Ao
tratar da questão das evidências de Deus na natureza, existem duas perguntas
que me parecem essenciais: (1) Existe alguma evidência de que Deus criou o
universo? (2) Existe alguma evidência de que Deus criou a vida na Terra? De
fato, eu acredito que a resposta para as perguntas acima é: Sim! Pretendo
apresentar algumas evidências aqui.
Evidências da criação do
Universo
Tenho
consciência de que a primeira pergunta traz à tona uma questão muito
controversa: o modelo do Big Bang. Não me
entenda mal, o modelo em si não é nada controverso, se forem conferidas
corretamente suas bases e suas predições forem confrontadas com dados
observacionais. Aparentemente, esse é um dos modelos científicos mais
criticados de todos os tempos. Tanto criacionistas quanto evolucionistas
procuram encontrar defeitos nele incessantemente. Ao começar a escrever esta
seção, pesquisei a respeito das ideias sobre um universo eterno e encontrei
diversos artigos publicados em periódicos de Física por pessoas tentando
contornar a conclusão de que o universo teve uma origem. Filosoficamente
falando, a ideia de que o universo teve uma origem parece incomodar muito
aqueles que não creem que existe um Deus. Por outro lado, parece incomodar
bastante cristãos que creem que o universo foi criado na semana de Gênesis 1. A
despeito de qual seja a crença pessoal de alguém, é necessário manter a mente
aberta para se analisar evidências contrárias ao que acreditamos. Essa é a
única forma de garantir um crescimento espiritual e intelectual saudável.
A Bíblia declara que Deus
criou tudo do nada
“Pois
Ele falou, e tudo se fez; Ele mandou, e logo tudo apareceu” (Salmo 33:9). O que
está incluído nesse tudo? Estaria a
vida na Terra incluída? Sabemos que não, porque Gênesis 1:2 diz que quando Deus
começou a preparar a Terra para a vida ela era sem forma e vazia e já havia
água por aqui. Portanto, quando é dito que “Ele mandou, e logo tudo apareceu”
deve estar se referindo ao universo.
O
que mais estaria incluído nesse tudo
que podemos não nos dar conta à primeira vista? “Pela fé entendemos que os
mundos foram criados pela palavra de Deus; de modo que o visível não foi feito
daquilo que se vê” (Hebreus 11:3). A palavra αἰῶνας (aiônas), traduzida como “mundos” nesse texto, tem o sentido
original de “eras” ou “tempo”, e apenas por implicação pode significar “mundos”.[1]
O modelo do Big Bang é justamente isso: um modelo que diz que o universo com o
tempo e o espaço teve um início.
Várias
descobertas permitiram chegar a esse modelo: o princípio da ação mínima, a
Teoria Eletromagnética mostrando fenômenos relativísticos e alavancando outras
frentes, as geometrias de Riemann, o cálculo tensorial de Ricci acrescentando
grande utilidade à descoberta de Riemann, a formulação da Termodinâmica e,
finalmente, a equação fundamental da Relatividade Geral, que não apenas
forneceu uma explicação geométrica para a gravidade, mas também passou a servir
de instrumento para pesquisas em Cosmologia por ser aplicável ao universo como
um todo e impor regras sobre o comportamento do espaço-tempo, regras essas
contrárias a algumas ideias tidas como verdadeiras até então.
Einstein,
utilizando o cálculo tensorial juntamente com o princípio da ação mínima,
descobriu como funciona a gravidade macroscopicamente. Estudos posteriores
mostraram que a equação a que Einstein chegou (equação esta também deduzida por
Hilbert e apresentada por ele antes da publicação de Einstein), quando
combinada com a Termodinâmica, dizia que o universo teve uma origem. Ele
imaginou que isso só podia ser um engano. Tentou corrigir sua equação
acrescentando um termo. Isso não resolveu o problema. Vários pesquisadores,
tais como Friedmann, Lemaître, Robertson, Walker, demonstraram que essas coisas
implicavam que o universo não poderia ser estático como se pensava.
Um
desses pesquisadores, Georges Lemaître, cria que Deus criou o universo e que
essas consequências da lei da gravitação realmente faziam sentido tanto físico
quanto filosófico. Ele refez cuidadosamente os detalhes das previsões e
comparou seus resultados com observações astronômicas. Tudo estava em perfeito
acordo: o universo realmente teve um momento de criação. Os cálculos geraram um
modelo matemático no qual o espaço-tempo e tudo o que ele contém foram criados
em dado momento, iniciando-se em seguida um processo de expansão. Esse modelo
foi apelidado por Fred Hoyle de Big Bang, numa tentativa de ridicularizá-lo.
Ele não acreditava em criação do universo na época.
Esse
modelo implica em uma série de coisas bem específicas, observáveis e
mensuráveis. Entre elas o avermelhamento de galáxias em função da distância, a
radiação cósmica de fundo (incluindo o formato de seu espectro) e diversos
outros detalhes do universo observável. Einstein finalmente ficou convencido de
que o universo teve um princípio.
Várias
tentativas de criar modelos alternativos ao Big Bang apenas conseguiram, sem
que se percebesse a princípio, criar modelos de Big Bang mais complexos.
Como
dito anteriormente, a ideia de que o universo, incluindo toda matéria, tempo e
espaço tiveram uma origem e, portanto, as próprias leis da física também, é
algo que incomoda muitas pessoas. Por isso as constantes tentativas de
encontrar uma teoria alternativa que permita um universo eterno com as leis da
natureza produzindo tudo o que existe espontaneamente, ou seja, naturalismo.
Ahmed
Farag Ali, da Benha University e Zewail City of Science and Technology, diz o
seguinte: “A singularidade do Big Bang é o problema mais sério de relatividade
geral porque as leis da física parecem falhar ali.”[2]
“Ali
e o coautor Saurya Das, da University of Lethbridge em Alberta, Canadá,
mostraram em um artigo publicado na Physics
Letters B que a singularidade do Big Bang pode ser resolvida por seu novo
modelo em que o universo não tem princípio nem fim.”[2]
O
problema aqui se refere justamente ao tipo de erro que pode acontecer quando
alguém utiliza uma “ferramenta” inadequada ao problema, mencionado no início
deste artigo. O físico Eduardo F. Lütz observa o seguinte: “Se usadas de forma
pouco cuidadosa, as equações do modelo do Big Bang sugeririam que o universo
teve início em uma singularidade, um estado de densidade infinita, em que toda
a energia que o universo possui atualmente estava concentrada em um ponto. Tal
noção, porém, é consequência de aplicar a Relatividade Geral fora de sua região
de validade, isto é, antes do tempo de Planck, que marcaria o surgimento do
tempo clássico. É um erro comum, porém bastante elementar, aplicar a
Relatividade Geral fora de seus limites de validade conhecidos para obter uma conclusão
como essa. Além disso, essa noção de que a energia total do universo já estaria
presente ‘antes do tempo de Planck’ (como se esta expressão tivesse sentido) se
baseia na lei da conservação de energia, que está ligada à simetria de
translação temporal das leis físicas, simetria essa que só existe imediatamente
após o início do tempo clássico. Em suma, toda a base usada para concluir-se
que o modelo do Big Bang prevê uma singularidade inicial está equivocada.”
Seres
humanos competentes podem se enganar e usar bons métodos que, contudo, podem
não se aplicar ao problema em questão. Felizmente, a natureza e as ferramentas
matemáticas estão aí para conferirmos quando quisermos. Mesmo que não seja
viável, durante o curto tempo da vida humana, aprender tudo o que é necessário
para se avaliar todas as coisas, podemos comparar todas as ideias com que
entramos em contato com os conhecimentos fornecidos pelas duas revelações de
Deus (a natureza e a Bíblia) da melhor forma que pudermos.
(Graça Lütz é bióloga e bioquímica)
Referências:
[1]
ISIDRO PEREIRA, S. Dicionário grego-português e português-grego. Rua da
Boavista, 591 – 4000 Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1969.
[2]
ZYGA, L. No big bang? quantum equation predicts universe has no beginning. https://phys.org/news/2015-02-big-quantum-equation-universe.html
9 2 2015.