O papa Bento 16 poderá ficar surpreso com o que deve encontrar ao chegar ao Brasil na próxima quarta-feira, afirma reportagem publicada nesta segunda-feira pelo diário The New York Times. O motivo, segundo o jornal norte-americano, é a resistência da Teologia da Libertação, já classificada no passado pelo então cardeal Joseph Ratzinger como “uma ameaça fundamental à fé da Igreja Católica”.
A reportagem observa que “no começo dos anos 1980, quando o papa João Paulo 2º queria frear o que considerava um movimento perigoso e de inspiração marxista na Igreja Católica, a Teologia da Libertação, ele se voltou a um aliado confiável: o cardeal Ratzinger”.
O jornal afirma que o movimento “permanece como uma força ativa e até mesmo desafiadora na América Latina, que abriga quase metade do um bilhão de católicos no mundo”.
“Nos últimos 25 anos, enquanto o Vaticano se movimentou para silenciar os clérigos teóricos da Teologia da Libertação e a Igreja fortaleceu sua hierarquia conservadora, os problemas sociais e econômicos que o movimento destacou pioraram”, observa a reportagem.
O jornal comenta que a onda de governos mais à esquerda na região também “contribuiu para dar à demanda do movimento de que a igreja abrace ‘uma opção preferencial pelos pobres’ um novo ímpeto e credibilidade”.
A reportagem relata que “hoje há cerca de 80 mil ‘comunidades de base’ operando no Brasil” e que “quase um milhão de ‘círculos da Bíblia’ se reúnem regularmente para ler e discutir as escrituras do ponto de vista da Teologia da Libertação”. ...
Outro problema que preocupa o Vaticano, segundo a reportagem, “é a diminuição do número de fiéis no Brasil, assim como no resto do continente, onde vivem cerca de 500 milhões de católicos”.
Já o americano The Washington Post destaca em sua edição desta segunda-feira a influência dos fiéis latino-americanos sobre a Igreja Católica nos Estados Unidos, que observa um crescimento da Renovação Carismática no país. ...
“Com um em cada cinco hispânicos tendo deixado a Igreja Católica nos últimos 25 anos, muitos deles para igrejas pentecostais, o novo movimento pode ser uma graça salvadora”, considera a reportagem.
(BBC Brasil)
Nota: Pelo jeito, em certos aspectos, pouca coisa mudou no catolicismo desde os anos 1980. No fim daquela década me envolvi profundamente com a Teologia da Libertação (tornei-me adventista somente em 1991). Participei juntamente com outros jovens das pastorais da Juventude e da Comunicação e sonhávamos com a "implantação do reino" por via política. Doces sonhos aqueles. Nossa grande luta, na verdade, era para tentar conciliar a verticalidade da religião (a busca de Deus) com a horizontalidade dela (o trabalho pelo semelhante). Alguns se perderam pelo caminho, dando mais ênfase a um aspecto em detrimento do outro. Ou se tornaram evangélicos ou carismáticos alienados; ou acabaram enveredando pelo marxismo ateísta e anacrônico. Mais de uma década e meia depois, vejo que a "luta continua"...[MB]
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