quinta-feira, junho 11, 2015

Mesquita dedicada à Virgem Maria é inaugurada na Síria

Ponto de convergência
Justamente em um dos países onde a liberdade religiosa está mais seriamente ameaçada, foi construído o primeiro lugar de culto do mundo islâmico dedicado à Virgem Maria. Trata-se da nova Mesquita Al-Sayyida Maryam, localizada na cidade costeira de Tartous, segundo porto da Síria, inaugurada no último sábado (6/6). Al-Sayyida Maryam é um dos diversos nomes árabes da Mãe de Jesus, como recordou na cerimônia de inauguração o ministro para os Bens Religiosos e Culturais, Mohammad Abdel-Sattar al-Sayyed. Essa iniciativa – disse ele – é “um sinal da abertura daquele Islã afastado dos desvios e extremismos”. O delegado do Patriarcado Maronita de Tartous e Lattakia, Antoine Dib, também presente na cerimônia, declarou-se “orgulhoso pela iniciativa”, desejando que o gesto possa representar uma esperança de paz para cada lugar do país.

A dedicação de uma mesquita a Nossa Senhora poderia parecer um anacronismo, mas não é. No Alcorão, de fato, existe uma autêntica veneração à Virgem Maria. Um dos maiores estudiosos católicos contemporâneos sobre esse tema, o franciscano florentino Giulio Basetti-Sani (1912-2001), discípulo do orientalista Louis Massignon, dedicou a vida à difusão do conhecimento sobre a religião islâmica, sentida por ele como uma “fé irmã”. Um de seus conhecidos livros intitula-se Maria e Jesus filho de Maria no Alcorão. Após séculos de incompreensões e preconceitos, o religioso desenvolveu sua obra na esteira de São Francisco de Assis e de seu programa missionário voltado ao encontro com os muçulmanos.

A teologia muçulmana não concebe Deus como pessoa. Assim, nos seus 99 nomes, falta a palavra “Pai”. Portanto, impensável também um “Filho de Deus”. A Virgem Maria, no entanto, é apresentada como “escolhida por Deus” e “eleita entre todas as mulheres da criação” (Sura 3,42). Jesus não é filho de Deus, mas “filho de Maria” (Isa ibn Maryam), lê-se nos versículos 34-36 da Sura 19, onde é narrado o acontecimento de uma virgem que, afastando-se da família, tem um filho (Masîh, o Ungido, um dos nomes tradicionais de Jesus), “dom” de Alá que “cria aquilo que quer”.

A esse respeito, recorda-se que já há alguns anos no Líbano, o 25 de março (Festa da Anunciação para a Igreja Católica) foi proclamado, após longas tratativas conduzidas pelo Comitê islâmico-cristão, Festa Nacional.

O fundador do Instituto da Caridade, o beato Antonio Rosmini-Serbati (1797-1855), um dos maiores filósofos italianos do século 19, foi autor da obra As cinco chagas da Santa Igreja (1832). Nesse período pré-Concílio, quando os seguidores de Maomé eram colocados pela Igreja entre os “infiéis”, seguidores de uma “falsa religião”, Rosmini, apoiado pelo Cardeal Castruccio Castracane dos Antelminelli, publicou o texto “Sobre testemunhos dados pelo Alcorão a Virgem Maria”, desconsiderado na época, mas que no decorrer do tempo e ainda hoje desempenha um papel no diálogo inter-religioso a partir do reconhecimento comum da maternidade de Maria (sancionada pelo Concílio de Éfeso, em 431).


Nota: Alguma dúvida de que Maria terá um papel crucial no ecumenismo envolvendo os muçulmanos? Os adventistas devem intensificar seus esforços para mostrar aos muçulmanos que nossa identificação com eles é ainda maior: aguardamos a volta de Jesus, não usamos alimentos impuros nem bebidas alcoólicas e incentivamos uma vida decente e uma profunda experiência de oração e devoção. [MB]