdão” pelos confrontos do passado. “Da parte da Igreja Católica,
peço-vos perdão pelas atitudes e comportamentos não cristãos, por vezes não
humanos, que tivemos contra vós, na história. Em nome do Senhor Jesus Cristo,
perdoai-nos”, apelou, neste segundo dia de visita à cidade do norte da Itália. Francisco
recordou que ao longo da história tem acontecido que “os irmãos não aceitem a
sua diversidade e acabem por fazer guerra uns contra os outros”. “Refletindo na
história das nossas relações, não podemos deixar de nos entristecermos perante
os conflitos e as violências cometidas em nome da própria fé”, realçou. Nesse
sentido, o papa convidou todos a reconhecer-se como “pecadores” e a saber
perdoar.
Os
valdenses tiveram sua origem entre os seguidores de Pedro Valdo na Idade Média
e estão presentes sobretudo na Itália e no Uruguai. Francisco evocou os
“amigos” da Igreja Evangélica Valdense do Rio da Prata, dos quais lembrou “a
espiritualidade e a fé” e com os quais, disse, pôde aprender “tantas coisas
boas”. Segundo o papa, o diálogo ecumênico tem permitido uma “redescoberta da
fraternidade” entre os cristãos e a valorização do que têm em comum, apesar das
suas “diferenças”. “A unidade que é fruto do Espírito Santo não significa
uniformidade”, prosseguiu.
O
discurso apontou depois campos de ação comum face a desafios globais, como a
“evangelização” de uma humanidade “distraída e indiferente” ou o serviço “a
quem sofre, aos pobres, aos doentes, aos migrantes”. “A escolha dos pobres, dos
últimos, daqueles que a sociedade exclui, aproxima-nos do próprio coração de
Deus”, precisou o papa.
Francisco
reconheceu que persistem “importantes” diferenças sobre questões antropológicas
e éticas entre católicos e valdenses, antes de propor “um novo modo de estar um
com os outros” que coloque em primeiro lugar a “grandeza da fé comum”.
No
final do encontro, o papa recebeu uma cópia da primeira Bíblia em francês
encomendada pelos valdenses quando, em 1532, aderiram à Reforma de Genebra
(Calvinismo).
Nota:
“Se o Papa reconhece o erro e pede perdão pela terrível perseguição e
morticínio aos quais Roma sujeitou o povo valdense, logicamente que será de
esperar que a Igreja Romana jamais se aventure novamente em atitudes e
comportamentos desse tipo, certo? Errado! Por muito que possamos, e
provavelmente até devamos, elogiar a postura do papa em reconhecer falhas, não
podemos ao mesmo tempo esquecer que Roma sabe se mover muito bem, em todos os
terrenos e circunstâncias, no sentido de agir para favorecer unicamente seus
intentos de domínio universal. Recordemos: ‘A Igreja de Roma apresenta hoje ao
mundo uma fronte serena, cobrindo de justificações o registro de suas horríveis
crueldades. Vestiu-se com roupagens de aspeto cristão; não mudou, porém. [...]
Seu espírito não é menos cruel e despótico hoje do que quando arruinou a
liberdade humana e matou os santos do Altíssimo. O papado é exatamente o que a
profecia declarou que havia de ser: a apostasia dos últimos tempos (2Ts 2:3,
4). Faz parte de sua política assumir o caráter que melhor cumpra o seu
propósito; mas sob a aparência variável do camaleão, oculta o invariável veneno
da serpente’ (O Grande Conflito, p.
571). Outro detalhe importante: essa notícia mostra – mais uma vez! – que
quando a Bíblia afirma em Apocalipse 13:3 que ‘toda a terra se maravilhou’ (ou
maravilhará) diante de Roma, isso quer mesmo dizer TODA A TERRA, incluindo
aqueles que anteriormente foram massacrados pela força romana. A cura da ferida
(Ap 13:3) passa muito por esforços diplomáticos; isso quer dizer que muitos
cederão a Roma não tanto pela força, mas de livre e espontânea vontade. Saibamos
estar atentos para os movimentos de Roma. Como fazê-lo? Desta forma: ‘Um estudo
da Escritura Sagrada, feito com oração, mostraria aos protestantes o verdadeiro
caráter do papado, e os faria aborrecê-lo e evitá-lo’ (O Grande Conflito, p. 572)” (nota de Filipe Reis, postada no
Facebook).
Ellen
White também registrou o seguinte no livro O
Grande Conflito: “Mas dentre os que resistiram ao cerco cada vez mais
apertado do poder papal, os valdenses ocuparam posição preeminente. A falsidade
e corrupção papal encontraram a mais decidida resistência na própria terra em
que o papa fixara a sede. Durante séculos as igrejas do Piemonte mantiveram-se
independentes; mas afinal chegou o tempo em que Roma insistiu em submetê-las.
Depois de lutas inúteis contra a tirania, os dirigentes dessas igrejas
reconheceram relutantemente a supremacia do poder a que o mundo todo parecia
render homenagem. Alguns houve, entretanto, que se recusaram a ceder à
autoridade do papa ou do prelado. Estavam decididos a manter sua fidelidade a
Deus, e preservar a pureza e simplicidade de fé. Houve separação. Os que se
apegaram à antiga fé, retiraram-se; alguns, abandonando os Alpes nativos,
alçaram a bandeira da verdade em terras estrangeiras; outros se retraíram para
os vales afastados e fortalezas das montanhas, e ali preservaram a liberdade de
culto a Deus.
“A fé que durante muitos séculos fora mantida e ensinada pelos cristãos
valdenses, estava em assinalado contraste com as falsas doutrinas que Roma
apresentava. Sua crença religiosa baseava-se na Palavra escrita de Deus - o
verdadeiro documento religioso do cristianismo. Mas aqueles humildes camponeses,
em seu obscuro retiro, excluídos do mundo e presos à labuta diária entre seus
rebanhos e vinhedos, não haviam por si sós chegado à verdade em oposição aos
dogmas e heresias da igreja apóstata. A fé que professavam não era nova. Sua
crença religiosa era a herança de seus pais. Lutavam pela fé da igreja
apostólica - a ‘fé que uma vez foi dada aos santos’ (Jd 3). ‘A igreja no
deserto’ e não a orgulhosa hierarquia entronizada na grande capital do mundo,
era a verdadeira igreja de Cristo, a depositária dos tesouros da verdade que
Deus confiara a Seu povo para ser dada ao mundo.”