A vida é breve e alguns a abreviam |
Ele
era forte e sempre que passava em frente à minha casa eu o cumprimentava com um
balançar de cabeça. Mora na mesma rua que eu, mas não é muito dado a conversa.
Certa vez lhe entreguei um livro de conteúdo religioso, mas ele não deu muita
importância. Nem sei se se deu ao trabalho de ler. Os meses se passaram. Seis,
para ser exato. E nunca mais o vi. Até que nossa vizinha, também adventista,
ligou para minha esposa e pediu que eu fosse até a casa de um senhor ali da
rua, que está à beira da morte, acometido de um câncer agressivo no fígado. Semana
passada fui à casa dele e simplesmente não o reconheci. Aquele homem forte, com
cara de poucos amigos e olhar altivo estava deitado na cama, magérrimo, com a
pele colada aos ossos, braços finos e o olhar cansado. Sim, o mesmo homem que
seis meses antes caminhava pela rua com passos vigorosos.
Acompanhavam-me
na visita o pastor da igreja que frequento e o obreiro bíblico (missionário).
Conversamos com o doente. Fizemos perguntas sobre a relação dele com Deus e se
ele cria em milagres. Disse-lhe que o maior milagre é entregar a vida a Jesus e
permitir que Ele nos transforme. Disse-lhe, também, que Deus tem poder para
curar qualquer enfermidade, mas que, neste mundo triste e sombrio, mais cedo ou
mais tarde, a sepultura é o destino de todos nós. Por isso, a melhor coisa a
fazer é deixar Deus ser Deus.
Li
para ele textos bíblicos que descrevem a vida eterna e o quanto os seguidores
de Jesus a almejaram, não amando esta vida; lembrando-se sempre de que esta
vida é o pesadelo do qual ainda vamos acordar, e que na nova Terra a vida será
de verdade. Falamos sobre o amor de Deus e apelamos para que ele entregasse a
vida a Jesus. E ele aceitou. Fiz uma oração pedindo a Deus que cuide dele e da
família; que dê força à esposa e aos filhos; e disse que estamos à disposição
para ajudar no que for possível. Depois ligamos a TV dele no canal da TV Novo
Tempo e dissemos para ele assistir todos os dias. O “canal da esperança”.
Conversamos
um pouco mais com ele e, depois, com a esposa. Já na garagem, ela nos disse que
ele frequentemente ficava bêbado e ela tinha que praticamente carregá-lo de
volta para casa. O homem tem 43 anos, um a menos que eu. Mas parece ter 60! A
menos que Deus opere um milagre, a vida dele terá fim. Tão novo. Quanto desperdício...
Voltei
para casa pensativo. Lembrei-me, mais uma vez, do quanto a vida é curta e
frágil, e de como as pessoas contribuem para abreviá-la e torná-la ainda mais
difícil. Do quanto as pessoas procuram ignorar sua finitude. Por que esperar
para aceitar Jesus somente à beira da morte? Por que deixar para mudar de vida
quando a vida já não pode ser mudada? Por que dar as costas para Deus para
perceber, mais tarde (às vezes tarde demais), que a vida só faz sentido com
Ele?
Deus
nos ajude a fazer a vida valer a pena. Que nossa vida breve seja suficiente
para tomar a maior decisão de todas: aceitar Jesus e Seu plano de redenção. Não
deixe para amanhã o que pode e deve ser feito hoje. Não deixe de lado sua
família, sua saúde e sua comunhão com Deus. E, principalmente, não deixe sua
salvação para amanhã. Quando o assunto é vida eterna, viva com se não houvesse
amanhã. Para o meu vizinho, a realidade já é essa.
Michelson Borges