quarta-feira, junho 28, 2017

As duas revelações (parte 5): evidências de Deus na natureza

Ao tratar da questão das evidências de Deus na natureza, existem duas perguntas que me parecem essenciais: (1) Existe alguma evidência de que Deus criou o universo? (2) Existe alguma evidência de que Deus criou a vida na Terra? De fato, eu acredito que a resposta para as perguntas acima é: Sim! Pretendo apresentar algumas evidências aqui.

Evidências da criação do Universo

Tenho consciência de que a primeira pergunta traz à tona uma questão muito controversa: o modelo do Big Bang. Não me entenda mal, o modelo em si não é nada controverso, se forem conferidas corretamente suas bases e suas predições forem confrontadas com dados observacionais. Aparentemente, esse é um dos modelos científicos mais criticados de todos os tempos. Tanto criacionistas quanto evolucionistas procuram encontrar defeitos nele incessantemente. Ao começar a escrever esta seção, pesquisei a respeito das ideias sobre um universo eterno e encontrei diversos artigos publicados em periódicos de Física por pessoas tentando contornar a conclusão de que o universo teve uma origem. Filosoficamente falando, a ideia de que o universo teve uma origem parece incomodar muito aqueles que não creem que existe um Deus. Por outro lado, parece incomodar bastante cristãos que creem que o universo foi criado na semana de Gênesis 1. A despeito de qual seja a crença pessoal de alguém, é necessário manter a mente aberta para se analisar evidências contrárias ao que acreditamos. Essa é a única forma de garantir um crescimento espiritual e intelectual saudável.

A Bíblia declara que Deus criou tudo do nada

“Pois Ele falou, e tudo se fez; Ele mandou, e logo tudo apareceu” (Salmo 33:9). O que está incluído nesse tudo? Estaria a vida na Terra incluída? Sabemos que não, porque Gênesis 1:2 diz que quando Deus começou a preparar a Terra para a vida ela era sem forma e vazia e já havia água por aqui. Portanto, quando é dito que “Ele mandou, e logo tudo apareceu” deve estar se referindo ao universo.

O que mais estaria incluído nesse tudo que podemos não nos dar conta à primeira vista? “Pela fé entendemos que os mundos foram criados pela palavra de Deus; de modo que o visível não foi feito daquilo que se vê” (Hebreus 11:3). A palavra αἰῶνας (aiônas), traduzida como “mundos” nesse texto, tem o sentido original de “eras” ou “tempo”, e apenas por implicação pode significar “mundos”.[1] O modelo do Big Bang é justamente isso: um modelo que diz que o universo com o tempo e o espaço teve um início.

Várias descobertas permitiram chegar a esse modelo: o princípio da ação mínima, a Teoria Eletromagnética mostrando fenômenos relativísticos e alavancando outras frentes, as geometrias de Riemann, o cálculo tensorial de Ricci acrescentando grande utilidade à descoberta de Riemann, a formulação da Termodinâmica e, finalmente, a equação fundamental da Relatividade Geral, que não apenas forneceu uma explicação geométrica para a gravidade, mas também passou a servir de instrumento para pesquisas em Cosmologia por ser aplicável ao universo como um todo e impor regras sobre o comportamento do espaço-tempo, regras essas contrárias a algumas ideias tidas como verdadeiras até então.

Einstein, utilizando o cálculo tensorial juntamente com o princípio da ação mínima, descobriu como funciona a gravidade macroscopicamente. Estudos posteriores mostraram que a equação a que Einstein chegou (equação esta também deduzida por Hilbert e apresentada por ele antes da publicação de Einstein), quando combinada com a Termodinâmica, dizia que o universo teve uma origem. Ele imaginou que isso só podia ser um engano. Tentou corrigir sua equação acrescentando um termo. Isso não resolveu o problema. Vários pesquisadores, tais como Friedmann, Lemaître, Robertson, Walker, demonstraram que essas coisas implicavam que o universo não poderia ser estático como se pensava.

Um desses pesquisadores, Georges Lemaître, cria que Deus criou o universo e que essas consequências da lei da gravitação realmente faziam sentido tanto físico quanto filosófico. Ele refez cuidadosamente os detalhes das previsões e comparou seus resultados com observações astronômicas. Tudo estava em perfeito acordo: o universo realmente teve um momento de criação. Os cálculos geraram um modelo matemático no qual o espaço-tempo e tudo o que ele contém foram criados em dado momento, iniciando-se em seguida um processo de expansão. Esse modelo foi apelidado por Fred Hoyle de Big Bang, numa tentativa de ridicularizá-lo. Ele não acreditava em criação do universo na época.

Esse modelo implica em uma série de coisas bem específicas, observáveis e mensuráveis. Entre elas o avermelhamento de galáxias em função da distância, a radiação cósmica de fundo (incluindo o formato de seu espectro) e diversos outros detalhes do universo observável. Einstein finalmente ficou convencido de que o universo teve um princípio.

Várias tentativas de criar modelos alternativos ao Big Bang apenas conseguiram, sem que se percebesse a princípio, criar modelos de Big Bang mais complexos.

Como dito anteriormente, a ideia de que o universo, incluindo toda matéria, tempo e espaço tiveram uma origem e, portanto, as próprias leis da física também, é algo que incomoda muitas pessoas. Por isso as constantes tentativas de encontrar uma teoria alternativa que permita um universo eterno com as leis da natureza produzindo tudo o que existe espontaneamente, ou seja, naturalismo.

Ahmed Farag Ali, da Benha University e Zewail City of Science and Technology, diz o seguinte: “A singularidade do Big Bang é o problema mais sério de relatividade geral porque as leis da física parecem falhar ali.”[2]

“Ali e o coautor Saurya Das, da University of Lethbridge em Alberta, Canadá, mostraram em um artigo publicado na Physics Letters B que a singularidade do Big Bang pode ser resolvida por seu novo modelo em que o universo não tem princípio nem fim.”[2]

O problema aqui se refere justamente ao tipo de erro que pode acontecer quando alguém utiliza uma “ferramenta” inadequada ao problema, mencionado no início deste artigo. O físico Eduardo F. Lütz observa o seguinte: “Se usadas de forma pouco cuidadosa, as equações do modelo do Big Bang sugeririam que o universo teve início em uma singularidade, um estado de densidade infinita, em que toda a energia que o universo possui atualmente estava concentrada em um ponto. Tal noção, porém, é consequência de aplicar a Relatividade Geral fora de sua região de validade, isto é, antes do tempo de Planck, que marcaria o surgimento do tempo clássico. É um erro comum, porém bastante elementar, aplicar a Relatividade Geral fora de seus limites de validade conhecidos para obter uma conclusão como essa. Além disso, essa noção de que a energia total do universo já estaria presente ‘antes do tempo de Planck’ (como se esta expressão tivesse sentido) se baseia na lei da conservação de energia, que está ligada à simetria de translação temporal das leis físicas, simetria essa que só existe imediatamente após o início do tempo clássico. Em suma, toda a base usada para concluir-se que o modelo do Big Bang prevê uma singularidade inicial está equivocada.”

Seres humanos competentes podem se enganar e usar bons métodos que, contudo, podem não se aplicar ao problema em questão. Felizmente, a natureza e as ferramentas matemáticas estão aí para conferirmos quando quisermos. Mesmo que não seja viável, durante o curto tempo da vida humana, aprender tudo o que é necessário para se avaliar todas as coisas, podemos comparar todas as ideias com que entramos em contato com os conhecimentos fornecidos pelas duas revelações de Deus (a natureza e a Bíblia) da melhor forma que pudermos.


(Graça Lütz é bióloga e bioquímica)

Referências:
[1] ISIDRO PEREIRA, S. Dicionário grego-português e português-grego. Rua da Boavista, 591 – 4000 Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1969.
[2] ZYGA, L. No big bang? quantum equation predicts universe has no beginning. https://phys.org/news/2015-02-big-quantum-equation-universe.html 9 2 2015.