sábado, maio 03, 2008

Abiogênese: uma teoria em crise (parte 1)

“A vida ainda não foi compreendida por nenhuma teoria científica. Mesmo seres vivos mais simples, como as bactérias, possuem alto grau de complexidade e organização.” – José P. S. Lemos e Jaime F. Villas da Rocha, Departamento de Astrofísica, Observatório Nacional, CNPq.

“Houve um tempo em que não havia nenhum ser vivo sobre a face da Terra. Nenhuma planta, nenhum peixe, nenhum inseto, nenhuma ave. Nada...

“A bem da verdade, houve um tempo em que nem o nosso planeta sequer existia!

“A Terra nasceu há mais ou menos 4.600.000.000 (quatro bilhões e seiscentos milhões) de anos. Ela era uma imensa bola de fogo, com uma temperatura tão alta que destruiria qualquer ser vivo. A vida – dos micróbios aos homens, passando por dinossauros e baleias – só surgiria no transcorrer de muitos, muitos milhares de anos.”

Embora o texto acima seja difícil de “engolir”, é como o livro paradidático Origem e História da Vida, de Fernando Gewandsznajder e Ulysses Capozoli (Editora Ática) apresenta a origem da Terra e da vida (ver págs. 11 e 12). Na página 22, o relato é mais surpreendente, embora seja a forma mais aceita para o “surgimento” da vida:

“Relâmpagos e raios ultravioleta bombardeiam os gases da atmosfera. Esses gases se combinam e formam as substâncias de que são feitos os seres vivos. No mar, são produzidas novas substâncias. Surgem as primeiras células, parecidas com as bactérias. As células primitivas evoluem e originam aos poucos os outros seres vivos. Tudo isso levou mais de 3 bilhões de anos para acontecer.”

A idéia da geração espontânea é muito antiga. Existe desde os tempos de Aristóteles. De acordo com ela, a vida poderia surgir espontaneamente da matéria bruta, de forma corriqueira.

Algumas observações comuns pareciam reforçar essas idéias: por exemplo, sobre o lixo em decomposição aparecem larvas de insetos. Isso sugeria que as larvas tivessem “brotado” do lixo, já que não se conheciam detalhes a respeito da reprodução dos insetos. Girinos surgiam na água de uma poça, de um dia para o outro; isso parecia ser a prova de que eles tivessem se originado da lama da poça.

Para os adeptos dessas idéias, havia certas condições para que a geração espontânea acontecesse. Por exemplo, nem toda matéria bruta podia gerar vida. Era preciso que houvesse nela um “princípio ativo”, também chamado de “força vital”. O princípio ativo não seria uma substância, mas sim uma “capacidade”, a de gerar vida.

A teoria da geração espontânea é também chamada de abiogênese, o que quer dizer, mais ou menos, “gerar vida a partir da não-vida”. Esse termo é o oposto de biogênese, que significa “vida gerada por vida”.

“As idéias que compunham a abiogênese, por mais estranhas que nos pareçam, perduraram até meados do século passado, quando foram definitivamente derrubadas pelos trabalhos do francês Louis Pasteur.” [1]

Mas será que essas idéias foram derrubadas mesmo?

A questão-chave é a seguinte: como teria a vida surgido de matéria inanimada? Como elementos inorgânicos chegaram a ser seres vivos? Note o que dizem a esse respeito autores de livros didáticos de Ensino Médio:

“Embora tanto a hipótese heterotrófica [que diz que os primeiros seres vivos surgiram de matéria inorgânica e eram incapazes de produzir seu alimento] quanto a da geração espontânea admitam que a vida pode se originar de matéria bruta, existem diferenças importantes entre uma teoria e outra. A geração espontânea admite a transformação súbita da matéria bruta em vida relativamente complexa, a qualquer momento; a hipótese heterotrófica supõe uma evolução lenta da matéria inanimada em vida extremamente simples, sob as condições especiais da Terra primitiva.” [2] “Acredita-se que a vida poderia ter surgido de forma espontânea sobre nosso planeta, através da evolução química de moléculas não-vivas.” [3]

Se a única diferença está no tempo envolvido e no tipo de ser que surge pela evolução de matéria inanimada, para todos os efeitos, estamos tratando de geração espontânea. Por mais que queiram dar uma “roupagem” de ciência à teoria, é pura abiogênese. Pura suposição.

Antes de considerarmos as fragilidades de tal modelo, façamos um resumo de como pensam os autores da teoria abiogênica da vida.

Foram propostos quatro componentes essenciais para a origem da vida:

1. Uma atmosfera cheia de moléculas gasosas reduzidas e uma fonte de energia para converter essas moléculas em precursores biológicos necessários à vida.

2. Um oceano cheio de pequenas moléculas biológicas resultantes do item anterior.

3. Um mecanismo que gere, a partir desse oceano de moléculas, os polímeros (longas moléculas constituídas pela repetição de muitas unidades iguais ou semelhantes) ricos em informação necessários à formação da célula viva (DNA, RNA e proteínas).

4. A crença em que, se o passo número três for implementado, resultará, quase que inevitavelmente, na formação de uma célula viva.

A análise que se seguirá nas próximas postagens, de cada um dos pontos mencionados acima, foi feita por Arthur V. Chadwick, Ph.D, professor de Geologia e Biologia no Southwestern Adventist College, em palestra proferida no Segundo Encontro Nacional de Criacionistas, no Instituto Adventista de Ensino (SP), em 1996.

Referências:

1. César e Sezar. Biologia, Vol.1, pág.241 – Ed. Saraiva.
2. Wilson Roberto Paulino. Biologia Atual, Vol.1, págs.82 e 83 – Ed. Ática.
3. Cesar e Sezar. Biologia, Vol.1, pág.241 – Ed. Saraiva.


(Extraído do livro A História da Vida, de Michelson Borges)