segunda-feira, junho 26, 2017

Teoria da Evolução vai deixar de ser ensinada na Turquia

A teoria da evolução vai deixar de ser lecionada na Turquia porque é um assunto controverso, passível de debate e demasiado complicado para os estudantes. A ideia foi defendida por Alpaslan Durmus, responsável pelo Conselho de Educação turco, num vídeo publicado no site do Ministério da Educação. “Acreditamos que o tema está além da compreensão deles [dos estudantes]”, afirmou.O responsável acrescentou que um capítulo sobre a evolução ia ser removido dos livros de Biologia do nono ano. Adicionalmente, outra mudança no currículo poderá envolver uma redução do tempo que os estudantes passam estudando o secularismo e aumentar o tempo de estudo da religião. A proposta foi apresentada em janeiro e levou Cagatay Tavsanoglu, presidente da Sociedade Turca de Ecologia e Biologia Evolucionária, a escrever um artigo na Nature, pedindo apoio à comunidade científica internacional para o tema voltar ao currículo nas escolas turcas.

“A estratégia proclamada pela Turquia de alcançar excelência nas ciências biológicas e médicas deve ser apoiada por um forte programa educacional em biologia evolucionária. O entendimento da teoria da evolução é crucial para resolver desafios contemporâneos, como a perda da biodiversidade. Os princípios evolucionários têm proporcionado avanços em muitos campos, como a agricultura, medicina, farmácia e nanotecnologia”, escreveu Tavsanoglu.

Muitos são os críticos dessa mudança, de acordo com o jorna britânico Guardian, que acusam o presidente da Turquia, Recep Erdogan [foto acima], de querer tornar a sociedade turca cada vez mais religiosa e islâmica. Essa agenda é contrária, defendem muitos, aos ideais do fundador da Turquia moderna, Mustafa Atatürk. Assim, o país afasta-se também de uma abordagem e de ideais mais ligados ao Ocidente e à Europa, para dar lugar ao estudo do que foi feito por cientistas turcos e muçulmanos, defendeu também o líder do Conselho de Educação.


Nota: Talvez os evolucionistas possam pensar que os criacionistas de todo o mundo vão comemorar uma notícia como essa, só que não. A Turquia tem orientação religiosa muçulmana, e nos países islâmicos teocráticos as coisas acontecem meio que “no cabresto”. Criacionistas cristãos, de modo geral, não assumem nem defendem esse tipo de postura. Na verdade, também de modo geral (pelo menos os adventistas pensam assim), defendem a total separação entre o Estado e a religião/igreja, um dos motivos pelos quais não concordam com o ensino do criacionismo em escolas públicas (o outro motivo é o despreparo da maioria dos professores, que mais fariam é “detonar” o criacionismo em lugar de ensinar adequadamente suas bases conceituais). O ideal seria um ensino crítico da teoria da evolução, destacando seus elementos científicos e filosóficos, deixando claro que muito do que é apresentado como científico não passa pelo crivo do método científico nem se encaixa no conceito correto de ciência, que se vale de métodos matemáticos para compreender a realidade (acompanhe esta série e clique aqui e aqui). 

Tavsanoglu, que defende a teoria da evolução, comete vários erros em sua fala. Primeiro, ele associa a busca da excelência em ciências biológicas e médicas ao ensino do evolucionismo. Nada mais falso. Basta ver quantas dissertações e quantas teses foram publicadas sobre os mecanismos da macroevolução biológica, por exemplo. O avanço da biologia não depende necessariamente da teoria da evolução, embora aspectos dela (que são científicos), como a seleção natural, sejam válidos e úteis. Pior é dizer que o desenvolvimento da medicina tenha relação com a teoria darwiniana. Por favor, leia o artigo “Por que a medicina ignora a teoria da evolução” e compreenderá o que quero dizer. 

Tavsanoglu diz ainda que “os princípios evolucionários têm proporcionado avanços em muitos campos, como a agricultura, medicina, farmácia e nanotecnologia”. No imaginário popular, o que fica é o seguinte: a vida surgiu naturalmente em um mar primitivo há bilhões de anos e foi se tornando mais e mais complexa, por si só, e, de alguma forma, isso é tão importante que levou até mesmo ao desenvolvimento de tecnologias avançadas e medicamentos úteis. Só que uma coisa não tem nada a ver com a outra, e essa ideia faz com que se tenha a impressão de que os criacionistas seriam contra a medicina, o desenvolvimento de remédios e a nanotecnologia. Isso é uma tremenda confusão, para não dizer injustiça! De fato, o computador foi inventado por um religioso, a genética, por um padre, e o método científico (além do cálculo) por homens profundamente devotos e crentes na Bíblia como a revelação de Deus.

A Turquia está errada em sua decisão arbitrária, mas também estão errados os argumentos dos que não querem que o evolucionismo seja eliminado das salas de aula. [MB]