Um
site de divulgação científica popular publicou recentemente a notícia de que
cientistas têm procurado localizar a “consciência do universo”. Sim, isso mesmo!
Como se o cosmos fosse uma entidade viva e consciente, compartilhando sua
suposta consciência com outros seres. A verdade é que os pesquisadores não
sabem sequer ao certo o que é a consciência, muito menos de onde ela vem. Esse
é um tema que tem ocupado a atenção de físicos, neurocientistas, psicólogos e
outros profissionais, e forçado os limites do materialismo que geralmente esses
cientistas dizem defender. Alguns chegam a descambar para o dualismo
corpo-mente, como se os pensamentos pertencessem a um mundo não físico, o que
beira o espiritualismo. A opção que vem ganhando terreno em alguns círculos
científicos é o pampsiquismo, segundo o qual todo o universo seria habitado
pela consciência, o que, nesse caso, se aproxima dos ensinamentos do budismo.
Para
o cientista e filósofo norte-americano John Archibald Wheeler, o fato de as
partículas não terem formato ou localização precisa até que sejam observadas ou
medidas (isso em mecânica quântica) revela um tipo de protoconsciência. Para Wheeler,
cada pedacinho de matéria contém um pouco de consciência absorvida desse campo
da tal protoconsciência, ideia que ele chama de Princípio Antrópico Participativo.
O
físico Gregory Matloff, da College of Technology de Nova York (EUA), disse à
NBC News que o pampsiquismo pode ser possível. Matloff concorda com o físico
teórico alemão Bernard Haisch segundo o qual a consciência seria produzida e
transmitida através do vácuo quântico. Para ele, qualquer sistema com
complexidade suficiente e que crie um certo nível de energia poderia gerar a
consciência a partir do nada.
Matloff
chegou a publicar um artigo na revista Journal
of Consciousness Exploration and Research no qual defende que as estrelas
teriam a capacidade de se orientar de forma consciente para ganhar velocidade,
e diz isso ao observar padrões de comportamento aparentemente lógicos. Matloff
também propõe que a teoria da protoconsciência poderia substituir a matéria escura
que, segundo os astrônomos, comporia cerca de 95% do universo, embora ainda não
tenha sido encontrada.
O
neurocientista Giulio Tononi, da Universidade de Wisconsin-Madison (EUA),
propõe uma ideia ainda mais esdrúxula, chamada Teoria da Informação Integrada. Para
ele, a consciência seria uma manifestação com localização física real, em algum
lugar no universo que ainda não foi encontrado. Segundo essa hipótese, esse
corpo misterioso e desconhecido poderia irradiar consciência da mesma forma que
o Sol irradia energia.
O
artigo termina mencionando, a título de exemplo, a inteligência artificial, que
já pode vencer seres humanos em muitas tarefas, mas não tem vontade própria. “Um
supercomputador capaz de alterar o mundo além das configurações que lhe foram
dadas pelos comandos do programador teria consciência.”
Os
cientistas (mesmo os materialistas) têm dificuldade para explicar em que
momento a consciência desperta na matéria pura e simples. Se o cérebro é apenas
um amontoado de átomos e moléculas, como explicar a existência de uma
consciência imaterial transcendente e que tão bem caracteriza os seres humanos?
Para evitar a conclusão óbvia de que existe algo ou alguém além da matéria e
que bem poderia ser o Deus bíblico, os cientistas “materialistas” começam a
flertar com o panteísmo e o budismo. Eles preferem apelar para ideias
escapistas sem qualquer evidência, como a de que haveria um local desconhecido
no Universo de onde a consciência emanaria como se fossem ondas
eletromagnéticas (!). Além disso, usam a inteligência artificial como exemplo
do que pode ser a emergência da consciência, mas deixam de falar que a
inteligência artificial foi criada por um ser inteligente e consciente. (1) Estrelas
revelam padrões e têm comportamentos ordenados porque teriam consciência ou (2)
por que foram criadas inteligentemente para se comportar assim? Optar pela
segunda proposta seria se aproximar demais daquilo que creem os criacionistas;
portanto, resta aos “materialistas” a opção número 1 – estrelas têm consciência.
Aqui
está o paradoxo: estrelas até podem agir conscientemente e o universo ser um
grande ser transcendental dotado de consciência, mas o criacionismo é uma
bobagem. Ideias como a de que as estrelas teriam consciência podem ser
defendidas nos campi seculares e até publicadas em revistas científicas e em
sites de divulgação científica, mas design
inteligente, dilúvio universal e complexidade irredutível, aí não! Isso é
religião. Assim caminha a chamada “ciência”.
O
astrofísico Eduardo Lütz considera impressionante o grau de misticismo que as
pessoas demonstram ter quando tratam desse assunto. “Qual é a dificuldade de
considerar a consciência como sendo uma manifestação especializada de
processamento de informações? Por que esse tipo de coisas não é óbvio para a
maioria das pessoas?”, pergunta ele. Lütz diz ter ficado chocado vendo até
físicos inventando ideias mirabolantemente místicas para explicar um assunto
sobre o qual já se tem considerável experiência técnica. “Tudo isso parece ser
ignorado nessas horas. Também não vejo por que tentar explicar a consciência
humana como funcionando via consciência divina. Deus, como designer da
consciência humana, está certo. Mas não que seja necessária qualquer coisa além
das leis físicas conhecidas para explicar a consciência”, diz o físico.
Parece
que estão tentando fugir do materialismo. Mas, para conciliar isso com o
naturalismo, algumas evidências da existência de Deus estão sendo interpretadas
como evidências de consciência por parte do universo. Nessas horas, é melhor
divinizar o cosmos e as estrelas do que deixar o Deus da Bíblia abrir a porta.
Michelson Borges