sexta-feira, maio 02, 2008

Mais um elo perdido (perdido)

“Parece incrível demais para ser verdade, mas isso não é um boato”, disse a revista Nature em outubro de 2004, em edição que dedicava a capa a uma das maiores histórias científicas dos últimos anos, a descoberta de uma nova espécie humana [sic], o Homo floresiensis.

Mas o esqueleto encontrado na ilha de Flores, na Indonésia, de um adulto com apenas um metro de altura apelidado carinhosamente de “hobbit”, em homenagem aos personagens de O senhor dos anéis, acaba de ser rebaixado.

O banho de água fria vem de artigo que será publicado esta semana pela Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas), escrito por um grupo de pesquisadores da Austrália, China, Estados Unidos e Indonésia.

De acordo com a nova análise, o esqueleto da caverna de Liang Bua pertenceu não a uma espécie nova, mas a um indivíduo que teria apresentado deformidades em seu desenvolvimento. O tal Homo floresiensis seria o próprio Homo sapiens e o tamanho reduzido do cérebro do indivíduo encontrado teria como causa simplesmente a microcefalia, um defeito no crescimento.

Pela interpretação feita em 2004, o Homo erectus teria chegado à ilha de Flores há cerca de 840 mil anos, vivendo em isolamento e evoluindo em uma espécie distinta do Homo sapiens. O esqueleto encontrado pertenceu a um indivíduo, provavelmente uma mulher, que viveu há cerca de 18 mil anos.

O novo estudo aponta que a avaliação inicial do esqueleto foi falha. Segundo os pesquisadores, um grave problema foi a comparação com exemplos de Homo sapiens que viveram em período similar, mas na Europa. O correto, afirmam, teria sido comparar com exemplos da mesma região, no caso, a Indonésia e a ilha de Flores.

“Nosso exame do material encontrado mostra que não há evidências morfológicas ou métricas adequadas para uma nova espécie. O indivíduo exibe uma combinação de características que não são primitivas, mas regionais, e não são únicas, mas encontradas em outras populações humanas modernas, particularmente algumas existentes em Flores”, escreveram os pesquisadores no artigo.

Nada menos do que 140 características encontradas no crânio reforçam a posição do indivíduo dentro das variações do homem moderno, “lembrando populações australomelasianas”, segundo os autores. Ou seja, nada de nova espécie, mas apenas um ancestral dos pigmeus que vivem atualmente na ilha.

(Da Agência FAPESP)